Pandemia faz número de usuários do metrô cair drasticamente

Guilbert Corrêa Trendt
4 min readJul 12, 2020

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Empresa registrou queda recorde em março e arrecadação diminuiu 145% no segundo trimestre.

*Série de reportagens por Bruno Soares, Fabiane Pereira, Guilbert Trendt e Iury Rodrigues.

Trensurb registra queda drástica no segundo trimestre deste ano. Foto: Lucas Quadros/ Arquivo Trensurb

Com o primeiro caso confirmado de coronavírus no Rio Grande do Sul em 10 de março e os sucessivos decretos municipais restringindo a abertura do comércio e empresas na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), a Trensurb, principal meio de transporte entre o Vale dos Sinos e a capital gaúcha, viu o número de usuários cair drasticamente no segundo trimestre.

Segundo a empresa, a média de usuários transportados em dias úteis na primeira quinzena de março era de 157,6 mil passageiros, mas, a partir de 19 de março, o número passou a cair, chegando a 84,6 mil usuários, uma queda de 46% na demanda.

No período entre 19 e 31 de março, circularam pelas estações uma média de 40,7 mil usuários por dia útil, com uma queda recorde no dia 26, quando apenas 27,5 mil passageiros utilizaram o metrô, uma redução de 82,6%.

Número de usuários teve queda entre os meses de março e abril, mas após segunda quinzena de maio, demanda voltou a subir. Arte: Guilbert Trendt.

A partir de abril, os números da empresa voltaram a subir e a média de usuários transportados no mês foi de 42,5 mil, um acréscimo de 55% em comparação ao período de 19 a 31 de março.

O aumento mais significativo pôde ser percebido a partir da segunda quinzena de maio, quando Porto Alegre, Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo — cidades atendidas pela Trensurb — flexibilizaram as regras de distanciamento e permitiram a reabertura do comércio e empresas. 61,5 mil usuários utilizaram o metrô para se deslocar pela RMPA, um acréscimo de 125% na comparação com o período de menor movimento, registrado no fim de março.

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A superlotação continua

Mesmo com a diminuição no número de usuários transportados, muitos passageiros ainda reclamam da superlotação nos trens. As reclamações podem ser encontradas principalmente no Facebook e Twitter da empresa.

Para evitar circular em trens superlotados, muitos usuários tiveram que adaptar seus horários de trabalho para pegarem as composições nos horários de menor movimento. É o caso de Cecília Rodrigues, bancária de 32 anos, que mora em Canoas e trabalha em Novo Hamburgo.

Atualmente a bancária vai à Novo Hamburgo duas vezes por semana e, quando não consegue adequar seus horários de entrada e saída, acaba tendo de enfrentar a superlotação no fim da tarde. “As pessoas continuam se acotovelando por um lugar pra sentar, mesmo que isso signifique ficar grudado no passageiro ao lado. Parece que esquecem ou não se importam em manter o distanciamento”, conta Cecília.

Trens seguem lotados mesmo com a queda no número de usuários. Foto: @Locutor_sl/Redes sociais.

Para a bancária, os trens lotados são reflexo no aumento do intervalo entre as viagens, que antes da pandemia eram menores. Ainda de acordo com ela, “até hoje, também não vi os tais trens acoplados que a Trensurb alega estar colocando em operação.”

Diferentemente de Cecília, o analista de suporte de TI Henrique Homrich pega o trem diariamente e também costuma utilizar o transporte fora do horário de movimento. Mas, muitas vezes, embarca no horário de pico e acaba esperando cerca de 40 minutos para conseguir voltar para casa em um trem com duas composições — oito carros — e manter o distanciamento.

Ainda de acordo com Homrich, a mudança no ponto de parada das composições, que passou a ser na extremidade da plataforma, faz com que muitos usuários acabem se espalhando pela plataforma e quando veem que o trem é simples acabam correndo para entrarem no último vagão, fazendo com que fique superlotado e as pessoas ofegantes.

Com toda essa situação, o analista sente um estresse grande. “Tenho esposa e mãe no grupo de risco que moram comigo e o maior perigo que corro é no transporte público. Eu confesso que me sinto impotente com a inércia da empresa Trensurb frente a esses problemas”, desabafa.

Parcela dos usuários acredita que a empresa se adaptou ao momento.

Impacto na receita

A estatal, que está em processo de desestatização, há anos apresenta déficit e necessita de aporte financeiro do Tesouro Nacional para seguir prestando o serviço. Com a queda no número de passageiros transportados, as projeções de arrecadação para o período não se confirmaram, o que deve resultar em uma maior subvenção do Tesouro para a empresa este ano.

Segundo a Trensurb, a projeção para o período era de uma arrecadação de 46,7 milhões de reais, mas foram arrecadados apenas 18,9 milhões, uma queda de 145%.

Abril, quando as regras de distanciamento social vigoram durante o mês todo, a arrecadação da empresa com o transporte de usuários foi de 3,4 milhões de reais, ante expectativa de 15,7 milhões, uma redução de 360%. Já em março e maio, as receitas foram de 10 milhões e 5,5 milhões, respectivamente.

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