Estranhas Aventuras

Crítica de HQ

Danilo Téo
4 min readMar 5, 2023

intro

Em mais um título do selo Black Label da DC Comics, a dupla Tom King e Mitch Gerads retornam, desta vez acompanhados por Evan Shaner para lançar uma perspectiva mais madura sobre um outro personagem clássico da editora.

Para quem não conhece, Adam Strange é um personagem criado por Julius Schwartz e Murphy Anderson na década de 1950 para inserir um novo personagem para histórias de sci-fi da DC. Desde então o homem de dois mundos já foi escrito e ilustrado por grandes nomes do quadrinhos, mas estava meio sumido nos últimos anos.

história

Duas partes de uma mesma história são contadas concomitantemente em Estranhas Aventuras. Uma delas nos mostra o conflito em Rann e como Adam teve que ajudar sua esposa , Alanna, a unir os povos do planeta para lutar contra os invasores Pykkts. A outra mostra Adam, na Terra, se tornando uma celebridade após ele e a esposa publicarem um livro sobre o conflito em Rann.

Eventualmente um homem enfurecido aparece em uma das sessões de autógrafo de Adam acusando-o de crimes de guerra contra os Pykkts. Adam e Alanna optam por esquecer o evento até que vem a notícia de que este mesmo homem foi encontrado morto com ferimentos remetendo à arma laser de Adam. É então que Strange decide recrutar Batman para levantar as evidências necessárias para inocentá-lo. O homem morcego, contudo, vê Adam como amigo e colega da LJA e por isso decide recrutar outra pessoa, o Sr. Incrível, para trazer a verdade à tona de forma objetiva e imparcial.

roteiro

Mais uma vez venho falar de Tom King explorando um personagem esquecido do panteão da DC — e não vai ser a última. Em contraste com a narrativa introspectiva de Senhor Milagre, King dessa vez nos conta uma história de mistério sobre o que Strange e Alanna realmente fizeram na guerra em Rann. Logo de cara o que merece mais louvor foi como o autor conseguiu ao mesmo tempo mostrar a história da investigação, da perspectiva do Sr. Incrível, e a história da guerra, da perspectiva de Adam, revelando os mesmos segredos em ambas as frentes quase que simultaneamente. A progressão da narrativa é projetada para que o leitor sempre se sinta como se estivesse prestes a ter a grande revelação, construindo a tensão entre as personagens gradualmente ao longo dos capítulos, se aproveitando dos cortes entre os enredos para manter o suspense.

Gostei bastante também da temática de imagem vs. realidade que pode ser encontrada na história. E a personagem em que esse tema fica mais evidente é Alanna que, em ambas as histórias, age como uma agente publicitária para o marido. Sempre propagando a imagem do “herói de Rann”, polindo a realidade de toda e qualquer ação de Strange para mantê-la. E quando ela decide por desmantelar essa imagem, o leitor tem momentos magníficos.

arte

Comentei um pouco do trabalho do Mitch Gerads no meu texto sobre Senhor Milagre e todas as qualidade da arte dele são repetidas nesta obra com a grande vantagem de não estar limitado ao formato de nove quadros por página. Novamente, a colorização é o aspecto do trabalho do artista que mais me atrai. Dessa vez menos pelo papel simbólico e mais pelo impacto da iluminação das cenas. A página em que o Flash está percorrendo Phoenix durante o ataque Pykkt é chocante, com fachos de relâmpago refletindo nas entranhas da cidade devastada. Achei muito interessante, também, o uso apenas da cor azul para um cena com o Sr. Incrível, refletindo a calma do personagem apesar de ter armas apontadas contra si na calada da noite.

Esse foi meu primeiro contato com arte de Evan “Doc” Shaner e não fiquei desapontado. Gosto como as cenas retratadas com a arte mais “limpa” de Shaner — em comparação com a de Gerads — progressivamente retratam cenas mais e mais violentas conforme descobrimos como a guerra em Rann se desenrolou. As expressões das personagens bem como seus figurinos e adornos também retratam de forma excelente a fadiga do longo conflito. A colorização do artista também não é nada de se torcer o nariz, especialmente na sequência em que Adam é torturado.

conclusão

Estranhas Aventuras traz um mistério instigante em um ambiente de ficção científica e guerra. É uma leitura prazerosa para qualquer fã de histórias de detetive que conta com uma reflexão relevante na nossa atualidade sobre quem realmente somos em contraste com a imagem que propagamos aos outros.

--

--