Testes de Usabilidade — Parte 2
Hoje, iremos continuar este manual com o básico para o planejamento, execução e análise de testes de usabilidade.
Na parte 1, vimos o que é usabilidade, o que é um teste de usabilidade, quais os tipos de testes, quando devemos aplicá-los e quais os requisitos mínimos.
Nesta parte 2, vamos focar no planejamento para execução dos testes e no recrutamento de participantes.
Planejando testes de usabilidade
Um bom planejamento garante a qualidade dos testes realizados e traz confiança aos resultados, independentemente da maturidade do produto/serviço testado e de qual forma de moderação foi escolhida.
💻 Plano de pesquisa
Serve para orientar o planejamento, alinhar os envolvidos e documentar todo o andamento do projeto.
- Quais são os objetivos do teste?
Lembre-se que você pode medir aspectos relacionados a eficácia, a eficiência e a satisfação.
- Como e onde será o estudo?
Moderado ou não moderado, quantos serão os moderadores, remoto ou presencial e ferramentas.
- Quem são os usuários com os quais precisamos testar? E quantos são?
Defina o(s) perfil(is) do usuário do produto/serviço que será testado. Podem ser clientes atuais, não clientes (mas com o perfil desejado) ou beta-testers.
Se for realizar testes com mais de um perfil, o ideal é escolher atributos que de fato afetam o uso do seu produto e focar menos em demografia.
O “número mágico”, assim como para entrevistas, é de mínimo de 5 participantes para cada perfil. Como apontado por Jakob Nielsen em um artigo de 2000, já com 5 usuários descobrimos 80% dos problemas.
🎁 Se você está achando muito complexo, tenha calma, torcedor! A Pesquisadora e UX Researcher Crícia Silva criou um template para que o planejamento da sua pesquisa seja mais fácil. É só duplicar o arquivo e ser feliz!
🔢 Roteiro do teste
É um “passo a passo” de como se dará o momento do teste. Geralmente, é formado por uma sequência de tarefas e perguntas.
- Passo 1: Apresentação
Momento em que apresentamos a nós mesmos, o objetivo da pesquisa, as regras do teste e preparamos o participante, deixando-o à vontade.
- Passo 2: Questionário inicial
Num primeiro momento, faça um aquecimento, começando com perguntas simples, como “Como você chegou ao produto? e “O que vc faz no seu dia a dia?”
Num segundo momento, faça perguntas mais específicas, para investigação de perfil.
- Passo 3: Tarefas
Pense no que você quer avaliar e qual o objetivo. A partir daí, defina as tarefas que o usuário irá executar. Também ajuda a criação de cenários, para contextualizar o participante e deixar o uso do produto mais natural durante o teste. Algumas dicas úteis:
- Evite usar termos que são apresentados na interface avaliada;
- Não dê direcionamentos específicos aos participantes, por exemplo “Em qual botão você clicaria?”;
- As pessoas dedicam-se mais se as tarefas forem “de verdade”, porém não podemos obrigá-las a inserirem dados pessoais durante o teste, portanto traga algumas contas “fake” que os participantes possam utilizar;
- O jeito de fazer perguntas aos participantes vai interferir nos resultados, fique atento às palavras usadas, ao tom de voz e prefira perguntas abertas, como por exemplo “O que você achou disso?”;
- Para cada tarefa, defina o que será considerado sucesso. Pode-se utilizar uma escala de sucesso, indo do fracasso total ao sucesso extremo. Além disso, podemos quebrar a avaliação do sucesso de uma tarefa entre localização (encontrou o item) e função (utilizou o item);
- Definir métricas pode ajudar sua análise pós-teste: taxa de sucesso, tempo na tarefa, nível de satisfação do usuário, expectativa vs. realidade (o quanto a pessoa acha que será difícil realizar a tarefa e sua opinião depois de realizá-la), System Usability Scale — SUS, etc.
- Passo 4: Questionário final
Perguntas de fechamento, em que tentamos tirar um “resumo” do usuário: pontos positivos e negativos, fatores importantes vistos, nota de 0 a 10. Leve em consideração todo o teste realizado, não apenas o que o participante fala. Por exemplo, ele pode ter tido dificuldade nas tarefas e dar uma nota 10 para o fluxo que realizou.
Vou deixar aqui abaixo um artigo da UX Researcher Elisa Volpato, para facilitar na criação do seu roteiro e tarefas:
📲 Protótipo
Quando o produto ou serviço testado ainda não foi lançado, realizamos os testes de usabilidade com um “modelo” simulando o que seria o produto/serviço final.
Existem variados tipos de protótipos que podemos utilizar, tais como:
- Desenhos em papel das telas de uma interface (paper prototype);
- Protótipos navegáveis, em baixa, média ou alta fidelidade, utilizando ferramentas como Figma, Maze, Useberry, UsabilityHub, etc.
- Simulação de um serviço (concierge e mágico de oz).
🛫 Teste piloto
Uma espécie de “teste do teste”, em que conferimos se tudo está funcionando corretamente. Uma boa ideia é realizar o teste piloto com um stakeholder enquanto outros observam, assim todos ficam preparados para a realização dos testes na prática.
Faça um checklist e fique atento aos seguintes pontos:
- Softwares: qual o nível de dificuldade na utilização pelos participantes e se estão funcionando de maneira correta;
- Hardwares: se todo o equipamento necessário está preparado e se está funcionando corretamente;
- Internet: caso o teste seja remoto, se a conexão do moderador está estável;
- Áudio e imagem: se as gravações estão sendo captadas corretamente;
- Roteiro: se está muito longo ou muito curto, se faltaram perguntas e/ou tarefas, se é entendível pelo participante o que ele precisa fazer;
- Tempo de carregamento do teste: caso utilizemos ferramentas online, se elas demoram demais a exibir o teste para o participante;
- E, por fim, se o tempo estipulado para o teste foi cumprido ou não.
Recrutando participantes
Quando se está dentro de uma empresa com certa maturidade na realização de pesquisas com usuários, podemos contar com o banco interno de beta-testers, pessoas que se disponibilizaram (geralmente via inscrição) a realizar pesquisas e testes no seu produto ou serviço.
Algumas empresas conhecidas tem sites onde pessoas podem inscrever-se em seus bancos de testers, tais como Microsoft e Google.
Devemos tomar cuidado com esses bancos internos, pois com o tempo acabamos formando especialistas no produto, que já realizaram vários testes e, portanto, tem grande facilidade. Isto pode enviesar os resultados obtidos.
Em organizações que não dispõe deste recurso, podemos contratar serviços de recrutamento de empresas especializadas, que se responsabilizam por todo o processo, desde o contato inicial até o pós-testes com os participantes.
Uma terceira opção é aplicar um recrutamento online, disparando-o por e-mail, SMS, notificações Push ou aplicativos de mensagens para clientes cadastrados na base de Customer Relationship Management — CRM da sua empresa.
Ao utilizar ferramentas de CRM podemos filtrar quem irá receber o recrutamento, assim minimizamos as chances de agendarmos testes com pessoas fora dos perfis desejados.