Testes de Usabilidade — Parte 1

Fernanda Saba
6 min readSep 15, 2023

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Um dos métodos de pesquisa de experiência mais conhecidos pelos UXers, testes de usabilidade geralmente são vistos como algo burocrático de ser realizado dentro das organizações e, por isso, são realizados em menor frequência do que deveriam.

Photo by JESHOOTS.COM on Unsplash: Imagem mostrando uma mulher em frente ao notebook mordendo um lápis, em desespero.

Seguindo com a minha série de artigos para desmistificar processos de UX Research no dia a dia de PDs e UXers, hoje é a vez de trazer um manual com o básico para o planejamento, execução e análise de testes de usabilidade.

Nesta primeira parte, irei explicar o que é usabilidade afinal, o que é um teste de usabilidade, quais os tipos de testes de usabilidade, dentro do processo de design quando devemos aplicá-los e quais os requisitos mínimos para realizar testes.

Definindo o que é usabilidade

Segundo a norma ISO 9241–11, usabilidade é a medida pela qual um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos com:

Efetividade

Permite que o usuário alcance os objetivos iniciais de interação, e tanto é avaliada em termos de finalização de uma tarefa quanto também em termos de qualidade do resultado obtido.

Eficiência

Se refere à quantidade de esforço e recursos necessários para se chegar a um determinado objetivo. Os desvios que o usuário faz durante a interação e a quantidade de erros cometidos pode servir para avaliar o nível de eficiência do site.

Satisfação

É a mais difícil de quantificar, pois está relacionada com fatores subjetivos. Se refere ao nível de conforto que o usuário sente ao utilizar a interface e qual a aceitação como maneira de alcançar seus objetivos ao navegar no site.

O que é um teste de usabilidade?

Photo by UX Indonesia on Unsplash: Imagem de um usuário realizando um teste de usabilidade moderado presencial. Enquanto a moderadora faz anotações e acompanha num notebook a câmera gravando o teste, o participante realiza o teste num celular.

O teste de usabilidade é uma entrevista um-a-um com o usuário, na qual o pesquisador (chamado de moderador, facilitador) pede ao participante que realize uma série de tarefas em um protótipo ou mesmo no produto final. À medida que o usuário interage com o produto, o pesquisador faz anotações sobre seu comportamento e suas opiniões.

É utilizado para medirmos a usabilidade (efetividade, eficiência e satisfação) de um produto e junto de outras técnicas permite também identificar oportunidades e gerar novas ideias. O objetivo é aprender com essa experiência e realizar ajustes.

Teste de usabilidade é uma técnica de pesquisa que investiga se um produto ou serviço é fácil de usar, fácil de entender e se as pessoas gostam.

Elisa Volpato

Quais os tipos de testes de usabilidade?

Testes de usabilidade podem ser moderados e não moderados. Cada uma dessas formas tem suas qualidades e defeitos:

Moderado

Geralmente realizado quando precisamos nos aprofundar e ainda não possuímos um produto bem definido. É uma ferramenta de pesquisa qualitativa e, por isso, são realizados testes em menor escala, geralmente 5 a 10 participantes já são o suficiente.

Métodos mais comuns: testes de conceito, protótipos de baixa fidelidade, teste + entrevista.

✔️ Prós:

  • O moderador pode repetir a tarefa caso o participante não entenda;
  • Os participantes acabam sendo mais participativos, trazendo até ideias;
  • Pode ser realizado tanto remotamente (video-conferência) quanto presencialmente (no contexto do cliente, em laboratório/sala espelho, num café/restaurante, em sala de reunião, guerrilha na rua/evento);
  • Não necessita de ferramentas específicas, apenas o roteiro impresso e algum device onde o usuário possa navegar (celular, notebook, tablet).

Contras:

  • A interferência é maior e alguns participantes podem não sentir-se à vontade;
  • Quando é realizado remotamente, os usuários podem ter dificuldades com as ferramentas escolhidas para aplicação dos testes e não contarão com o auxílio próximo do moderador;
  • A duração do teste pode ser uma barreira para o agendamento, visto que se trata de um bate-papo de duração mais longa com o usuário, em que será necessário que ele “pare” suas atividades para participar.
Imagem mostrando um teste de usabilidade moderado sendo aplicado remotamente, em que a participante e a moderadora estão em uma vídeo-chamada. A participante está apresentando sua tela do computador, mostrando sua navegação em um protótipo online.

Não moderado

Geralmente realizado quando já temos um produto mais definido e precisamos observar exclusivamente a navegação. É uma ferramenta de pesquisa quantitativa, o que possibilita sua aplicação em grande escala.

Métodos mais comuns: lançamento de produto beta para uma parcela do público, testes em produção, protótipos de alta fidelidade.

✔️ Prós:

  • Mais barato, mais rápido e permite mais iteração;
  • A interferência é menor, pois o participante realiza o teste em seu contexto, quando desejar;
  • É realizado remotamente, o que possibilita uma maior adesão dos participantes.

Contras:

  • As tarefas precisam estar muito claras, pois o participante pode ir para o “caminho errado” por não entender a tarefa;
  • A quantidade de abandonos do teste pode ser maior;
  • Necessita de contratação de ferramentas específicas (Maze e UsabilityHub, por exemplo).
GIF mostrando um relatório com os resultados de testes de usabilidade não moderados realizados na ferramenta Maze.

Quando realizamos testes de usabilidade

Observando o double-diamond, temos 3 momentos principais em que testes de usabilidade são aplicados:

Imagem com o processo de Double Diamond, mostrando o processo completo com as 4 etapas, que são “Descobrir”, “Definir”, “Desenvolver” e “Entregar”.

🥽 Descobrir

Quando os dados quantitativos não forem o bastante para identificar o problema, são feitos testes no produto atual, para ver o que não funciona e ter insights de como melhorar.

💡 Desenvolver

Para validar se a solução que está sendo criada realmente resolve o problema identificado, são feitos testes com protótipos. Um dado curioso é que, quanto menor a fidelidade do produto testado (paper prototypes, por exemplo), maior a disponibilidade dos participantes em colaborar com insights.

💻 Entregar

Antes do lançamento, devemos sempre medir a usabilidade da nova funcionalidade. Nesta fase, os testes são feitos com o produto beta ou em produção. Porém, à medida que a fidelidade do produto testado aumenta, os participantes acabam sendo menos colaborativos.

Lembre-se que fazer um estudo gigante, moderado, com vários participantes e mais demorado nem sempre vale a pena. Ciclos menores de criação de protótipo, testes e iteração são mais enriquecedores.

Requisitos mínimos para execução de testes de usabilidade

GIF do filme Mogli — O Menino Lobo, mostrando o urso Baloo e Mogli dançando.

🎶 Necessário, somente o necessário… Um teste de usabilidade enxuto conta com os 4 itens abaixo:

Moderador (ou facilitador, pesquisador)

Quem irá entrevistar o usuário, aplicar as tarefas, observar, ouvir e anotar.

Participante

Usuário atual do produto ou alguém que represente o público-alvo.

Algo a ser testado

Pode ser um site, um app, um produto físico, um serviço, já desenvolvido ou em estado de protótipo.

Roteiro de tarefas

Tarefas típicas que usuários irão realizar ao utilizar o produto.

Em testes moderados, podemos somar a essa lista o observador, que ficará responsável pelas anotações, além de também ter o papel de auditor e validador do teste; convidados interessados em ver os testes de uma perspectiva em primeira pessoa (claro que em outra sala ou com câmera / microfone fechado em video-conferências); e equipamentos, como câmera e gravador, por exemplo.

Mas saiba que tendo os 4 itens essenciais, testes de usabilidade já podem ser realizados.

> Continua na parte 2…

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Fernanda Saba

Product Designer Senior e contadora de histórias inacabadas desde criancinha. Um dia, irá concluí-las, mas não hoje, só amanhã.