É sexta-feira 13!

Henrique Nascimento
8 min readOct 13, 2017

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Depois de nove meses, temos mais uma sexta-feira 13 no calendário. Segundo os supersticiosos, a data representa um dia de azar, onde tudo pode dar errado e o que tiver de ruim para acontecer, vai acontecer. Uma matéria da BBC Brasil de hoje explicou onde surgiu a lenda da sexta-feira 13: a sexta-feira era mal vista por ter sido o dia da crucificação de Jesus Cristo; quanto ao número 13, dizia-se que dava azar ter um grupo de 13 pessoas reunidas ou em torno de uma mesa, em referência ao número de bruxas em um clã e à Última Ceia, que reuniu Jesus e os doze apóstolos e inspirou a famosa obra de Leonardo Da Vinci. Com o tempo, os dois elementos acabaram se combinando e a data ficou consagrada como um dia a se ter cuidado.

Imagem promocional de “Sexta-Feira 13” (Friday the 13th) (Foto: Divulgação)

Em 1980, com base na superstição de que a data traz azar, foi lançando o primeiro filme do que se tornaria a clássica série de terror Sexta-Feira 13 (Friday the 13th), que trazia um grupo de jovens que acabavam perseguidos e assassinados por um misterioso assassino enquanto tentavam reabrir um acampamento de verão. Nascia, então, Jason Voorhees, um dos assassinos mais famosos do cinema, que apareceria em mais onze filmes, inclusive ao lado de outro grande assassino do cinema em Freddy vs. Jason (dir. Ronny Yu, 2003), onde enfrenta Freddy Krueger, famoso por caçar e assassinar suas vítimas em seus sonhos na série A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street), criada por Wes Craven. O primeiro filme da série foi lançado em 1984 e teve mais seis continuações, lançadas em um período de dez anos, até 1994. Em 2010, um remake do primeiro filme foi lançado, mas não agradou aos fãs da série original e novas tentativas de levar a série aos cinemas mais uma vez ainda não ocorreram.

Trailer do filme “Freddy vs. Jason” (2003)

Como nem só de clássicos vive o homem, nas últimas décadas muitos filmes de terror e suspense chegaram aos cinemas para dar aquele frio na barriga a quem é fã de filmes dos gêneros. Por curiosidade, antes de continuarmos, seria bacana entender a diferença entre terror e suspense: o canal do YouTube, Plano Geral, fez um vídeo falando sobre essa diferença, mas, em suma, suspense é o filme que prende o espectador à cadeira, trabalha a sua ansiedade, pois já se sabe, ou se tem alguma noção, do que vai acontecer em seguida; o terror é algo mais imediato, mais cru, feito para assustar e chocar no ato. A grande maioria dos filmes atuais costumam abarcar os dois gêneros ao contar suas histórias, por isso a distinção acaba não ficando tão clara. Um filme de terror é também, em sua grande maioria, um filme de suspense, mas um filme de suspense não é necessariamente um filme de terror.

Na virada do milênio, alguns filmes de suspense chamaram bastante atenção do público e da crítica. Um deles foi O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), do diretor M. Night Shyamalan, bastante conhecido por seu envolvimento com filmes do gênero. O filme trazia Bruce Willis como Malcolm Crowe, um psicólogo infantil que resolve cuidar do caso de Cole Sear (interpretado por um pequenino Haley Joel Osment), um menino que vê e conversa com espíritos. O filme originou a popular frase “eu vejo gente morta” e chamava atenção não apenas pelo suspense que trazia, mas também por seu final surpreendente. Vale mencionar que Shyamalan deu mais dois presentes ao suspense ao levar aos cinemas Corpo Fechado (Unbreakable, 2000) e Sinais (Signs, 2002), antes de sofrer uma derrocada com o fraco A Vila (The Village, 2004). Em resumo, em Corpo Fechado, um homem procura explicações por ter sido o único a escapar ileso de um grande acidente de trem; em Sinais, uma família encontra misteriosos círculos em suas plantações e não entende como foram feitos e quem os fez; e em A Vila, uma série de eventos testa as crenças dos moradores de um pequeno vilarejo. Dessa derrocada, embora tenha lançado diversos filmes nesse meio tempo, Shyamalan só se recuperaria neste ano, com o lançamento de Fragmentado (Split), que conta a história de um homem com 23 personalidades que sequestra três meninas e as mantém em cárcere.

Trailer legendado do filme “O Sexto Sentido” (“The Sixth Sense”, 1999)

Dois anos depois de O Sexto Sentido, outro filme brincava com o suspense e a cabeça das pessoas. Os Outros (The Others, dir. Alejandro Amenábar, 2001) contava a história de Grace, interpretada por Nicole Kidman, que decide se mudar com os seus filhos para uma mansão enquanto aguarda o retorno de seu marido, que luta na Segunda Guerra Mundial. Com o tempo, coisas estranhas começam a acontecer e levam a acreditar que a mansão está assombrada. Inspirado pelo livro de 1898 de Henry James, “A Volta do Parafuso”, é um clássico filme de fantasmas, bastante tenso e com um final que também surpreende.

Trailer legendado do filme “Os Outros” (“The Others”, 2001)

Trazendo um terror psicológico um tanto quanto violento, em 2004 estreou o primeiro filme da série Jogos Mortais (Saw). O filme que encabeça a série trazia um médico e um fotógrafo presos pelos pés com correntes em um banheiro sujo, em algum lugar que desconhecem. Junto a eles, um homem morto com um tiro na cabeça e um gravador que, quando tocado, traz uma voz que diz que quer jogar um jogo com os dois. O filme teve seis continuações, com um aumento no número de personagens, uma evolução nos jogos e nas mortes, cada vez mais sanguinárias, encerrando-se em 2010. No entanto, neste ano, a série foi revivida e está previsto para estrear, no fim desse mês, Jogos Mortais: Jigsaw (Jigsaw, dir. Michael Spierig & Peter Spierig), novo filme da franquia.

Trailer do filme “Jogos Mortais” (“Saw”, 2004)

Em 2007, com um novo estilo de “filmagem caseira” que seria adotado por diversos filmes a partir dali, surgem filmes de sucesso como Atividade Paranormal (Paranormal Activity, dir. Oren Peli), onde um casal se mudava para uma casa assombrada por algo maligno; e [REC] (dir. Jaume Balagueró & Paco Plaza), em que uma equipe de jornalismo se vê presa dentro de um prédio onde um estranho vírus se instalou, afetando os seus moradores. Ambos os filmes faziam o estilo “found footage” para dar credibilidade à história, como se aquilo tivesse realmente acontecido, algo visto anteriormente em A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, dir. Daniel Myrick & Eduardo Sánchez, 1999). À época de seu lançamento, tudo indicava que as filmagens eram reais e que os garotos realmente tinham desaparecido na floresta filmando um documentário sobre a lenda da Bruxa de Blair.

Trailer legendado do filme “[REC]” (2007)

Dos filmes no estilo “found footage”, um que ficou bastante famoso, em 2008, foi Cloverfield: Monstro (Cloverfield, dir. Matt Reeves). Durante a festa de despedida de Rob Hawkins (Michael Stahl-David), um apagão acontece, preocupando a todos. Logo percebe-se que não é um simples apagão e que Nova York está sob ataque de um gigantesco monstro. Junto a seus amigos, Rob procura salvar a garota por quem é apaixonado, Beth McIntyre (Odette Yustman), e fugir para o mais longe possível da coisa. O filme teve produção de J.J. Abrams (criador da série LOST e diretor do sétimo episódio de Star Wars) e é cercado de mistérios e easter eggs, que faziam com que os fãs ansiassem por mais.

Oito anos depois, outro filme da “mitologia Cloverfield” foi lançado: Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfield Lane, dir. Dan Trachtenberg, 2016) abandona o estilo de filmagem caseira e traz um terror psicológico focado em três personagens presos em um bunker, sem a possibilidade de saírem de lá, pois o homem responsável pela construção do espaço e aprisionamento dos demais diz que o exterior está infectado e é muito perigoso deixar o bunker por qualquer motivo que seja. Filmado em segredo, a “continuação” dividiu opiniões, mesmo entre os fãs do filme anterior. Ainda assim, um terceiro filme pode estar em produção, mas nada é muito claro ainda.

Trailer do filme “Cloverfield: Monstro” (“Cloverfield”, 2008)

Brincando com todos esses filmes e seus diferentes estilos, surgiu em 1996, pelas mãos de Wes Craven, criador da série A Hora do Pesadelo, o primeiro filme do que viria a ser a série de sucesso Pânico (Scream): trabalhando a função metalinguística, Pânico é um filme de terror sobre filmes de terror. Conta a história de jovens perseguidos e mortos por um assassino mascarado, valendo-se todos os clichês de filmes de terror a que poderia se permitir, propositalmente. Sidney Prescott (Neve Campbell) é a estrela do filme, uma jovem que perdeu a mãe assassinada há um ano e agora sofre com as ameaças do novo serial killer da cidade de Woodsboro, na Califórnia. O filme teve três continuações, em 1997, 2000 e, mais recentemente, 2011.

Trailer legendado de “Pânico” (“Scream”, 1996)

Pânico é uma série criativa, divertida e que evoluiu, se reinventando, mas sem perder sua essência. Não são necessariamente filmes de terror, mas mais uma brincadeira com os filmes do gênero. O sucesso da série inspirou algumas paródias, como Todo Mundo em Pânico (Scary Movie), e uma série de TV produzida pela MTV, atualmente indo para a sua terceira temporada, exibida no Brasil pela Netflix.

Trailer legendado de “Pânico: A Série de TV” (“Scream: The TV Series”, 2015-)

Uma técnica muito explorada atualmente nos filmes de terror é o jumpscare, que nada mais é do que o ato de provocar sustos que fazem o espectador pular da cadeira enquanto assiste. Tem sido uma forma bastante efetiva de garantir que o filme seja um sucesso e, às vezes, mascarar uma história que não é assim tão boa. O filme de 2010, Sobrenatural (Insidious, dir. James Wan), usa bastante a técnica, combinando cenas assustadoras com uma trilha sonora de arrepiar os cabelos da nuca. A trilha sonora é, sem dúvidas, o elemento-chave para que o jumpscare funcione, se elevando repentinamente para concretar o susto.

Além das continuações de Sobrenatural, filmes como A Entidade (Sinister, dir. Scott Derrickson, 2012), Invocação do Mal (The Conjuring, dir. James Wan, 2013), seu derivado Annabelle (dir. John R. Leonetti, 2014) e até o recente It: A Coisa (It, dir. Andy Muschietti, 2017) também fazem uso da técnica.

Trailer legendado do filme “Sobrenatural” (“Insidious”, 2010)

Para finalizar, como nem todo mundo gosta de filmes de terror, há uma variação do gênero que costuma ser um pouco mais aceita: a comédia-terror. Apesar de não ser classificado no gênero, os filmes de Pânico já traziam muitos elementos do subgênero. Filmes como Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, dir. Edgar Wright, 2004) e Zumbilândia (Zombieland, dir. Ruben Fleischer, 2009) são exemplos de boas comédias-terror: no primeiro, Shaun (Simon Pegg) tenta organizar sua vida enquanto um apocalipse zumbi estoura ao seu redor; e no segundo, Columbus (Jesse Eisenberg) cria regras e se junta a Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) na tentativa de sobreviver ao apocalipse zumbi, indo atrás de algum lugar que esteja livre da ameaça. Embora tenham premissas similares, cada filme tem suas particularidades e ambos excedem em serem bons filmes que, sem dúvida, são bem mais comédia do que terror, mas que têm potencial para agradar até quem não é tão fã do gênero.

Trailer do filme “Zumbilândia” (“Zombieland”, 2009)

Seguindo a linha das comédias-terror, chegou ontem aos cinemas o filme A Morte Te Dá Parabéns (Happy Death Day, dir. Christopher Landon, 2017). Classificado como uma mistura de Pânico com Feitiço do Tempo (Groundhog Day, dir. Harold Ramis, 1993), o filme conta a história de Tree Gelbman (Jessica Rothe), uma colegial que se vê presa no dia do seu assassinato, revivendo-o dia após dia até que resolva o mistério de quem a matou. Com a pretensão de tirar Blade Runner 2049 (dir. Denis Villeneuve, 2017), continuação do clássico de 1982, do topo das bilheterias, A Morte Te Dá Parabéns arrecadou US$ 1 milhão em sua noite de estreia e promete ser o sucesso do fim de semana — leiam mais sobre o filme aqui e assistam ao trailer abaixo:

Trailer legendado do filme “A Morte Te Dá Parabéns” (“Happy Death Day”, 2017)

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Henrique Nascimento

Falo de cinema, de séries, de memes, da vida e, às vezes, falo um pouco sério.