É na cacofonia que eu me escuto: meu livro de poesia

LuizaLuiza
4 min readNov 22, 2022

“Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados.”

Pego emprestadas as palavras de Clarice Lispector que tenho grudadas no meu mural de inspirações para falar sobre a tortura que é escrever; e mais ainda, publicar um livro.

Parece blasfêmia maldizer o ato sagrado da escrita enquanto escritora, e enquanto escritora tentando promover um livro, mas é a mais pura verdade. Escolher as palavras certas para transformar em uma obra criativa é uma alquimia tortuosa. Escrever é ao mesmo tempo um prazer e um tormento. É o que nos faz sentir vivos, é o que nos tira um pouco de vida, consumindo nossa paz, nossa alegria, e ao mesmo tempo nos dando paz e alegria. Mas essa introdução já está muito longa.

Contra todos os meus instintos procrastinadores, escrevi um livro. Mais ainda, publiquei um livro. De poesia. É na cacofonia que eu me escuto reúne cerca de 50 poemas escritos de 2019 a 2021, quando eu abracei a poesia de volta na minha vida depois de um período em que andamos brigadas, mas nunca distantes. Foi uma época de mudanças, de olhar para dentro e me escutar. Ao mesmo tempo, um período marcado por um silêncio profundo em que a vida como a conhecíamos ficou em suspenso e tudo pareceu perder os contornos.

Já é um clichê, mas foi durante o isolamento pandêmico, esse momento em que tantas vozes foram silenciadas, tantos sonhos e desejos adiados ou enterrados, que eu cansei de procrastinar. Cansei de me calar. E comecei a gritar e me expressar. Do meu jeito, colocando palavras no papel. Testando forma, ritmo, rima. Comecei a dar voz às minhas emoções, às minhas memórias, aos meus desejos, aos meus medos e a povoar o silêncio com essa cacofonia, essa sobreposição de vozes e anseios e angústias. E dessa cacofonia nasceu este livro de poesia.

Não foi tarefa fácil; aprendi com esse livro que um poema (pasme!) nem sempre nasce pronto. Como dizia Michelangelo, é preciso enxergar o anjo no mármore e esculpi-lo até libertá-lo. Assim também é com a escrita. Só escolher as palavras e o que se quer dizer não basta. É preciso lapidar a palavra bruta para dar vida a ela. Escrever também pode ser como assar um pão. É preciso abrir a massa, depois deixar o poema descansar. E então revisitar, trocar uma palavra, alterar a ordem dos versos, reformular as estrofes. Nenhum mistério nisso, “escrever é editar” é uma máxima conhecida. Mas até enfrentar esse processo foi uma luta. Com este livro, espero ter finalmente aprendido.

Uma tortura, sim, escrever; mas com uma promessa de recompensa: ver voarem faíscas, como em um truque de mágica.

O que um escritor pode desejar é que suas palavras despertem magia. E eu espero que a minha cacofonia reverbere em vocês.

Esse texto foi escrito em agosto, quando meu livro entrou em pré-venda no site da Caravana Grupo Editorial. Foi o mais vendido do mês de agosto na editora, uma surpresa e um orgulho. Mesmo depois da pré-venda, o livro seguiu vendendo, ainda de maneira mais tímida. Também foi disponibilizado em e-book à venda pela Amazon. E agora essa minha cacofonia entra em uma nova fase, a de lançamentos presenciais.

Amanhã (23/11) começa a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, um dos maiores eventos literários do país. Um evento que eu faço de tudo para frequentar desde 2012, em que escritores de todo o mundo podem ser encontrados numa mesa de bar tomando cachaça e falando da vida quando não estão desnudando suas almas literárias nas palestras e oficinas da programação do evento. Sempre sonhei em um dia fazer parte dessa grande festa.

E o que eu não sabia em agosto, quando É na cacofonia que eu me escuto veio ao mundo, é que em novembro eu estaria de malas prontas para ir à Flip como autora pela primeira vez. Gostaria de dizer que isso se deu em um passo de mágica, mas na verdade foi com muito esforço. Contei aqui nesse texto um pouco desse processo de ir à Flip como integrante do Coletivo Escreviventes, fundado pela Carla Guerson e do qual tenho cada dia mais orgulho de fazer parte.

É graças à união de várias mulheres fortes e de escrita potente que estaremos brindando os espectadores da Flip com a nossa presença esse ano. E espero que essa seja a primeira de muitas participações, e o primeiro de muitos lançamentos que terei a honra de protagonizar.

É na cacofonia que eu me escuto está à venda em formato impresso e digital no site da Caravana Grupo Editorial, e de 23/11 a 27/11 você pode comprá-lo diretamente comigo, em Paraty, no estande co Coletivo Escreviventes na Praça Aberta no Areal do Pontal.

Luiza Leite Ferreira nasceu no Maranhão, em 1990, mas vive em Niterói. Formou-se em jornalismo e especializou-se em tradução. Escreve poesia desde criança e, aos dezoito anos, recebeu menção honrosa no VII Concurso Municipal de Conto de Niterói. Em 2020, coorganizou a antologia de contos Debaixo do mesmo céu, com André Diniz. Em 2022, integrou a equipe de poetas da Fazia Poesia, portal no Medium onde assina como LuizaLuiza. Também escreve em leialuiza.wordpress.com.

--

--

LuizaLuiza

poeta, jornalista, tradutora, autora de "É na cacofonia que eu me escuto"