20 pessoas indígenas para conhecer — parte 2

Anahata
8 min readFeb 11, 2020

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Ano passado, em honra ao Dia Nacional da Consciência Indígena, compilei uma lista de 20 pessoas, entre cantores, artistas, ativistas e lideranças.

Em 2020 decidi continuar a iniciativa #20DiasDeConsciênciaIndígena.

01 — Sandra Benites

Guarani da aldeia Porto Lindo (MS), trabalhou como agente de saúde da sua aldeia e retomou os estudos convencionais para se especializar em magistério indígena, no curso de Licenciatura Intercultural da UFSC. Sandra hoje é doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ mês passado, Sandra se tornou a primeira mulher indígena a ser curadora de artes do MASP. Sua presença será crucial para o projeto Histórias Indígenas, que acontecerá em 2021.

02 — Ziel Karapotó

Nascido na comunidade Terra Nova (AL), trabalha no campo das artes visuais, performance e instalação e acredita na arte indígena como resistência anti-colonial.

Ziel é diretor do filme “O verbo se fez carne”, que em 2019 recebeu prêmios dos júris oficiais do 18º NOIA — Festival do Audiovisual Universitário e do Recifest, além de menção honrosa neste último. Veja mais do trabalho dele aqui.

03 — Nelson D

Manauara, o DJ e produtor cresceu na Itália. Adotado em sua infâcia por um casal italiano, sua alcunha artística faz menção ao nome que tinha ainda no orfanato (Nelson) e ao que recebeu dos pais (Davide). Nelson já produziu Tássia Reis, Glória Groove e Danna Lisboa, mas hoje o foco é seu próprio material enquanto artista indígena contemporâneo. Em novembro de 2019, foi um dos laureados no I Prêmio Galdino de Música Indígena, no Yby Festival (SP).

04 — Emerson Munduruku

Biólogo, mestre em ecologia, já trabalhou como arte-educador em comunidades ribeirinhas do Amazonas. É também Uýra Sodoma, drag queen que performa para sensibilizar as pessoas para a defesa da natureza e da sustentabilidade

Uýra nasceu em Manaus, como resposta à agressão que Emerson sofreu por ser homossexual. segundo Emerson, “Uýra é uma entidade do mato, em carne de bicha e planta.”

05 — Julie Dorrico

Doutoranda em teoria da literatura pela PUC-RS, a rondoniense é pesquisadora na área de literatura indígena contemporânea e autobiografia indígena.

Julie participou da organização do livro “Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção” e seu livro “Eu sou Macuxi e outras histórias” foi vencedor do Prêmio Fundação Nacional do Livro Infanto-juvenil Tamoios 2019.

06 — Daniel Munduruku

Nascido em Belém (PA), é formado em filosofia e doutor em educação pela USP. É diretor do Instituto UK’A — Casa de Saberes Ancestrais, que difunde a cultura indígena através de eventos e cursos literários.

Daniel também é autor de mais de 50 livros infanto-juvenis e para educadores, tendo recebido prêmios como o Jabuti, o da Academia Brasileira de Letras e o Tolerância (outorgado pela UNESCO). É membro fundador da Academia de Letras de Lorena.

07 — Graça Graúna

Potiguara, de São José do Campestre (RN), Graça é formada em Letras e é doutora em literatura indígena contemporânea no Brasil, ambas pela UFPE. “Canto Mestizo”, “Tessituras da Terra” e “Tear da Palavra” são alguns dos livros de sua autoria.

Graça coordenou o Curso de Especialização para Formação de Professores Indígenas de Pernambuco (UPE — campus Garanhuns) e também colaborou para revistas como Arte e Palavra (Sergipe), Suplemento Literário do Minas (BH) e o Jornal de Letras (Lisboa).

08 — Bia Pankararu

Bia, natural de Tacaratu (PE), filha de mãe indígena e pai não-indígena, passou parte da vida entre São Paulo (SP) e a aldeia de pernambuco. Bissexual e mãe solo, também é técnica em enfermagem e militante na área da saúde indígena.

Atuante nas tradições do seu povo, Bia trabalha com uma equipe multidisciplinar de saúde indígena e com o entendimento popular de saúde. Em entrevista para a revista AzMina, ela fala um pouco sobre as demandas do seu povo.

09 — Raoni Metuktire

Líder Kayapó, há décadas é figura proeminente na mídia em luta pela preservação ambiental e direitos dos povos indígenas. Raoni já era opositor do projeto Belo Monte desde os anos 80 e também se opôs ao governo do PT (Lula e Dilma) por levá-lo adiante.

Indicado ao Nobel da Paz em 2019, teve sua trajetória registrada nos anos 70, no documentário intitulado “Raoni”, que fez sucesso em Cannes e o colocou como ícone do ativismo ambiental no Brasil.

10 — Tuyra Kaiapó

Nos anos 80, em uma audiência pública em Altamira (PA) sobre a construção de Belo Monte, Tuyra protestou colocando um terçado no pescoço de José Muniz de Lopes, então presidente da Eletronorte. O projeto passaria dentro da reserva Kayapó e a foto se tornou famosa.

Em 2019, um dos momentos marcantes do Acampamento Terra Livre foi quando Tuyra respondeu diretamente à defesa da exploração de Terras Indígenas feita pelo deputado José Medeiros (Pode-MT). Assista aqui.

11 — Cristino Wapichana

Escritor, músico e compositor, é conhecido por sua contação de histórias. Atuou como coordenador do NEARIN (Núcleo de Escritores e Artistas Indígenas) e como membro do Instituto UK’A (Casa de Saberes Ancestrais).

Com 7 livros lançados, Cristino já foi o terceiro colocado no Jabuti, na categoria livro infantil, e recebeu a Estrela de Prata no prêmio sueco Peter Pan, ambos com o livro A Boca da Noite.

12 — We’e’ena Tikuna

Nutricionista, artista plástica e cantora, We’e’ena é divulgadora dos saberes e cultura Tikuna, tal qual sua irmã, Djuena. Seu primeiro álbum se chama “Encanto indígena”.

Em 2019, We’e’ena lançou a primeira marca de roupa indígena contemporânea desenhada e projetada por uma nativa. A marca nasce da necessidade de usar os grafismos na cidade, onde usá-lo no corpo nem sempre possível

Mais do seu trabalho aqui.

13 — Tamikuã Txihi Pataxó

Moradora da aldeia Guarani Itakupe no Jaraguá, Tamikuã se formou em serviço social. Liderança da Itakupe, é também artista plástica, produz artesanatos e é uma das articuladoras do feminismo comunitário no Brasil.

Em 2019, as obras de Tamikuã (e a de colegas artistas indígenas e outras minorias) foram destruídas durante uma mostra em Embu das Artes, em ataque com motivações racistas.

No encerramento, ela, a única mulher indígena concorrendo em sua categoria, recebeu Troféu M’Bai Profissional 2019.

14 — Ajuricaba

Imagem ilustrativa

Líder dos Manaós, é um símbolo da resistência indígena contra a coroa portuguesa em Manaus (AM). Seu povo não confiava nos invasores e Ajuricaba conseguiu congregar outros povos com o objetivo de combatê-los.

A confederação feita por Ajuricaba resistiu por oito anos. Ao ser capturado pelos portugueses, ele foi acorrentado e seria enviado para Belém (então capital do Grão-Pará), mas Ajuricaba preferiu a morte, jogando-se no rio Amazonas.

Uma curiosidade: em 2019, na comemoração do aniversário da cidade, Ajuricaba foi escolhido numa votação popular como a “personalidade que é a cara de Manaus”.

15 — Auritha Tabajara

Nordestina e lésbica, Auritha é reconhecida como a primeira mulher indígena cordelista. Professora, escritora, poeta, contadora de histórias, e cordelista, Auritha já lançou três livros.“Magistério Indígena em versos e poesia” é leitura obrigatória nas escolas indígenas do Ceará, seu estado de origem.

Além dos cordeis “Toda luta, a história e a tradição de um povo”, sobre as tradições dos Tabajara, e “Coração na aldeia e pés no mundo”.

16 — Graciela Santos (Yaci)

Arqueira, da etnia Karapanã, Graziela se tornou a primeira indígena a representar o Brasil no Jogos Panamericanos (2019) e é promessa para os Jogos Olímpicos (2020)

Ano passado, em Lima a equipe da Graziela conquistou o 4º. Ela despontou como atleta através do Projeto Arquearia Indígena, que visa valorizar a cultura e da identidade dos povos indígenas do Amazonas.

17 — Mendes Auá

Mestranda em design pela UFAM, a grafiteira/pixadora não-binária Mendes usa as artes plásticas para representar corpos indígenas travestis, corpos negros e outros que estão à margem na sociedade.

As produções da artista podem ser vistas nos muros de Manaus e na sua conta do Instagram.

18 — Eunice Baía

Conhecida nacionalmente após interpretar a protagonista da franquia “Tainá”, no início dos anos 2000, Eunice se formou em moda e pretende lançar sua própria linha de roupas e acessórios, focada em artes indígenas.

Ela já possui a marca OKA, cuja proposta é valorizar suas raízes paraenses, onde divulga também as exposições de que participa.

19 — Valdelice Veron

Liderança Guarani Kaiowá, Valdelice está na linha de frente pela demarcação de terras do seu povo, além de denunciar as violências e mortes que ocorrem com frequência no Mato Grosso do Sul a mando do agronegócio.

Valdelice faz denúncias no Congresso e é constantemente ameaçada. É filha de uma liderança assassinada e ninguém nunca respondeu pelo crime contra seu pai, Marcos Veron. É possível acompanhar as denúncias do seu povo no MS por aqui.

20 — Naine Terena

A curadora, educadora, artista e pesquisadora é formada em comunicação pela UFMT, doutora em educação pela PUC-SP e também é docente no Mato Grosso. Naine possui vários projetos, dentre eles: o Territórios Criativos Indígenas; participou da organização do livro “Povos Indígenas no Brasil: Perspectivas no fortalecimento de lutas e combate ao preconceito por meio do audiovisual”; e coordenou o aplicativo para ensino da língua Terena.

Seu trabalho também pode ser visto aqui.

Opiniões e sugestões de outros nomes indígenas que vocês seguem/recomendam — podem deixar nos comentários. Afinal, que pessoas indígenas vocês admiram?

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