A solidão de cada um.

A filosofia da vida — Parte 1

JuniorJunior
3 min readFeb 15, 2023

Estamos aqui, bilhões de nós mesmos espalhados em multidões solitárias sem nos ver, sem nos encontrar, sem nos perceber no ir e vir dos dias por essa vida que não sabemos mais viver. Somos meras existências, insistentes em procurar algo que nos defina, algo que nos traduza de tal forma que possamos compreender quem somos, ou, que possa ao menos afastar de nós o medo profundo que sentimos de não sermos o que gostaríamos de ser.

Somos sós, somos solidão!

Uma solidão estrutural moderna que surgiu como um efeito inevitável pela expansão de nós mesmos. Nos tornamos solitários quando entendemos que apesar de haverem tantos, cada um é dono de sua própria consciência. Vivemos em sociedade, mas não somos um aglomerado de seres que se completam ou se conectam para se tornar algo maior, somos apenas um acumulado de individualidades mergulhados nesse infinito de possibilidades que não sabemos aproveitar por sermos efêmeros em demasia, ou, por nos faltar oportunidades.

No entanto, essa solidão poderia ser amenizada se fosse sentida, pois aquilo que sentimos pode ser compreendido. Mas não, não estamos nos permitindo sentir solidão e nos tornamos muito bons em evitar sentir.

Sentimentos são difíceis de definir, a solidão muitas vezes surge como a percepção da ausência, mas tomemos a solidão como uma desconexão, pois é possível sentir-se só mesmo com a presença. Sentir-se desconectado nos deixa cego para tudo que está a nossa volta, ou nos deixa perdidos sem saber reconhecer a nós mesmos em meio a tudo ao redor. Cegos ou perdidos, esse tipo de solidão nos diminui, nos anula e nos vira ao avesso transformando nosso intimo em buracos negros sugando as possibilidades de novas conexões; quanto mais sós, mais sós.

Conexões são consequências; partes que se encaixam são capazes de se conectar, mas e quando todas as partes se fazem de iguais? Que tipo de conexão pode existir entre peças gêmeas? Não estamos todos tentando ser uma mesma coisa? Fingindo ser a mesma coisa? Mentindo sentir uma mesma coisa?

Nós estamos todos brincando de ser felizes!

Todos os dias uma avalanche de felicidade invade as realidades virtuais que nos escravizam. Mas essa felicidade é puro teatro; uma iniciativa desesperada em convencer o outro de que somos tudo aquilo que qualquer um gostaria de ser e como parte do desespero que nos motiva, fazemos de tudo para nos moldar em uma peça cilíndrica de um quebra-cabeça que jamais será montado. Não haverá conexão se todos forem peças sem encaixe. E a solidão cresce.

A solidão que nos aflige não é um sentir-se abandonado, é um sentir-se separado de qualquer coisa que possa nos servir de espelho oferecendo um reflexo onde poderemos ver se o Eu que eu não vejo de dentro para fora é o mesmo Eu que eu desejo me traduzir de fora para dentro. Se eu vejo o outro feliz por usar algo, por estar com alguém, por ir a algum lugar, desejo aquela felicidade e me dedico em o usar o mesmo, conhecer o mesmo e ir até lá. Se eu vejo a convicção no olhar e a serenidade nos traços, eu procuro na minha centena de imagens do meu próprio rosto algum olhar e serenidade que transmita a mesa coisa e na solidão da minha expectativa ofereço essa minha imagem esperando que outros muitos como eu venham me dizer que meu olhar e meu semblante transmitem felicidade, mas se isso não acontece, me sinto só, pois não faço parte do que procuram.

Há quanto tempo você não é original? Há quanto tempo não faz algo real? Há quanto tempo você se entrega a esse roteiro que não te pertence e vive seus dias interpretando essa personagem ilusória que cada vez mais apaga a sua autenticidade?

Nós estamos tão vazios, tão pobres de conteúdo, que aos poucos estamos nos convertendo em borrões do que poderíamos ser. Pouco a pouco nossas células estão se tornando pixels e nossas vidas estão se tornando uma imensa sala vazia onde a frieza da solidão será interpretada como ausência de sinal ou falta de bateria. Nós já não somos metade do que temos potencial de ser por estarmos fingindo ser o dobro do que realmente somos. E a solidão cresce!

Tente, mesmo que em silêncio, tente descobrir quem você é e talvez você se encontre.

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JuniorJunior

Eu escrevo o que penso e como penso, pois as páginas em branco não me recebem com orgulho e pré-conceitos. Eu escrevo, pois conversar se tornou um drama!