Cylene Dallegrave: Emoldurando Porto Alegre

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Cylene Dallegrave tem 53 anos e é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Alguns anos depois de formada, a então jornalista se encontrou em outro ramo: as Artes Visuais. Hoje Cylene tem sua loja virtual própria, a Cylene Dallegrave — Arte Aplicada e usa a arte como sua total fonte de renda. Seu mais recente projeto consiste em reproduzir cenários de Porto Alegre em camisetas, quadros e outros itens.

Conheça, na entrevista a seguir, um pouco da trajetória de Cylene Dallegrave como artista plástica, suas motivações e sua relação direta com a Arte.

Cylene Dallegrave exibindo um de seus quadros que enaltecem Porto Alegre. Arquivo pessoal.

Conte um pouco da sua relação com a arte:

Sempre me identifiquei com a arte, mas minha formação, em 1985, foi em Jornalismo pela PUC/RS. Fiz alguns trabalhos na área até que, dez anos depois, comecei a frequentar cursos de pintura, desenho e gravura: foi aí que realmente encontrei o que gostava de fazer. Em 2004 me pós- graduei em Gravura, Fotografia e Imagem Digital pela FEEVALE/RS. Recentemente abri uma Microempresa Individual (MEI) para comercializar meus trabalhos. Há cerca de 2 anos resolvi trabalhar com arte aplicada, ou seja, comecei a imprimir meus trabalhos em objetos de fácil comercialização como camisetas, bolsas, vestidos, posteres. Decidi focar minha atenção em Porto Alegre para alcançar dois públicos específicos: o turista, que vem para o Rio Grande do Sul e visita a capital; e o morador, que tem fama de ser bairrista. Eu já tinha uma coleção dedicada à cidade, que agora estou ampliando com esse objetivo. Hoje frequento feiras de design e moda e também comercializo itens em algumas lojas.

Cylene estampa a cidade de Porto Alegre em camisetas, almofadas, bolsas e também em outros objetos. Reprodução do site.

Porque produz esse tipo de arte? Quais são as suas motivações?

Porque eu sempre gostei da surpresa, do inusitado. E a gravura tem essa característica por ser uma técnica indireta, ou seja, por ter uma matriz onde o artista faz o trabalho que depois é transferido para o papel. Muita coisa pode acontecer nessa passagem, no momento em que a tinta sai da madeira, do metal, ou da pedra e se deposita no papel. Desde a transformação mais básica, que é a inversão da imagem — que fica espelhada — até interferências como manchas, riscos e falhas que se incorporam ao trabalho e quase sempre o enriquecem. É como brincar de mágico, mesmo. Já no computador, o truque não ocorre no instante da impressão, ele se dá no meio do processo, através das inúmeras possibilidades de intervenção na imagem. Na tela, a transformação é imediata, é possível distorcer, colorir, riscar, apagar, borrar, sujar, limpar, sobrepor… Tudo com apenas alguns cliques. É viciante.

Gravura em metal, Cylene Dallegrave.
Gravura em metal, Cylene

Entenda o que é gravura na arte clicando aqui.

Para quem é direcionado?

Acho que produzimos arte, em primeiro lugar, para nós mesmos. Fazemos por uma necessidade interna, um impulso criativo. Por outro lado, o artista precisa sobreviver e achar uma forma de vender o que produz, ou seja, tem que se direcionar a um público.

Para que produz esse tipo de arte?

Para minha satisfação pessoal, pois acredito que nos dias de hoje já não cabe mais trabalhar sem gostar do que se faz, ocupando um terço do dia (e da vida) numa atividade que não traz alegria e entusiasmo.

Com o mercado superlotado de profissionais de todas as áreas, não acredito que o retorno financeiro compense tal frustração.
O difícil é conseguir encontrar uma maneira de conjugar o prazer profissional à prosperidade. Mas esse é o desafio de cada um, uma caminhada individual, sem fórmulas pré-estabelecidas. Eu ainda estou construindo a minha.

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De onde surgiu a ideia de usar Porto Alegre como fonte de inspiração para sua arte e seus produtos?

Por volta do ano 2000 voltei de uma viagem à Nova Iorque, onde se vê milhares de suvenires e objetos que referenciam a cidade. Pensei no fato de que, quando somos turistas, apreciamos os lugares com olhos curiosos e interessados em cada detalhe, mas em casa isso não acontece: a cidade passa quase despercebida, engolida pela nossa pressa e rotina. Quando retornei peguei minha máquina fotográfica — analógica, na época — e resolvi passear pela minha cidade, exercitando aquele mesmo olhar sobre o desconhecido que tive como turista. O Photoshop ainda era uma ferramenta nova, e eu estava aprendendo a usá-lo. Transformei as fotos para o formato digital e comecei a brincar, tentando dar a elas uma linguagem parecida com a que eu utilizava nas gravuras tradicionais. Imprimi essas imagens e levei até a Galeria Gravura, que se interessou em comercializá-las. Ou seja, sempre soube que havia um nicho de mercado aberto para esse tema. Em 2016 fiz um curso de estamparia digital e descobri novas tecnologias que permitem impressão de imagens fotográficas em tecido.

Daí a pensar na produção de itens turísticos regionais foi um pensamento lógico, até porque os objetos que encontramos em lojas especializadas ainda são muito tradicionais e não estão alinhados a uma estética contemporânea.

Fotos: reprodução do site da artista

Quais são seus planos futuros como artista?

Não faltam planos, mas o pensamento voa muito mais rápido do que a realidade do dia a dia. O empreendedorismo está me ensinando que é preciso andar devagar e que o desenvolvimento de um produto demora muito mais do que se imagina. Mas sonhar não custa nada e pensando nesse sentido, gostaria de ampliar meus produtos, talvez ter uma loja, criar outras linhas, dedicadas a outras cidadades e/ou ao Rio Grande do Sul. Na área da gravura, acabo de ser classificada num edital da Prefeitura de Porto Alegre, para dar aulas no Atelier Livre. Portanto, a partir do próximo semestre, terei mais uma atividade, a de professora. Nessa convivência na oficina de litografia, pretendo não só ensinar o que eu sei, mas também voltar a produzir um pouco de gravura nos moldes tradicionais. Vamos ver se terei tempo para tudo isso.

Informações de contato:

Instagram: @cydallegrave ou @cylenedallegrave | Facebook: Cylenne Dallegrave | Site: www.cylenedallegrave.com.br |

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Fabio Andrei Kuckert Rodrigues
Carretel Arte & Jornalismo

22 anos | Estudante de Jornalismo | Estágiário - Comunicação Interna Sodexo | Tout est Grâce.