O guia do streaming no esporte, parte III

Rodrigo Romano
7 min readAug 14, 2018

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A série sobre o streaming no esporte chega ao terceiro episódio. Depois de contar como está a situação nos Estados Unidos, com seus quatro principais esportes e a MLS tentando evoluir, chegou a hora de observar o que acontece na Europa, mais precisamente no futebol europeu. As novas plataformas também desembarcar no velho continente, com acordos recentes envolvendo as principais ligas nacionais e a UEFA Champions League.

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No futebol da Europa existem alguns casos do uso de plataformas de streaming, tanto para eventos ao vivo, quanto para conteúdo on demand. A grande evolução do mercado de streaming no esporte europeu deve surgir na Inglaterra. A Premier League é um grande sucesso como liga de clubes (como abordamos neste texto aqui), principalmente na parte comercial. Ainda em 2017 se especulou sobre a entrada de Facebook e Amazon na disputa pelos direitos de transmissão da Premier League. Segundo um dirigente do Manchester United, as duas empresas mostraram interesse na negociação anterior, para os anos de 2016–2019. A Netflix também foi incluída nos boatos, mas rapidamente negou qualquer intenção de transmitir eventos ao vivo. A plataforma permanece com foco na produção de conteúdo independente. Já no primeiro trimestre de 2018 cinco dos sete pacotes de transmissão para o campeonato inglês foram vendidos para os canais Sky Sports e BT Sports, dessa vez para o período de 2019 até 2022. O valor total pago pelos dois canais foi de 4.64 bilhões de libras.

A oportunidade para as empresas de tecnologia estava nos outros dois pacotes que ainda restavam, que incluíam 40 jogos em horários de menor apelo comercial. Em junho a Amazon pôs fim as especulações e adquiriu um pacote de 20 partidas, marcadas para feriados e meios de semana, com transmissão exclusiva para Reino Unido e Irlanda. Os valores não foram divulgados pela Premier League. Esse não foi o primeiro acordo da Amazon na Inglaterra. A empresa já possui contrato com o Manchester City, pagando 8.5 milhões de euros para a produção de um documentário sobre os bastidores do clube, que vai estrear no Amazon Prime Video no dia 17 de agosto (confira o trailer abaixo). Ainda sobre conteúdo, a Netflix possui uma série sobre jogadores que ajudaram a elevar o campeonato para outro nível. Premier League Legends conta com depoimentos de Henry, van Nistelrooy, Juninho Paulista e mais 7 jogadores.

Manchester City na Amazon Prime.

Na Espanha as partidas da copa nacional, chamada de Copa del Rey foram transmitidas pelo Youtube em 2015, e pelo Facebook nas semifinais de 2017. Em relação ao primeiro, nem todos os jogos estavam disponíveis de forma gratuita, necessitando pagar pela partida ou pelo torneio todo. Quanto ao segundo, a transmissão foi feita para os cerca de 40 países onde não haveriam canais a cabo mostrando o jogo, como o Brasil. Ambas as iniciativas foram fruto da venda dos direitos de transmissão da Copa del Rey para a rede MediaPro, que, em parceria com LaLiga, procurou expandir o alcance internacional da competição. Notando o crescimento do mercado, um novo acordo com o Facebook foi firmado em 2018, dessa vez para as partidas da primeira divisão. Os jogos que acontecem na sexta-feira são mostrados de forma gratuita, para que todo o torcedor consiga acompanhar o campeonato. A partir de 2019 o número de partidas mostradas ao vivo via streaming deve crescer. A Amazon já sinalizou que irá participar das negociações do novo contrato de transmissão, para as temporadas de 2019–2022, com a possibilidade de uma parceria com empresas locais de audiovisual.

No início de 2018 a LaLiga criou um canal próprio de streaming, o LaLiga4Sports. Seu objetivo é trazer o público de outros esportes para o futebol. O primeiro passo foi dado através do handebol, cuja temporada do campeonato local será transmitida via plataforma. É o início de uma iniciativa que ajuda o órgão que gerencia o campeonato espanhol a observar melhor o comportamento dos fãs de esporte e suas preferências. A partir desse conhecimento, ações podem ser realizadas para que se beneficie todos os agentes que formam o esporte na Espanha.

Quando o assunto é a produção de conteúdo on demand, a MediaPro aparece novamente, em parceria com a Amazon. A série “Six Dreams” vai ser a primeira série em língua espanhola original da Amazon Prime e acompanha a temporada de seis participantes de LaLiga, incluindo jogadores, técnicos e dirigentes. A ideia é mostrar aos fãs a liga de uma maneira inédita, incluindo um lado humano do esporte que muitas vezes é deixado de lado por quem acompanha. Nota-se que a Amazon pretende aumentar seu público na Espanha e o esporte é a oportunidade ideal para isso.

LaLiga4Sports: a plataforma do futebol para outros esportes.

A Alemanha segue um caminho semelhante ao da Espanha, com pequenos acordos. Para a temporada 2017–18 houve uma parceria entre o canal Eurosport e a Amazon, transmitindo cerca de 30 jogos do campeonato, com a cobrança adicional para os assinantes da plataforma de streaming. Enquanto isso, a DFL, liga de clubes do país, comercializa a transmissão de seu campeonato com mercados menores. Para os Estados Unidos, a transmissão é via FOX, que conta com o aplicativo FOX Sports GO. Para a Polônia, foi definida uma parceria com a Eleven Sports, e a transmissão ocorre via Facebook. Já o mercado nórdico, que inclui Dinamarca, Finlândia, Noruega, Romênia e Suécia, recebe os jogos pela plataforma Laola1.tv. Esta iniciativa surgiu de um acordo com a Sportradar, empresa multinacional da Suíça que trabalha com a coleta e análise de dados esportivos mencionada na parte I. O objetivo destes acordos é criar relevância para a Bundesliga em mercados menores, atraindo fãs e patrocinadores.

Na Itália, a Juventus já possui uma parceira para a produção de conteúdo com a Netflix. Desde fevereiro já é possível conferir a série “Prima Squadra: Juventus FC”, que traz os bastidores do clube italiano em três episódios com duração de cerca de uma hora. Em julho foi lançada a segunda temporada, com mais três episódios, que relatam a eliminação do time na Champions League.

Com relação aos eventos ao vivo, é possível acompanhar o campeonato italiano através da plataforma “Serie A TIM TV”, serviço semelhante ao que existe no mercado americano, detalhado na parte II. Além das partidas ao vivo, é possível observar o que acontece antes e depois dos jogos, comentários e lances de temporadas antigas. No aplicativo para celular da plataforma ainda são disponibilizadas estatísticas do que ocorre dentro de campo. Mais recentemente, um novo player entrou no mercado. A DAZN, plataforma de streaming do grupo Perform já disponível em Alemanha, Áustria, Suiça, Japão e Canadá, adquiriu os direitos de transmissão de algumas partidas do campeonato para as próximas três temporadas. Serão 114 jogos por ano, com a assinatura do pacote custando 9,99 euros por mês para o torcedor. A entrada tardia de empresas da área na Itália se deve ao fato da qualidade do sinal de internet no país não garantir uma transmissão de acordo com o esperado pelo público.

Hora de falar de UEFA Champions League

O maior torneio de clubes do mundo será o último assunto abordado neste capítulo. A UEFA Champions League é vista em todos os cantos do planeta, deixando a impressão de que atingiu o máximo possível em relação ao mercado esportivo. No entanto, a UEFA também está em busca de novos consumidores para seu principal produto e duas ações podem comprovar este fato. A primeira foi o acordo entre Fox Sports e Facebook para a transmissão de partidas da edição 2017–18 do torneio nos Estados Unidos. Foram transmitidos alguns jogos da primeira fase, oitavas de final e semifinal, pela plataforma Facebook Live. Para não perder o público mais conservador, a Fox continuou exibindo as partidas para os assinantes do pacote de televisão. A outra é a divisão dos direitos de transmissão em pacotes, como feito na Premier League. Isso possibilita que novos players entrem no mercado, mesmo que adquirindo a possibilidade de transmitir poucas partidas. A partir desta abertura, o Facebook adquiriu os direitos para a transmitir o torneio para o Brasil, no pacote equivalente a televisão aberta, que pertencia a Rede Globo até a temporada 2017–2018. Além disso, com o fim do Esporte Interativo como canal de televisão, o Facebook da empresa servirá para transmitir algumas partidas.

As ligas estão buscando por novos torcedores e patrocinadores e o streaming é uma possibilidade de alcançar fãs em mercados como a Ásia e os Estados Unidos. A competição que não for assistida por todos vai perder valor e ficar para trás em relação as outras. Como o Premier League está na frente no aspecto comercial, as outras principais ligas precisam incluir serviços o quanto antes para conseguir competir em termos de visibilidade. Espanha e Alemanha vem fazendo isso bem, com acordos com a Amazon e Facebook. A Itália evolui aos poucos, com o acordo mais recente para as transmissões de suas partidas. Na última parte deste especial vamos descobrir se a América do Sul está parada no tempo ou também avança no streaming.

Texto de Rodrigo Romano.

Volte para a parte II ou siga para a IV.

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Rodrigo Romano

Head de Operações FootHub — Gestão e inovação no esporte