Resenha: História do Novo Sobrenome

Gabi Müller
3 min readMar 20, 2019

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ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS SOBRE A AMIGA GENIAL, PRIMEIRO LIVRO DA TETRALOGIA NAPOLITANA!

Pensei se deveria fazer uma resenha de História do Novo Sobrenome aqui, uma vez que ele foge do 1 Ano de Livros, apesar de eu só ter chegado a esse livro por causa do desafio: esta é a primeira continuação de A Amiga Genial, representante da literatura escrita por mulheres.
O impulso de começar a ler o segundo volume da tetralogia napolitana foi fortíssimo, apesar de querer me manter nos temas propostos por mim mesma. Eu não conseguia me livrar do vínculo com as personagens principais, precisava saber o que aconteceria com Lenu e Lila — especialmente com a segunda.

A História do Novo Sobrenome começa exatamente de onde A Amiga Genial termina: Lila acaba de se casar com Stefano e, durante a festa de casamento, percebe que seu marido fez algum tipo de acordo com a família Solara, quando Marcello, seu antigo pretendente e uma das pessoas que ela mais odeia na vida, aparece com o sapato que ela havia desenhado e Rino, seu irmão, produzido. Revoltada, percebe que o matrimônio já acabou ali. Lenu, por sua vez, circula entre seu relacionamento com Antonio e o amor latente por Nino.

Enquanto lia o primeiro livro, sentia que a construção das personagens era o foco, não tanto os acontecimentos, meros cenários para toda a formação de caráter de ambas as personagens. Claro, queríamos saber o destino das amigas, mas, neste livro especificamente, a história cresce enormemente e ganha tanta importância quanto a construção das meninas. Isso se dá porque fica evidente que uma coisa é diretamente ligada a outra — as coisas só ocorrem porque cada uma se desenvolve do jeito que é, reagindo ao mundo do jeito que reage. Parece uma conclusão óbvia: se fôssemos diferentes, tomaríamos decisões diferentes e nossas vidas seriam diferentes. Acredito que passamos por nossas vidas sem percebermos, no entanto, o quanto nossa personalidade é definidora nas nossas escolhas e que a vida poderia, sim, ser diferente. Continuamos acompanhando a comparação constante que Lenu faz relação a Lila, sempre numa posição inferiorizada, sempre dependente, sem se dar crédito de nada.

É culpa de Lila, eu pensava se tomei esse caminho, preciso esquecê-la também: Lila sempre soube o que queria e o conseguiu; eu não quero nada, eu sou feita de nada.

É tão curioso ver minha própria relação com a personagem, percebê-la em mim e, talvez por isso, não senti-la vitimizada, mas compreendê-la em sua diminuição, na falta de reconhecimento de sua própria história e avanços. Eu li o livro querendo saber o que aconteceria com Lila, mas torcendo pelo desenvolvimento de Lenu. De fato, Lila é transgressora, muda seu destino conforme lhe parece mais propício no momento, porém, sempre que entramos em contato com ela, percebemos uma personalidade pouco desenvolvida, como se fosse a mesma criança que enxerga o mundo da mesma forma como quando procuravam as bonecas roubadas por Dom Achille; enquanto a narradora segue o plano pré-definido desde a infância, sem grandes paixões, sem grandes reviravoltas, mas se percebe grandes dilemas morais e observações mais amadurecidas, decisões pouco impulsivas. Seria isso um resultado de um amadurecimento ou é apenas o modus operandi de Lenu? Afinal, é mais fácil compreender o crescimento desta uma vez que estamos “dentro de sua cabeça”.

Elena Ferrante mostra nessa continuação por que é um fenômeno mundial literário. Devo dizer que o próximo livro da minha fila que li foi o terceiro da série (e já até acabei), mas, antes que vocês me acusem de não seguir meu próprio desafio, pularei um texto para fechar minhas resenhas de Livros Escritos por Um(a) Negro(a) antes de retornar à História de Quem Foge e de Quem Fica.

NOTA: ⭐️ ⭐️ ⭐️ ⭐️ ⭐️

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