Já é possível pensar em um mundo sem Google

A perda da relevância da plataforma que determinou o fluxo e refluxo do conteúdo nas últimas duas décadas no contexto do surgimento de uma nova internet

Eduardo Mendes
3 min readAug 30, 2023
(Ilustração: Michelle Rohn para o The Verge)

Lenssen administrou o Google Blogoscoped entre 2003 e 2011, quando ele foi um dos principais cronistas sobre qualquer informação referida ao Google. Era a época em que os blogueiros despontavam como os primeiros criadores de conteúdo.

Para Ryan Broderick, os gostos e sensibilidades daquela geração influenciariam grande parte da mídia digital atual. E o mais importante: eles não viviam uma guerra de baixo nível com os algoritmos.

Pelo contrário, Lenssen e outros blogueiros trabalhavam para otimizar o PageRank, o algoritmo do Google, que organizava os resultados com base na quantidade de links entre as páginas.

Esta é uma das boas histórias contadas por Broderick para o The Verge. Recaptular o motivo pelo qual a pesquisa Google foi a força invisível que determinou o fluxo e refluxo do conteúdo online era imprescindível para compreender por que sua relevância cultural está em questão.

A publicação não tem dúvidas de que “pela primeira vez desde o seu lançamento, em 1998, um mundo sem ele no centro parece realmente possível.”

“The end of the Googleverse” mostra como “estamos no fim de uma era e no limiar de outra.” E, obviamente, as plataformas sociais deflagram as transições durante as duas décadas.

Primeiro, observamos a ascensão de “enormes redes sociais algorítmicas fechadas, como Facebook e Instagram”, consumindo a web na década de 2010.

E, agora, como descreve Broderick, houve uma mudança para feeds de vídeo baseados em entretenimento, vulgo TikTok, que está sendo usado como principal mecanismo de busca por uma nova geração de usuários.

Uma eventual derrocada do Google não seria em função da concorrência. Para Lenssen, há uma outra questão primordial:

“Quando o Google surgiu, ele era livre de anúncios, com resultados realmente relevantes em um tipo de design minimalista. Se avançarmos até agora, a situação está meio que invertida. Os resultados são um tipo de spam, palavras-chave e coisas de SEO.”

Há 25 anos anos, no início de uma era diferente da internet, conforme lembrou Broderick, outro mecanismo de pesquisa enfrentava problemas semelhantes. No topo da lista, e elogiado por sua tecnologia sofisticada, começava a lidar com a ameaça existencial.

Em vez de tentar melhorar o produto principal, corrigindo os erros que os seus utilizadores tinham, o líder de mercado tornou-se mais um portal, sobrecarregado por serviços inchados que funcionavam cada vez menos bem.

Esta companhia era o AltaVista, o antecessor do Google.

O modelo de negócios das plataformas sociais e de busca baseado em algoritmos está saturado. Os sintomas da crise agravaram-se no momento em que uma nova internet desponta. Qualquer semelhança com as histórias relatadas não é mera coincidência.

E a Lei dos Serviços Digitais da União Europeia chega como mais um fator agravante, tentando frear o poder das big techs sob o pretexto de uma internet mais segura.

A The Block Point trará mais detalhes sobre o tema na edição desta quinta-feira. Aguarde!

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Eduardo Mendes

Advisor for Culture and Innovation | Co-Founder na The Block Point | Web3 & New Technologies | Strategy, Research & Content | Sports | Entertainment | Media