2- A PRINCESA QUE AJUDOU BELA A ACORDAR SOZINHA

Lilian Lima
4 min readFeb 12, 2018

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Há duas semanas de terminar o verão, a Princesa se preparava para sua próxima aventura. Ouviu falar que, numa terra muito distante, era possível ver de perto elefantes e hipopótamos. Os corajosos e pacientes poderiam encontrar ainda crocodilos, búfalos, gnus, cachorros selvagens, leões e muitas espécies de aves raras.

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Quanta história teria para contar na volta, pensou. Para garantir, separou mais um caderno de anotações para levar.

A viagem exigia preparação. O treinamento incluía aprender novos nós de cordas, a montar uma barraca e acender uma fogueira. Era preciso estar pronta para dormir na floresta. De repente, ela ouviu um barulho vindo do portão.

- Princesa, Princesa… Acho que só você pode ajudar.

- O que houve, Duende? Que correria é essa? Assim você quase pisa no meu kit de sobrevivência na selva. Estou me preparando para minha próxima aventura. Vem ver.

- Princesa, espere! Venho do povoado. Você lembra daquela Princesa que dorme há muitos anos?

- Ah, sim, a Princesa Dorminhoca? O que tem ela?

- Não, é a Bela Adormecida, Princesa.

- Ah, sim, desculpe, me enganei. O Príncipe encantado ainda não apareceu?

- Não, por isso venho até aqui pedir sua ajuda. Só você pode fazer a Bela Adormecida acordar.

- Duende, talvez você tenha batido a cabeça no caminho até aqui, mas eu não sou um Príncipe. Eu sou uma Princesa.

- Não é isso, Princesa. Veja, você perdeu o medo de viajar sozinha e virou a maior aventureira deste reino. Buscou a coragem aí dentro do seu peito. Só você ajudar a Bela Adormecida. O feitiço diz que só o amor verdadeiro vai acordá-la. E se esse amor for o dela mesma?

- Claro, Duende! A Princesa precisa primeiro se amar! Como não pensamos nisso antes. Ela deve ser a responsável por seu próprio resgate.

- Mas como faremos isso?

- Eu tenho uma ideia, venha comigo, — disse a Princesa.

A Princesa pegou sua mochila, juntou algumas coisas e os dois partiram em direção ao reino da Bela Adormecida.

O castelo estava coberto pelo mato. Era difícil identificar, debaixo dos arbustos, onde estava o muro, a ponte e as torres. Aos poucos os dois foram abrindo caminho até encontrar uma passagem.

Dentro do castelo, um profundo silêncio tomava conta. Estavam todos dormindo, da cozinheira aos guardas.

O Duende conhecia bem o castelo. Ele levou a Princesa até o quarto da Bela Adormecida. Os dois pegaram fotos, discos, desenhos, anotações, livros e outros pertences de Bela. Juntaram tudo numa caixa e seguiram para a torre.

Deitada numa cama ao lado da janela, Bela dormia um sono profundo. Montaram um painel com fotos e desenhos dela. Borrifaram seu perfume favorito em todo o quarto. Na vitrola, tocava uma suave canção quando a Princesa passou a ler o diário da Bela Adormecida.

Nos textos, ela contava como foi sua infância, a amizade com as fadas, as brincadeiras no bosque, os amigos do povoado e seu sonho de fazer uma viagem assim que completasse 15 anos.

- Veja, ela está se mexendo, — disse o Duende.

- Bela, minha querida, quem fala é a Princesa. O Duende e eu estamos aqui para lhe mostrar o quanto você é querida em seu reino. O quanto faz falta. Vou ler agora as cartas que as fadas escreveram para você no dia do seu nascimento.

Bela mexeu os pés, depois movimentou os braços e de repente, abriu os olhos. Os dois pularam de alegria.

- Você acordou, disse a Princesa!

- Cadê o Príncipe que me acordou?

- Foi você mesma, Bela. Eu li o seu diário em voz alta. Nele, estavam registrados com as coisas boas que você já fez, as pessoas que já ajudou, seus sonhos de infância e sua alegria de viver. Nas cartas das fadas e nos bilhetes de suas amigas, você viu o quanto é amada em seu reino. Foi seu amor-próprio que a fez levantar dessa cama.

Bela não acreditava no que estava ouvindo. Desde criança lhe disseram que só um príncipe poderia salvá-la. Nunca imaginou que ela mesma poderia fazer isso sozinha.

O barulho voltou ao castelo. O mato, que cobria tudo, desapareceu. O Rei e a Rainha foram correndo até a torre e abraçaram Bela.

Enquanto ela explicava aos pais o que havia acontecido, a Princesa e o Duende se despediram e iniciaram a caminhada de volta para casa.

- Princesa, desculpe atrasá-la para sua viagem, — disse o Duende.

- Que nada, Duende! Você me deu uma ótima ideia para minhas próximas aventuras.

- Dei? — disse ele sem entender nada.

- Claro! Já ouviu falar daquela menina que dorme numa esquife no meio da floresta?

- Aquela amiga dos sete anões?

- Essa mesma! É ela quem nós vamos ajudar agora. Partiu floresta dos anões?

Os dois bateram as mãos juntas no ar e seguiram viagem. Começava a Liga das Princesas Livres.

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