Contos da Torre Celestial #2: O arco íris de Pokkle

Leo Medeiros
9 min readJan 15, 2023

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A série “Contos da Torre Celestial” elenca fanfics do mangá Hunter x Hunter, de Yoshihiro Togashi. As histórias podem ser também encontradas no grupo Hunter x Hunter Seiko, no Facebook. Boa leitura!

Com nen focado nas mãos, aplicando o devido conhecimento de gyo, Pokkle saltou o mais alto que pode jogando o corpo para trás assim que o juiz autorizou. Ao público, pareceu mera covardia, mas Pokkle sabia como seus poderes o permitiam lutar e como a distância era fator primordial. Antes que caísse, esticou os braços, configurando os dedos da mão esquerda para moldar um arco de nen, enquanto a mão direita criou uma flecha vermelha.

— Rainbow: Red Arrow!

Do outro lado, Epanksi não teve qualquer trabalho em desviar do golpe; olhou tranquilamente a flecha bater no chão e deixar um rastro de fogo. Quando seus olhos se voltaram a Pokkle, ele já tinha um novo movimento preparado. A “Orange Arrow” veio fulminante.

Toma isso, é a minha flecha mais rápida!

Ih, essa não da para desviar.

A preocupação foi breve; Epanksi derrotou o ataque com um simples tapa, que não lhe causou qualquer dano. Ah, essa não tem efeitinho? O tempo para Pokkle se espantar foi pouco, pois de um sorriso confiante ao entender a força do adversário, Epanksi permitiu seu ren fluir em uma investida. Ele desvia de mais uma flecha vermelha e rebate mais uma flecha laranja logo em seguida e mais outra. A distância quase não existe mais, então Epanksi prepara um soco.

Não esperava que ele rebatesse tão facilmente a flecha laranja mas não estou despreparado.

O soco atingiu o ar e Pokkle se foi num belo salto. Narradora e plateia gostaram da nova fase da luta. A bem verdade, muitos não viam os golpes de Pokkle e não entendiam muito bem o que acontecia no campo de batalha. Às vezes era assim na Torre Celestial.

— Ora ora, seu gyo está em dia, pequeno Pokkle!

— Não vou cair nas suas provocações, Espanksi! — Refez o arco junto de uma flecha de cor lilás-claro agora.

— É Epanksi!

Pokkle atirou a flecha no chão, entre eles, levantando uma pequena cortina de fumaça. Depois, mais duas, uma de cada lado da primeira. Epanksi entrou em estado de atenção, sem perder a tranquilidade anterior.

Interceptar minha visão seria uma boa ideia se você pensasse que não é o único usuário de gyo aqui.

O nen focado nos olhos enxergou a investida de uma flecha vermelha vinda da direita. Ali! Desviou e, quando se preparava para contra atacar, Pokkle surgiu da fumaça.

— Rainbow: Orange Arrow!

De uma distância ainda menor, a flecha partiu na direção do homem, cujos olhos se arregalaram e, tão instantaneamente o ataque lhe almejou, sua mão direita se ergueu, contendo-o.

O que?! Dessa distância?!

O primeiro soco do contra ataque Pokkle até desviou, mas desta vez não houve tempo para saltar e reconquistar distância — nem Epanksi estava disposto a dar essa brecha para ele. Dali em diante, não economizou golpes, que o atirador de flechas ia desviando por um triz enquanto tentava reorganizar os pensamentos e achar uma nova estratégia. Seu movimento de testar a força da flecha laranja fora incauto e ele agora pagava pela escolha precipitada.

Os socos uma hora passaram a acertar. Pokkle administrava os danos com ken, embora a proficiência do adversário fosse evidentemente maior no combate franco de curto alcance. Até que num dos golpes, Pokkle postou adequadamente os braços ante pontos vitais frontais de seu corpo, no entanto o soco foi redirecionado para o piso da arena. Estilhaços voaram contra seu corpo e Pokkle teve a visão brevemente obstruída.

Argh… cadê ele?!

Pokkle logo sentiu a presença esmagadora atrás de si.

Droga, não vai dar tempo readequar o nen pelo corpo. Vou proteger…

Sim, pequeno Pokkle, a cabeça! Por isso eu vou…

Ah não, ele vai…

— Na costeeeelaaaaa!

Ugh!!!

Um impacto certeiro, seguido de um gemido lacerante e, então, o corpo de Pokkle voou, dançou pelo chão da arena e caiu fora do espaço de combate. O juiz contou o clean hit e iniciou a contagem de dez segundos para que ele subisse de volta ao campo de batalha.

— Diga lá, pequeno Pokkle, gostou do meu presente? Hahahaha.

A princípio, não havia como respirar. Por mais que tentasse, o peito falhava e as costelas gritavam. Tudo tremia. Mas mais alto que os berros do corpo, eram a voz de Epanksi e a do juiz. Pokkle foi recobrando a capacidade de gerir o ar pelo corpo, enquanto se arrastava para a borda da arena. Enfim, se recostou. Faltavam somente cinco segundos para que perdesse a luta.

Bem ou mal… esse desgraçado me deu… distância novamente. Não sei se tá me subestimando… ou tendo… piedade… Não interessa também. É agora… ou nunca!

— Se você não vem até mim, eu vou até você, pequeno…

— PurpleArrow!

A plateia, a narradora e o juiz olharam para o lugar de onde a voz saiu, ao que Epanksi foi tragado pela visão da fumaça roxa no teto. Mal pode rir do que supunha ser um truque, e era mesmo, porque aí vinha Pokkle, seu arco e sua conhecida flecha vermelha.

Rainbow. Com transformação, adequo meus dedos de forma que moldem uma espécie de arco e adiciono propriedade elástica ao nen. Em seguida, transformo meu nen em flecha, com sete possibilidades de habilidades diferentes. Purple, ao tocar uma superfície, se torna uma fina cortina de fumaça de alcance, a princípio, pífio (preciso produzir três para formar algo decente que me permita me despistar do adversário ou causar confusão). Enquanto isso, Red…

Epanksi desviou, como de praxe.

…cria chamas ao tocar numa superfície.

O homem partia para o combate de curto alcance, destemido.

Orange Arrow é apenas uma flecha veloz, cuja finalidade é produzir um ataque que não pode ser desviado. Uma distração. Pelo visto ela é bem fraca para compensar isso. Mas sem problemas!

Epanksi rebate uma, duas, três…

— Chega de flecha laranja!… — Esticou os abraços instintivamente para conter o próximo ataque. — Oque?!

Yellow. Ao se chocar com uma superfície, produz um forte brilho capaz de cegar quem está perto por alguns instantes.

— Ah, meus olhos!

E, então, Blue! Essa flecha se torna uma pequena poça de água.

— O que é isso nos meus pés? Água? Não adianta Pokkle, eu não posso ver, mas posso sentir!

E Indigo…

— Ahhhhhhh!

…uma pequena descarga elétrica!

— E agora, Espanksi: Green Arrow!

A corrente elétrica, apesar de modesta, impactou em Epanksi a ponto de que não foi possível se prevenir do ataque seguinte. A flecha verde o acertou em cheio no abdômen.

— Eu… não consigo me mover…

— Não mesmo. Green Arrow tem propriedades de veneno paralisante. Funciona por alguns segundos só, mas é o suficiente para eu acabar com isso. — Sem mais arcos e flechas, apenas com nen focado nas mãos e pés e a raiva e uma certa alegria mórbida no rosto, Pokkle gritou: — PORRADA!

Socos e uma vontade por vingança infindáveis partiram contra o corpo inerte de Epanksi. Pokkle estava implacável tal qual a felicidade da plateia com o deleite de violência.

— E agora eu acabo com isso! — O clímax, no entanto esmaeceu, e o chute final de Pokkle parou no ar, segurado por seu rival.

Epanksi, cheio de sangue da surra, virou o rosto com um sorriso macabro e não hesitou, puxando Pokkle para perto.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer…

Ferrou!

— QUE É EPANKSI!!!

Pokkle novamente viajou pela arena inteira e desta vez a cabeça não teve perdão. A contagem do juiz chegou até dez, eliminando-o do combate. Só que o vencedor não parecia com vontade de parar.

— Ei! — gritou, o juiz — A luta já acabou. Você venceu, deixe que os paramédicos cuidam dele.

Ignorou-o prontamente e seguiu sua caminhada. Tomou o desacordado Pokkle em mãos, segurando-o pela camisa como um valentão segura sua vítima. Horror na plateia, nem a narradora nem o juiz sabiam como conter a figura. E vieram dois tapas na cara de Pokkle, que acordou.

— Acordou, zé ruela? Isso lá é jeito de me tratar? Quem te autorizou ir às forras assim? Para que tanta violência num treino?

— Que? Eu? E aquele soco na minha costela? Isso lá é jeito de se tratar um aluno?

— Você tem que começar a respeitar hierarquias e não se animar demais com liberdade hein. Ta doendo pra caramba aqui!

— Você quebrou minha costela, Espanksi!

— É Epanksi, ô cabeça de calopsita!

— Eles estão… discutindo? — perguntou a narradora, representando os espectadores.

O juiz, mesmo confuso, resolveu que era melhor interromper.

— Gente, por favor, continuem lá dentro, tudo bem? Temos mais lutas ainda hoje. Vão, vão.

— Então é isso, pessoal, o lutador Epanksi vence a luta! Um final estranho, mas foi divertido… eu acho.

— Certo, hmmm… eu gostei da sua ideia Pokkle. Originalmente, você tinha me falado só das flechas. A delicadeza e dedicação em reproduzir um arco deve contribuir para o poder da sua habilidade. Mas tenho que dizer que esse não vai ser um hatsu para confronto direto, ele parece mais algo como um suporte. — Pokkle não pareceu muito feliz com o comentário. — Digo, você como hunter de criaturas mágicas vai lidar com situações de variados tipos. Há criaturas que só ser apto a usar nen já será o suficiente para enfrentar, enquanto outras exigirão um trabalho em equipe bem arquitetado, estratégias… enfim.

— Isso eu imaginei. Não gosto de ficar sem saída, então pensei os meus poderes para diversas circunstâncias: distrair o adversário, atacar, criar um golpe com grande chance de acerto, paralisar, confundir…

— Sim, sim. Tem coisas muito interessantes aí, a ideia do combo de água e eletricidade me impressionou, por exemplo. Por outro lado, eu não posso deixar de ser realista com você: seu poder neste momento é fraco. Desenvolver uma habilidade diversa como essa exige tempo e é essencial que você se foque no mais trivial primeiramente e depois vá polindo o resto.

— Ah, eu tenho focado na vermelha e laranja, que foram as primeiras ideias que tive.

— Vermelho e laranja? Por que elas? Você usava flechas envenenadas, não? Por que focar em flechas de fogo agora?

— Razões pesso… — Uma mão surge, tapando a boca de Pokkle.

— Porque sempre que ele cozinha pra gente, ele queima a mão, e ele tem cozinhado muito ultimamente! — disse a menina dos cabelos azuis e gorro amarelo.

— Quem é você? Conhece o pequeno Pokkle?

— Olá, sou Ponzu! — Tira a mão da boca de Pokkle.

— Ei, não precisa me expor!

— De qualquer forma, seu cozinheiro mequetrefe, recomendo focar na flecha verde. Se você já usava veneno, e é uma ideia de fato excelente e segura para um caçador, não vejo porque não focar nela agora.

— Eu já estou focado na vermelha e laranja, não vou mudar minha direção agora.

— Mas é muito cabeça dura mesmo! — Epanksi e Ponzu falaram ao mesmo tempo. Se olharam numa risadinha, então o tutor retomou a expressão séria e continuou:

— Se você vai insistir no erro, para que vou perder tempo dando minhas lições?

— Eu não sei se quero mais suas lições! Você quebrou minha costela hoje! Me trouxe pra lutar nesse lugar cheio de gente!

— Porque é muito mais excitante lutar com gente te vendo!

— Ele quebrou sua costela, Pokkle? — Perguntou Ponzu — Jesus…

— Quer saber? Faça como queira e vai me mostrando o resultado com o tempo. Continue treinando seu ren, emissão e transformação e, quando chegar no nível que eu quero, eu te libero.

Pokkle amarrou a cara e levou uma mão à costela.

— Aliás, Pokkle — começou, Ponzu — por que arco íris? Digo, pelo que entendi do nen, não seria mais frutífero pra você usar flechas envenenadas fortificadas com aquele tal de shu?

— Você mesmo disse, é o arco íris... — Resmungou Pokkle, nervoso, mas também um tanto tímido.

— Mas por que arco íris? Muito fofo pra você.

— Como assim? Eu sou fofo!

Ponzu e Epanksi se entreolharam em negação e olharam para Pokkle, segurando o riso.

— Seus… — Pokkle rangeu os dentes. Respirou fundo: — Arco íris produzem uma das imagens mais bonitas da natureza. Sou apaixonado por eles desde criança. Ao mesmo tempo, eu queria essa versatilidade de poderes também. Uma coisa casou com a outra. Satisfeitos?

— Ok— disse Ponzu — Isso foi realmente fofo.

— Ponzu, você tem sorte da minha costela estar…

— Ah, Pokkle…!

O rapaz quase perdeu a consciência, mas Ponzu o segurou.

— Ok, pequeno. Hora de ir para um hospital. Sou maluco, mas não sou irresponsável. Não vou deixar meu aluno assim.

— Queria ter forças para responder esse absurdo — Pokkle respirou pesadamente — Mas vão, só me levem logo.

Era o fim do dia de treinamento de Pokkle.

FIM

Contos da Torre Celestial #1: Corrodent Blood

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Leo Medeiros

Escritor, ansioso; a letra da frente sempre fazendo a de trás tropeçar, mas nunca deixando de dizer.