Parte #3 — Liderança técnica: desenvolvendo pessoas

Dani Araujo
6 min readNov 5, 2018

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Esse texto é parte de uma série sobre liderança técnica. Abaixo você encontra a lista de todos os artigos que a compõe:

Lembre-se: todas as informações compartilhadas aqui fazem parte da minha jornada pessoal como líder técnica. Existem várias maneiras de exercer o papel e, portanto, outras pessoas podem ser bem sucedidas trilhando caminhos diferentes.

Um livro em formato de regador despeja um líquido sobre uma planta que nasce de dentro da cabeça de uma mulher. Ela é negra, tem cabelos pretos, crespos e volumosos. Originalmente ilustrado por Dooder / Freepik

No primeiro artigo desta série (Parte #1 — Liderança técnica: quando, como e por quê?) mencionei três aspectos fundamentais nos quais eu baseio minha atuação como líder técnica: pessoas, negócio e tecnologia. Neste texto eu vou focar principalmente em ações que considero importantes para colaborar com o crescimento de pessoas desenvolvedoras. Isso porque eu entendo que o relacionamento a ser construído com pessoas de negócio, por exemplo, é distinto, principalmente no que diz respeito a desenvolvimento técnico, mentoria e coaching.

De uma forma geral, relacionar-se com pessoas pode ser uma tarefa muito desafiadora, mas na minha opinião não há nada mais gratificante do que acompanhar o crescimento de cada uma e colaborar de alguma maneira para que ele aconteça.

Como líder técnica você vai precisar estreitar relacionamentos com muita gente, mas eu recomendo dar a atenção especial às pessoas desenvolvedoras. Elas são suas maiores aliadas. Capacitá-las (seja em termos técnicos ou não) vai fazer com que você não se sinta sobrecarregada na maior parte do tempo.

Empodere o time

Quando você assume este papel sua missão se torna ajudar a criar um time autônomo e de alta performance. Empoderar cada integrante da equipe é a maneira mais eficaz de fazer isso, mas na prática pode não ser tão simples, pois tudo muda de pessoa para pessoa e de acordo com os níveis de conhecimento e motivação de cada uma. Aqui vão algumas dicas que tem me ajudado:

Incentive discussões saudáveis

Incentivar discussões saudáveis pode ser uma excelente maneira de engajar as pessoas. Geralmente nos sentimos mais conectadas e motivadas quando participamos da tomada de decisão ou construimos juntas um objetivo em comum.

Não traga respostas prontas, faça as perguntas certas

Ajudar as pessoas a chegarem a uma determinada conclusão juntas pode ser mais positivo do que tentar dar respostas, então, quando tiver tempo e espaço, aproveite para fazer questionamentos que as façam refletir. Não esqueça que a construção coletiva tem tudo para resultar em uma solução melhor do que aquela pensada por um único indivíduo.

Designe feature leads

Outra prática que pode ser interessante é a introdução de feature leads: pessoas que vão compartilhar o trabalho de liderança técnica em uma feature específica. Podendo, por exemplo, participar de reuniões e conduzir a visão técnica dessa parte do produto. Isso desonera você e gera senso de propriedade. Além disso, essa pode ser uma ferramenta interessante para preparar e identificar possíveis sucessoras.

Quer saber mais sobre feature leads? Leia Feature leads in agile teams (em inglês).

Identifique pontos fortes e fracos: ajude a desenvolver ambos

Cada pessoa tem um conjunto de habilidades onde possuem uma maior aptidão. E outro onde apresentam mais dificuldades. Existe uma tendência de que estes extremos identifiquem gostos e afinidades. E, na minha opinião, ambos devem ser trabalhados, mas em graus diferentes. Para os pontos fortes acho interessante buscar a excelência e transformá-los em diferencial, enquanto pontos fracos precisam ser cuidados para que não se tornem um empecilho.

Incentive a prática de feedbacks

Feedbacks são uma ótima maneira de fazer com que o time siga evoluindo. Incentive cada integrante a buscar e dar feedbacks. Eles serão importantes tanto para o crescimento individual quanto para o coletivo.

Quer estudar mais sobre o assunto? Consulte esta série sobre feedbacks (em português).

Lidere por exemplo

Você não vai conseguir fazer nada se não tiver a confiança do time. Liderar por exemplo pode ser uma ótima alternativa para buscar isso e inspirar as pessoas a seguirem os seus passos. Afinal, uma boa líder é aquela que as pessoas seguem e não aquela que elas temem. Seja o exemplo a ser seguido. Mas atenção: isso não quer dizer que você não pode errar. Falhar faz parte do nosso caminho de crescimento e aprendizado. Quando acontecer, admita o erro, conte com o apoio do time, busquem uma solução juntas e sigam em frente. Você não está sozinha e é preciso mostrar para as pessoas que ela também não estão.

Coloque as mãos na massa

Uma boa liderança técnica demonstra através de suas atitudes o que espera de cada pessoa desenvolvedora. Então, coloque as mãos na massa e assuma responsabilidades. De forma nenhuma utilize o papel como um pedestal, você está trabalhando com iguais.

Não faça microgerenciamento

Tentar acompanhar cada coisa que acontece no time pode ser tentador (principalmente se você está começando neste papel), mas vai te levar à loucura. Não faça microgerenciamento. Permita que o time trabalhe e se desenvolva.

Seja responsável pelo que você diz

Você vai ganhar visibilidade. Mais pessoas estarão te observando e algumas vão te seguir, então atenção para as coisas que você diz, pois elas podem influenciar positivamente ou não.

Inspire e compartilhe

Não tenha medo de ser superada. Trocar experiências, conhecimentos e aprendizados são essenciais para o crescimento do time e tenho certeza que fazer parte disso vai te deixar orgulhosa.

Mantenha conversas regulares

Tenha conversas regulares com todas as pessoas da equipe. Recomendo uma cadência quinzenal, mas deixe o espaço aberto para que elas lhe procurem sempre que precisarem. O diálogo não deve se restringir a esses momentos. E não se preocupe se não tiver uma pauta específica: converse assim mesmo. Deixar a pessoa livre pra falar pode ser uma forma de estreitar o relacionamento e fazê-la se sentir mais à vontade com você.

Exerça empatia

Tente se colocar no lugar de cada uma e procure entender as razões pelas quais as pessoas tomam determinadas decisões e atitudes. O que faz sentido para você pode não servir para outras pessoas. Respeite.

Pratique escuta ativa

Escute ativamente e entenda que às vezes as pessoas só querem ter a oportunidade de desabafar. Saiba distinguir os momentos onde você precisa simplesmente ouvir daqueles em que você precisa tomar uma ação.

Alinhe expectativas

Aproveite essas instâncias para comunicar o que vocês esperam uma da outra. Ter expectativas bem alinhadas é o primeiro passo para evitar frustrações e desentendimentos.

Seja transparente

Às vezes vai ser necessário ter conversas duras e difíceis. Seja transparente, mas tome o cuidado necessário para não machucar as pessoas gratuitamente.

E sobretudo, delegue!

Você não pode fazer tudo sozinha e seguir essa prática não vai te ajudar a criar um time autônomo, então… delegue. Mas faça isso com consciência. Saber delegar não é simplesmente designar responsáveis. Cada uma está em um nível de maturidade distinto. Portanto, antes de sair atribuindo atividades, dedique um tempo para conhecer as pessoas, entender o nível de conhecimento técnico e o momento pelo qual estão passando.

No texto Delegar: uma excelente ferramenta para empoderar pessoas eu compartilhei algumas dicas que podem ser úteis na hora de delegar efetivamente.

Algumas líderes estão tão focadas no entorno que muitas vezes acabam se deixando de lado. Isso é um erro pois pode levar à defasagem técnica, além de ser um péssimo exemplo para o time. Por isso resolvi dedicar um texto dessa série ao autodesenvolvimento. Também irei explorar algumas questões que considero saudáveis no nosso relacionamento com tecnologia.

Até o próximo texto.

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