Trensurb se adapta em meio à pandemia do novo coronavírus

Guilbert Corrêa Trendt
5 min readJun 26, 2020

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Entre a pandemia do novo coronavírus e processo de desestatização, a Trensurb segue operando com mudanças e adequações aos protocolos de saúde.

*Série de reportagens por Bruno Soares, Fabiane Pereira, Guilbert Trendt e Iury Rodrigues.

Já no início de fevereiro, a Trensurb, atenta à propagação pelo novo coronavírus, intensificou a limpeza de trens, bilheterias, catracas. Foto: Angelo Pieretti/ Trensurb.

Quem precisa se deslocar pela Região Metropolitana de Porto Alegre tem como principal opção de transporte público o trem. Em 2019, a Trensurb — estatal responsável pela operação dos trens — transportou 48.055.364 usuários, número equivalente a uma média de 160.343 pessoas por dia útil. Em meio à pandemia do Covid-19, uma parte da população ainda precisa sair de casa para trabalhar e suprir suas necessidades básicas. Com isso, tanto a empresa quanto os próprios usuários do trem tiveram que se adequar às medidas sanitárias e de distanciamento para prevenção e diminuição do contágio pelo vírus.

Desde o início de fevereiro, antes mesmo da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país, foram intensificados os cuidados contra a propagação do vírus. Todos os trens que chegam às estações terminais, Mercado e Novo Hamburgo, têm janelas, portas e barras desinfetados com álcool por uma equipe de mais de 70 profissionais de limpeza, divididos em turnos e postos de trabalho. Áreas e equipamentos de cada uma das 22 estações passam por limpeza em intervalos de 30 a 60 minutos, dependendo do tamanho e fluxo da estação. De acordo com os dados divulgados, entre março e maio, R$ 203 mil foram investidos em reforços das equipes de limpeza e aquisição de máscaras. Em junho, o contrato de limpeza foi renovado por mais um ano — um custo de R$ 8,4 milhões aos cofres da estatal.

Divulgação/Trensurb.

Com o avanço da pandemia, todas as estações receberam sinalização no piso junto às bilheterias para orientar a formação de filas de modo que os usuários mantenham distância adequada entre si. Serviços como a linha do aeromóvel, bibliotecas e os bebedouros foram desativados. Também foram organizadas viagens adicionais com trens acoplados — com oito carros ao invés dos quatro usuais — para aumentar o espaço e proporcionar o distanciamento orientado entre usuários. As medidas de segurança ainda incluíram uma redução no horário de fechamento do sistema (das 5h às 22h), ainda em vigor, e no horário das bilheterias das dez estações menos movimentadas (das 5h30 às 8h30) entre o início de abril até o dia 6 de maio.

A Trensurb e Metroplan firmaram acordo para que ônibus da Vicasa (Canoas) e Real (Esteio e Sapucaia do Sul) façam o transporte de passageiros entre as cidades atê o Centro de Porto Alegre pela manhã e da Capital para as cidades no fim do dia. Foto: Mauro Saraiva Jr./ Metroplan.

De acordo com a assessoria de imprensa da Trensurb, a empresa, em parceria com a Metroplan, foram oferecidos ônibus entre a Estação Mercado, em Porto Alegre, e os municípios de Canoas, Esteio e Sapucaia do Sul buscando evitar aglomerações nos trens. No entanto, o serviço foi suspenso devido à baixa procura. “Desde o início de março, a empresa realiza uma campanha de comunicação, por meio de redes sociais, avisos sonoros e monitores em trens e estações, além de material impresso, buscando conscientizar os usuários da importância dos cuidados para evitar a propagação do vírus.”

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Para incentivar o uso da máscara de proteção, a empresa instalou um painel na entrada da Estação Mercado informando sobre o uso obrigatório do EPI.
Foto: Carlo Martins/ Trensurb.

De maneira geral, os usuários estão cumprindo com as principais medidas preventivas — uso de máscaras e o distanciamento nas filas de bilheterias e nas plataformas — aponta a Trensurb. Agentes de estação e seguranças realizam a fiscalização junto à linha de bloqueio, observando a entrada de usuários e orientando aqueles que estiverem sem máscara para que façam uso delas. “A principal preocupação está nos horários de maior movimento, quando os usuários acabam se concentrando nas proximidades do centro das plataformas no momento do embarque, quando o correto seria espalharem-se ao longo das plataformas para que não haja aglomerações nos vagões centrais”, orienta a assessoria.

Em relação ao número de passageiros, houve uma queda de 86,6% ainda em março. Desde então, o fluxo de transportados aumenta gradativamente conforme vem acontecendo a flexibilização das regras de distanciamento, chegando ao pico de 71.823 passageiros em 8 de junho — o que representa uma queda de 54,4% em relação à média de passageiros da primeira quinzena de março.

“A primeira dificuldade que tivemos foi a de adequar o serviço e trens à demanda. No início da pandemia, com as restrições, houve variações muito significativas no movimento dos usuários. Os constantes deslocamentos do chamado ‘pico’ tornaram a programação do serviço um grande desafio”, conta Carlos André da Silva, gerente de operações da Trensurb. A necessidade de orientação quanto à importância de se manter as medidas preventivas também foi uma preocupação.

Confira as ações da Trensurb em imagens

“Neste tópico, tivemos de trabalhar de forma ordenada ajustando as ações e medidas a serem adotadas com as restrições orçamentárias. Também tivemos de adequar o serviço dos empregados, tomando todos os cuidados possíveis para protegê-los no desempenho de suas funções.” Em relação ao regime de trabalho da empresa, internamente, houve afastamento temporário ou adoção de teletrabalho de empregados do grupo de risco, adoção de teletrabalho e de regime de escala para trabalho presencial em áreas administrativas, além da disponibilização de álcool gel e máscaras de proteção para todos os empregados.

O que se sabe das consequências

Arte: Guilbert Trendt.

Ainda é cedo para estimar os impactos da pandemia no funcionamento da estatal. Todavia, o período de março a maio já contabilizou um déficit de mais de R$25 milhões em arrecadações. Frente a essa redução da receita, para manter o equilíbrio com as despesas, a gestão suspendeu temporariamente contratações de serviços e projetos que não estavam diretamente ligados à operação do transporte de passageiros, como também, os que não eram relacionados às medidas de prevenção e combate ao coronavírus.

“O principal de tudo isso, cabe salientar, é o fato de que sempre mantivemos em foco a essencialidade do metrô perante a sociedade. Tem sido uma luta diária, com avanços e recuos, elogios e reclamações, mas sem nunca nos desviar do objetivo de prestar um serviço seguro e confiável à sociedade”, diz Carlos André.

Arte: Guilbert Trendt.

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