Quando ações para sustentabilidade podem ser vistas como hipocrisia?

Lucas Amaral Lauriano
2 min readDec 21, 2021

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No último artigo eu comentei que hipocrisia pode surgir até mesmo quando organizações são vistas como engajadas em questões de sustentabilidade. Nesse texto vou explicar o porquê disso, ilustrando as possibilidades envolvidas nesses julgamentos morais.

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Hipocrisia é uma interpretação de um desalinhamento entre palavras e ações. Nesse sentido, todos nos fazemos julgamentos morais quando observamos que uma empresa fala e não faz. No caso de colaboradores, muitas vezes essas análises são influenciadas por suas vivências na empresa, por casos passados com superiores, ou até mesmo convicções, crenças ou algum conhecimento específico sobre sustentabilidade.

Ao combinar essas possibilidades, identificamos quatro cenários. Vamos utilizar como exemplo promessas de diminuição de CO2 em um processo produtivo específico. A empresa divulga uma forte aspiração, mas os resultados ainda estão por vir.

Uma primeira resposta de colaboradores pode ser observar a desconexão entre palavras e ações, mas concluir que elas não são nada demais. Os colaboradores, nesse caso, dão à empresa o benefício da dúvida, em uma situação que chamamos de “racionalização de desalinhamentos”.

Em um segundo cenário, o colaborador por ter tido alguma experiência passada na empresa, ou participado de conversas com superiores nas quais eles concluem que existem interesses indevidos por trás dessas promessas (ex: imagem, reputação). Assim, há a conclusão de que hipocrisia existe nesse caso, o que representa o que chamamos de “hipocrisia baseada na motivação”.

Em um terceiro cenário, o colaborador pode olhar para as metas e concluir que é muito difícil enxergar nelas resultados palpáveis. Muitas vezes, objetivos voltados à sustentabilidade soam como técnicos demais. Ou então, o colaborador pode questionar: como a empresa vai diminuir exatamente a emissão de CO2? Talvez o colaborador possua conhecimento suficiente sobre o assunto e se torna mais crítico com relação as ações até então feitas. Nesses casos, acontece o que chamamos de “hipocrisia baseada nos resultados”

Por fim, ambas situações em que os resultados as motivações são questionáveis podem estar presentes. Colaboradores podem concluir que a empresa (ou superiores) têm interesses obscuros na diminuição de CO2, e ainda observar que os resultados estão muito aquém do esperado. Nesses casos, temos a “hipocrisia baseada em motivações e resultados”.

Em suma, são diversos os cenários em que os julgamentos morais podem fazer com que um colaborador conclua que uma ação representa hipocrisia. Mas como esses diferentes casos podem servir às organizações que buscam melhorar suas atividades para a sustentabilidade? No próximo artigo falarei um pouco mais sobre as implicações praticas desses tipos de hipocrisia.

Saiba mais sobre nosso estudo de hipocrisia em sustentabilidade.

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Lucas Amaral Lauriano

Professor na IESEG School of Management - Paris. PhD plea King’s Business School. Pesquisas em sustentabilidade e comportamento organizacional.