A curadoria de conhecimento transformou minha forma de aprender… e talvez possa transformar a sua também

Marcelo Vieira
5 min readJan 23, 2023

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Photo by Jonathan Borba on Unsplash

Este texto faz parte da coletânea Um método para fazer curadoria de conhecimento — que inclui um template gratuito para o Notion e um guia completo de como utilizá-lo.

Sou uma pessoa curiosa por natureza — adoro me perder na passagem do tempo enquanto mergulho em algum assunto que me interessa. Foi assim, por exemplo, que aprendi sozinho como criar e publicar sites na internet, ainda em 1998 (tive, inclusive, um site premiado dedicado ao meu jogo de simulador de corridas favorito da época).

Esse entusiasmo por explorar novos assuntos é uma das minhas marcas. Mas, essa característica tem uma armadilha associada — e eu demorei pra perceber que estava caindo nela repetidamente. Por não ter preguiça de pesquisar, eu nunca me preocupei em como organizar, filtrar, processar ou cuidar dessas informações.

Meu jeito de operar sempre foi o seguinte: quando surge uma necessidade em que eu precise aprender algo novo, vou atrás do conhecimento, aplico o que aprendi para resolver o problema, e depois descarto todas as informações que acessei no processo. Afinal, se eu já consegui a resposta pra minha necessidade, por que dar atenção ao que aconteceu no intervalo entre o problema e a solução?

Seguir este script sempre me pareceu prático e efetivo… até eu começar a perceber que era bem comum eu precisar novamente daquela pesquisa que já tinha feito uma vez, daquele vídeo que queria indicar a uma pessoa, daquela frase que ia caber perfeitamente na apresentação que estava preparando… e aí, cadê?

Por muito tempo fui bastante duro comigo por não conseguir acessar de forma fácil conhecimentos que eu já tinha buscado alguma vez na vida. Pra piorar, minha memória não é muito boa (eu esqueço o final de quase todos os filmes que assisto!), então nunca cogitei contar com ela. Sempre admirei aquelas pessoas que têm citações, autores e referências na ponta da língua, e já tinha até aceitado que talvez isso só seria possível para quem tem dons que eu não possuo.

Até que tive contato com o conceito de curadoria de conhecimento durante minha formação Masters of Learning Academy, ainda no início de 2022. E foi paixão à primeira vista ❤. Daquelas que me energizaram em mergulhar no assunto e me fizeram por várias vezes perder a noção do tempo enquanto estudava.

Aprender sobre curadoria transformou minha relação com o conhecimento.

Mas, afinal, o que é essa tal de curadoria que me encantou tanto?

Sem aprofundar muito em como a curadoria acompanhou a História da Humanidade (estou estudando sobre isso e pretendo publicar um texto em breve) a origem da palavra vem do latim "curare", que significa cuidar. Na Roma Antiga, os curadores eram servidores experientes que tomavam conta da infraestrutura das cidades. Na época medieval, o papel de curador ficava encarregado de preservar e curar almas. Nos tempos modernos, a associação mais comumente feita é com os universos da cultura e artes: encontraremos pessoas curadoras em museus, galerias, livrarias, orquestras.

Desde o início dos meus estudos venho colecionando definições de curadoria de conhecimento. Elas, junto com a minha prática, me levaram a uma definição autoral, que é a seguinte:

Curadoria de conhecimento é a arte de colecionar, filtrar e processar conteúdos criados por outras pessoas, e na sequência oferecer um ponto de vista autêntico do tema a quem possa se interessar — Marcelo Vieira

Detalhando um pouco mais essa definição:

  • Curadoria é uma arte — existem muitas formas possíveis de cuidar do conhecimento. Você pode, partindo de algum método ou definição que goste, criar seu jeito próprio de fazê-lo.
  • É sobre colecionar, filtrar e processar conhecimentos já produzidos — aprender com o que já foi criado sobre o assunto é um sinal de respeito e humildade.
  • É ofertar de volta — acho que essa foi minha grande nova descoberta ao estudar curadoria: independentemente do método usado, uma curadoria só pode ser assim chamada quando o produto do seu estudo é compartilhado de volta com o mundo.
  • É dar o seu toque personalizado a um conhecimento — pensamentos do tipo “não há mais nada a ser dito sobre tal assunto”, que tanto já me bloquearam de produzir conteúdos, não fazem sentido. Sempre vai ter o que ser dito, porque cada contexto curador é único.

Pare de ficar procurando novos tópicos e ideias originais. Você não precisa dizer algo completamente novo. Apenas diga algo verdadeiro, de um jeito que as pessoas consigam captar (tradução livre deste texto do Nic Janz).

Algo comum em todas as definições de curadoria com as quais tive contato é que ela não se resume a uma atividade pontual. É, na verdade, um processo com algumas etapas (o número de etapas varia com o método escolhido — um método bastante simples e que eu adotei foi esse do Harold Jarche).

E, por que a curadoria transformou minha forma de aprender?

Tomar consciência de que existe um processo embutido na arte de coletar, absorver e aplicar conhecimento jogou luz em algo que até então eu ignorava completamente, mesmo sentindo as consequências (como retrabalhos ou frustrações que já citei anteriormente).

Ao começar a praticar formas diferentes de selecionar, guardar, filtrar, categorizar, processar, recombinar, e compartilhar conhecimento, ficou mais fácil resgatar informação, enriquecer minhas fontes, embasar opiniões, ter ideias, escrever… Passei também a usar de forma mais inteligente ferramentas como o Notion e agregadores de notícias. E também consegui valorizar ainda mais o poder das curadorias realizadas em grupo (seja em comunidades ou redes sociais).

Ainda me sinto muito mais aprendiz que mestre no assunto — afinal, nem completei 1 ano de prática. Mas os benefícios de adotar com intencionalidade um processo para lidar com o conhecimento já são tão nítidos que resolvi compartilhar — e, quem sabe, provocar uma faísca para que você também transforme a sua forma de lidar com o conhecimento.

Se a faísca se transformar em chama e ação, não deixa de dividir comigo o seu processo. Tenho um interesse genuíno em me conectar com você e aprender com o seu contexto e jornada.

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Marcelo Vieira

Orientador de carreira, profissional e pesquisador em desenvolvimento humano, engenheiro