17 dias de puerpério

Isabella Herdy
4 min readSep 21, 2021

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Essa foi uma mensagem de whatsapp escrita para algumas amigas

Não quis escrever nos últimos dias porque estava me achando bem surtada, e preferi não escrever sobre isso pra não contaminar ninguém, ou talvez pra não ter que admitir minha própria loucura para mim mesma.

Acabei escrevendo bastante no meu caderno, o que foi ótimo. Fiquei me perguntando se o puerpério é realmente enlouquecedor pra todas as mulheres, só pra algumas, talvez pra maioria… ou só pra uma minoria… não sei dizer. Eu tendo a acreditar que seja enlouquecedor pra maioria. Eu sabia que seria bem difícil e desafiador, normalmente essas são as palavras que usam, mas o que eu sinto é além disso. É um sentimento de loucura mesmo que eu acho bem difícil colocar em palavras e talvez por isso eu tenha o sentimento de “ninguém me avisou”. Talvez “ninguém avise” não por mal, mas porque é difícil explicar o que acontece enquanto ainda tá acontecendo e imagino que depois que passa a gente meio que esquece (tipo a dor do parto), o que é bem inteligente da natureza, porque encoraja as pessoas a terem mais de um filho.

Disclaimer: ainda que enlouquecida, eu to achando ter filho a experiência mais foda da vida. E dizem também que o primeiro filho é meio que isso mesmo, enquanto o segundo é delícia porque você meio que já sabe o que esperar. Talvez seja isso, a loucura de tudo e tanta coisa pela primeira vez.

Seguindo… exemplo: antes de ontem tivemos a noite mais difícil de todas desde que o Luca nasceu. Ele não pregou o olho um segundo, chorou muito a noite inteira. Eu tava exausta. Colocava ele no peito deitada pra conseguir dormir enquanto ele mamava. Ele acordava em algum momento chorando e eu não sabia mais se ele tinha mamado bem ou não, se eu tinha dormido 10 minutos, 1 hora ou 2 horas. Não sabia se continuava dando peito porque o choro era fome ou de cólica. Caos completo. Ontem eu tava um caco.

Eis que de ontem pra hoje ele teve uma noite linda. Dormiu direto. Acordou pra mamar às 4h e depois só às 8h. Eu acordei bem e minimamente descansada. Enquanto o Felipe preparava nosso café da manhã eu deixei ele deitado do meu lado, ele ficou acordado quietinho enquanto eu tirei mais um cochilo. Depois tomei café da manhã lindamente enquanto ele cochilava no carrinho. Tudo isso pra dizer que eu já meio que esqueci a noite caótica que tive 48hrs antes. Louco né?

Então, os dias tão meio assim. Um dia de cada vez, um caos e uma alegria por vez. Ao mesmo tempo não peço pra passar rápido porque eu sei que vou sentir saudades mais pra frente e quero garantir que aproveitei cada segundo disso. Cada dor e cada delícia dessa loucura. A parte boa da maternidade xóven, é que eu me vejo com energia pra aguentar o sono picado, as tantas mamadas, to amando viver esse momento. A parte talvez um pouco mais desesperadora é que minha ansiedade multiplicou por mil e talvez nem seja falta de terapia, seja só a imaturidade mesmo de uma jovem mãe desesperada de primeira viagem sem tantas mães ao redor pra compartilhar as angústias, ainda que eu tenha meus grupos e troque experiências com outras mães também não tão próximas.

Ao mesmo tempo que eu me sinto muito segura e me prendo aos meus instintos maternos de saber exatamente o que fazer e entender o que ele quer, eu caio na falácia da minha mente de querer proteger ele de todos os maus do mundo. Sim, os clichês maternos não são clichês por acaso.

Enfim, é muita coisa que passa pela nossa cabeça, é muita transformação. Tava lendo um livro de um psicanalista (Winnicott) sobre a relação da mãe com o recém nascido e ele comparou a um estado de guerra. Se eu não fosse mãe de um recém nascido acharia exagerado. Eu sendo, entendi perfeitamente o que ele quis dizer. É isso. É um tudo ou nada. Você dá a vida por aquele bebê que ainda não te dá muita coisa em troca. Você sabe que essa fase vai passar mas não sabe exatamente quando. Acha bizarro que tem tanta gente simplesmente vivendo a vida normalmente enquanto você se transformou em um peito ambulante fonte de alimento e segurança pra uma vida. É engraçado. Um pouco tragicômico.

Dito tudo isso, sigo bem! Peito vai bem, pontos vaginais cicatrizando, um deles já caiu. Fome a beça, sede mais ainda. Nenhuma força, nem motivação, nem tempo de fazer um exercício físico. To totalmente viciada no podcast “Calcinha Larga”, recomendo. Além de amamentação e cocô esse é o único assunto que eu tenho, então escutem pra gente ter assunto quando começarmos a nos encontrar.

To vendo uma série muito gênia chamada “Transparent” na Amazon Prime. Recomendo. “Dom” também é bem maneiro, mas só vi 2 episódios até agora. Comprei um livro que parece foda mas leio 2 páginas por dia. O outro que eu citei aqui do psicanalista eu terminei de ler, mas não entendi muito bem metade dele.

Esse é o meu diário materno do dia. Amo vocês.

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Isabella Herdy

Mãe. Tenho uma newsletter pra escrever a vontade e falar do meu filho @CriancatambemDanca. Brand Strategist at @AnaCouto.