Rappi, gorjetas e a economia comportamental

Henry Nasser
2 min readFeb 5, 2019

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Você pode até não ter percebido, mas quando finalizou o seu último pedido pelo app do Rappi (aplicativo de entregas — de praticamente tudo¹), se deparou (mesmo que inconscientemente e por alguns microssegundos) com uma aplicação clássica da chamada “opção opt-out”.

Repare que a opção de dar a gorjeta de R$1 para o entregador já vem previamente selecionada e cabe a você (i) aceitar e continuar o pagamento normalmente ou (ii) clicar na opção de não dar nada ou até uma quantia maior caso queira.

Essa opção default “opt-out” é um conceito muito estudado dentro da arquitetura de escolha trabalhada pela economia comportamental.

Um dos exemplos mais famosos foi analisado por Thaler na questão do incentivo à adesão automática a planos de aposentadoria privada nos EUA, o que beneficiou milhares de cidadãos.²

O que ela diz é que você tem toda a liberdade para se “recusar ou se retirar” da opção, mas a equipe de arquitetura/design que desenhou a escolha te deu um leve empurrão no caminho para uma gorjeta (que por exemplo ajuda na retenção e valorização dos entregadores do aplicativo, sendo uma forma de retribuição por uma entrega bem executada).

Ou seja, presume-se que os clientes estejam consentidos a dar uma gorjeta, a menos que eles ajam de maneira contrária, por livre e espontânea vontade³.

Interessante notar além disso que o montante de R$1 também pode ter sido pensado para que mesmo se passasse despercebido (na pressa do dia a dia por exemplo) não causasse um “dano muito grande” a você (talvez uma gorjeta de R$5 ou mais não percebida pudesse gerar muitas reclamações a posteriori).

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Henry Nasser

Economia Comportamental & Finanças Comportamentais | Mestre em Economia | Ajudando empresas e pessoas a tomarem melhores decisões