Arcos de Aprendizagem: a ferramenta que faltava para seu planejamento de aula (parte 1/2)

Matheus Fonseca
17 min readMay 5, 2020

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Você provavelmente já fez um planejamento de aula na sua cabeça em que tudo estava perfeito. Então você foi colocar no papel e sentiu que tudo que tinha pensado não estava lá como queria?

Planejar uma jornada de aprendizagem realmente não é algo simples, são muitos fatores que temos que considerar: conteúdo, prática, teoria, habilidades, contexto de estudantes, contexto da escola, valores que queremos passar…

Como traduzir isso em um só lugar?
E se for online, faz diferença?
E se for para crianças?
Que plataforma eu uso para planejar?

É sobre isso que quero escrever aqui: sobre arcos de aprendizagem.

Uma metodologia de planejamento de aula (e que pode ir até além disso) que você pode fazer apenas com um papel e um lápis, ou também no seu celular.

E não importa qual a modalidade de ensino, presencial ou online, ou o público alvo: ela vai te ajudar a perceber todos os fatores que estão envolvidos em cada uma das ações instrucionais que você quer fazer em sua aula.

O importante é que você consiga acompanhar cada passo do que está planejando e se sentir mais preparada(o) para sua aula.

imagem com todos os elementos do arco já desenhados

Pode parecer complexo à primeira vista. E por isso vamos destrinchar cada um dos elementos do arco para ver como se relacionam e entender a importância de cada no contexto geral.

O que me motivou a escrever esse artigo, ou das portas abertas

Eu já tive várias vezes essa sensação de planejar tudo na cabeça e então sentir que ficou meio incompleto no papel, que eu não conseguia transparecer a complexidade do que pensei. E já senti isso não só com aulas, mas também com projetos, textos, ideias.

Vou ser sincero com vocês e dizer que nunca dei aulas em um ambiente formal de educação. Mas para mim isso não significa que nunca dei aulas. Já tive outras experiências de aprendizado não-formais em que pude explorar esse meu gosto por compartilhar conteúdos e aprendizados.

Para dar um breve histórico: depois de me formar em Psicologia, atuei na área de treinamento no RH do Itaú Unibanco, onde tive meu primeiro contato com educação ao ensinar Excel básico e intermediário para minha superintendência. Depois segui meu caminho para a Tera, uma startup de educação, onde atuei como conteudista de User Experience, entendendo a importância da estratégia de conteúdo nas ações educativas, e então atuei como designer de aprendizagem para os experts (nome que era dado às instrutoras e instrutores), entendendo mais as dificuldades de se planejar, construir e executar a aula, e como traduzir isso em uma jornada de aprendizado.

Foi aí que comecei a me aprofundar no campo da educação e, principalmente, das metodologias ativas de aprendizagem. Vi que não era nada simples fazer um planejamento de aula, muito menos montar seu conteúdo e menos ainda compartilhar e executar na prática.

Nesse caminho, fui encontrando boas fontes de aprendizado, como a RBAC, o Lifelong Kindergarteen do MIT Media Lab, a Andragogia Brasil, o Porvir, a Manisfesto 55, a IAF, o Papo de Educador e outras… E teorias que abriram meus horizontes e aumentaram ainda mais a complexidade de ações educativas: Visible Learning, Metacognição, Teoria U, Teoria do Flow…

E dentre todas essas portas que foram abertas, uma me tocou mais: a Masterclass da Kaospilot com o Henrique Versteeg-Vedana sobre Facilitação de Espaços de Aprendizagem. Até então não conhecia a instituição, e o Henrique fez uma facilitação com maestria para nos apresentar como podemos melhor entender a mensagem que queremos passar adiante e como podemos estruturá-la em uma jornada de aprendizagem.

foto do encontro da Masterclass da Kaospilot, com o Henrique apresentando a ferramenta IDOART enquanto segura um café quente

Bom, foi desse encontro que conheci os arcos de aprendizagem. E, depois de me aprofundar, praticar em projetos na Prando Godoy e entender mais a fundo essa metodologia, percebi o quanto ela é útil e prática para ajudar em planejamento de aula.

Minha motivação vem principalmente depois de ver o quanto muitas instrutoras e instrutores sofriam com horas de planejamento de aula, mesmo depois de já terem dado várias, ou mesmo em casos que tinham vontade de compartilhar conhecimento, mas não sabiam como.

Inspirado pelo propósito do Filipe Deschamps (que tem um canal sensacional e que sigo devido a minha outra paixão: programação), venho aqui compartilhar essa metodologia que ainda é pouco compartilhada no exterior e também muito pouco compartilhada no Brasil. Digo isso somente com base em pesquisas do Google:

  • "arcos de aprendizagem": os resultados apontam um link da Escola de Facilitadores e também um post da Manifesto 55, além de algumas imagens de arco de Charles Maguerez. Outros resultados falam de arco ocupacional em programas corporativos.
  • "learning arches": os resultados apontam links para a Kaospilot, seus cursos e alguns links de outros sites compartilhando o material construído pelo Simon Kavanagh, da Kaospilot; nas imagens temos mais links para o aplicativo e cursos da Kaospilot, muitas referências a aprendizagem de arcos romanos (muitas!), um blog post relacionando arcos com a jornada do herói, outro blog post, um post no Twitter da University Industry Innovation Network, um slide post sobre a experiência na Kaospilot, e dois projetos europeus (aqui e aqui)

No Google Trends, não há dados suficientes para "arcos de aprendizagem".
E, para "learning arches", temos não uma curva, mas picos espaçados por nenhuma ou poucas pesquisas de número irrelevante em relação aos picos.

  • O maior pico foi no início de 2016 (ano de divulgação do manual de arcos de aprendizagem), com outro pico em maio de 2017 e uma subida agora em 2020. E não há dados suficientes para pesquisas relacionadas ou para agrupar por região ou cidade:
imagem do Google Trends com gráficos normalizados comparando os percentuais de busca entre os termos “learning arches” e “arcos de aprendizagem”

Não quero dizer com isso que essa metodologia é pouco conhecida, afinal apenas utilizei como base pesquisas do Google e ela pode estar sendo usada por várias instituições. Mas quero dizer que talvez ela seja pouco compartilhada no meio digital.

Esse artigo tem como fim uma tentativa de sumarizar o manual de arcos de aprendizagem, escrito por Simon Kavanagh, para que mais pessoas na comunidade da educação tenham acesso a essa metodologia e possam aplicar, discutir e inclusive criticar e colaborar para que ela continue melhorando e evoluindo.

Em consonância com uma fala do próprio Diretor da Kaospilot, Christer Windelov-Lidzélius em um podcast:

Acredito que é necessário existir uma certa quantidade de fricção para desenvolver coisas. […] Precisa existir algo que nos mova para frente. Por que é muito fácil se tornar complacente e dizer: ‘Sim, nós fizemos isso ano passado, vamos fazer novamente esse ano’. Esse não é o propósito da Kaospilot. […] Nós devemos liderar em direção ao que é novo, nem sempre ao que é certo ou com maior sucesso. (tradução livre)

Como esse artigo está estruturado, ou da porta e maçaneta

Vou estruturar o artigo em torno de alguns pontos principais, e deixar outros para novos artigos, assim a leitura não fica cansativa e nem pesada (já que esse é um assunto bem complexo e já será longo).

Vão ser duas partes:

  • Na primeira (essa que você está lendo), explico a importância dos arcos, sua origem, estrutura e dinâmica básica
  • Na segunda, aprofundamos mais na dinâmica de cada momento do arco, como esse movimento busca pela autonomia de estudantes e deixo alguns passos para você construir seu próprio arco de aprendizagem (além de alguns próximos artigos)

O que espero escrever nesse artigo é como arcos são estruturados, quais são suas peças, a importância de cada uma e como elas se relacionam para criar uma figura mais complexa.

Não pretendo aqui aprofundar na relação dos arcos com metodologias ativas e nem nas camadas de complexidade que isso envolveria (balanceamento entre prática e teoria, projetos, atividades individuais, grupais e em times, e outras). Isso ficará para um outro artigo.

Também quero deixar explícito que essa é uma tentativa de resumir e traduzir o manual escrito pelo Simon, e nada aqui estará escrito em pedra. É uma primeira versão que está aberta para feedbacks e melhoria contínua, e ficarei muito grato com todo comentário que assim o encarar para crescermos e divulgarmos mais conhecimento para nossa comunidade de educadoras e educadores no Brasil.

É uma porta que está sendo aberta, e assim continuará

Por que arcos de aprendizagem, ou da importância da porta

Vamos ao que interessa agora, começando pelo porquê vi na metodologia de arcos de aprendizagem algo que pode ser útil para mais pessoas. Elenco aqui quatro pontos que acredito serem os principais que vi nessa metodologia até hoje:

  1. Visibilidade
    Os arcos são visíveis. Parece algo óbvio, mas na maior parte das ferramentas e metodologias que conheci que ajudam no planejamento de aula, nenhuma delas consegue traduzir de forma sucinta a complexidade da ação instrucional. Com os arcos, você consegue de fato ver tudo o que está planejado.
  2. Estratégia
    Ao conseguir ver os arcos, você começa a perceber padrões, conexões e interdependências entre arcos. Fica mais explícita a importância que uma pequena ação tem em um arco maior e vice-versa. Dessa forma, você consegue pensar mais estrategicamente o objetivo de cada ação por menor e mais específica que seja.
  3. Interdependência
    Arcos podem ter outros arcos dentro de si. Arcos também podem se conectar entre si. E arcos também podem começar outros arcos muito maiores que o próprio planejamento que estamos fazendo.
  4. Temporalidade
    Talvez esse seja o único fator que não conseguimos controlar (pelo menos não até hoje): o tempo. Os arcos tem como base única o tempo, todo o resto é modificável, alterável, personalizável.

Agora, imagine você com uma folha de papel e alguns arcos desenhados. Você terá todas as suas ações visíveis no papel, entendendo a importância estratégica de cada uma no todo, suas interdependências e como cada uma afeta a próxima ao longo do tempo até o fim da jornada! Incrível não?!

A sensação que me deu quando construí minha primeira jornada com arcos foi de ter uma nova perspectiva sobre tudo. Isso me fez dar atenção para aspectos que pareciam não ser importantes e também para outros que nem tinha me atendado. Além disso, tudo o que eu já tinha planejado anteriormente estava lá, mas agora com uma camada de complexidade bem maior e uma jornada mais completa e bem planejada.

Para além dessas vantagens no planejamento da aula, os arcos também tem outras contribuições para a rotina de instrutoras e instrutores:

  • confiança no planejamento desenhado
  • criatividade para surgir com novas conexões
  • diálogo e troca ao compartilhar visualmente com outras pessoas envolvidas na aprendizagem: estudantes, facilitadoras e facilitadores, instrutoras e instrutores, coordenadoras e coordenadores…
  • acompanhamento temporal dos conteúdos, habilidades, valores, atitudes, tarefas, objetivos e outros elementos que compõem a aprendizagem
  • preparação para as necessidades de cada arco
  • e flexibilidade para alterações no meio da jornada

Portanto, a importância dos arcos não se basta somente em uma ferramenta que torna o planejamento algo mais prático e fácil. Também ajuda em todo o processo de desenho, compartilhamento e entrega de um currículo, seja para pessoas da instituição ou para estudantes.

E agora que este contexto já está dado, vamos entender mais a fundo a origem e estrutura dos arcos de aprendizagem.

De onde vem os arcos, ou da marcenaria

Os arcos de aprendizagem são, como já dito, uma metodologia de planejamento de aula consolidada pelo Diretor do Núcleo de Aprendizagem da Kaospilot, Simon Kavanagh. A ideia veio na proposta de sumarizar todas as estratégias de aprendizagem que eram utilizadas na Kaospilot até então.

foto do Simon Kavanagh

A Kaospilot tem em suas raízes a proposta não apenas de preparar estudantes para o futuro, mas também que sejam parte de sua criação. Sua pedagogia é fundamentada em uma dinâmica (caótica) entre as aspirações de estudantes e participantes, os objetivos de aprendizagem do programa, os projetos atuais em que é construída a aprendizagem, e suas professoras e professores, instrutoras e instrutores, e lideranças de sala - responsáveis por desenhar a jornada.

Seus princípios incluem: experimentação para construção de novos aprendizados, exploração de tendências e campos de interesse pessoal, experiência e reflexão em contextos reais, e empreendimento como forma de empoderar estudantes a se direcionarem em novas jornadas de aprendizado.

(imaginem o trabalho de consolidar toda essa dinâmica em uma metodologia que deu origem a 15 anos de programas de 3 anos sobre empreendedorismo, inovação, design e liderança rs)

Em 2009, 3 anos após sua entrada na Kaospilot e como Headmaster de um dos programas, Simon tinha a tarefa de desenvolver um novo currículo, e foi então que construiu a primeira versão dos arcos. Por 7 anos ele aplicou, desenvolveu, explorou e evoluiu a metodologia com apoio de educadoras e educadores, instrutoras e instrutores, e consultoras e consultores de todo o mundo.

Após validar repetidamente a metodologia, divulgou e compartilhou o Manual de Arcos de Aprendizagem em 2016, deixando disponível abertamente no site da Kaospilot. Segundo suas próprias palavras:

Para mim, é o método mais efetivo para definir, entregar e descobrir jornadas de aprendizagem e programas de qualquer duração e para qualquer idade ou público-alvo (tradução livre)

A estrutura dos arcos, ou da madeira

Sendo uma das bases principais do arco o tempo, podemos começar a entender a estrutura dos arcos por ele.

Como representar o tempo de forma simples e visual?

Com eixos.

imagem com dois eixos: o horizontal em uma linha contínua e o vertical em linha pontilhada

Existem dois eixos:

  • Horizontal: em que é representada a passagem do tempo, ou seja, cada arco tem um tamanho horizontal relativo a sua duração.
  • Vertical: em que é representado o nível de complexidade temporal de cada arco, ou seja, o tamanho vertical de cada arco tem uma representação temporal.

Para exemplificar esse ponto, considere os arcos abaixo. O tamanho de cada arco, horizontal e vertical, coincidem em uma representação do tempo que eles levam e complexidade que carregam na jornada: aulas, semanas, módulos, semestres, anos…

Certo, agora como traduzir os conteúdos que estão planejados para cada arco?

Bom, antes disso, temos uma separação bem importante entre o que será conhecido e o que não será conhecido.

Como assim?

Em uma jornada, planejando ou não, estamos trabalhando quatro elementos principais de aprendizagem: conhecimentos, habilidades, atitudes e valores. É o famoso acrônimo inglês SKAV (Skills, Knowledge, Attitudes and Values) e que no Brasil ficou mais conhecido como CHA.

Para melhor organizar o que está sendo trabalhado nos arcos, dividimos entre o que será conhecido, isto é, o que está evidente visualmente nos arcos, e o que não será conhecido, isto é, o que está oculto dos arcos.

  • Evidente: são os conhecimentos, habilidades, métodos, modelos e teorias que serão explicitamente trabalhados na jornada
  • Oculto: são as atitudes, valores, mindsets e competências que serão implicitamente trabalhados na jornada

Dada essa distinção, colocamos tudo que é evidente acima do eixo horizontal do tempo (podendo ser colocado livremente, seja dentro ou acima dos arcos) e tudo que é oculto abaixo do eixo e de cada arco.

Ok, agora estou com os arcos completos?

Ainda não. Por último, existem três conceitos que talvez sejam menos óbvios, mas que fazem parte do benefício dessa metodologia ser visual e são seu alicerce: todo arco tem um começo, meio e fim.

Assim como um flecha ou um projétil quando é disparado em uma parábola, existe um momento de preparação do movimento, outro em que o projétil se sustenta no ar e finalmente aterriza.

imagem do arco com os três momentos nomeados: set, hold e land

A esses três pontos essenciais de cada arco são dados os nomes de:

  • SET → traduzido* como Ambientar
  • HOLD → traduzido* como Sustentar
  • LAND → traduzido* como Aterrizar

*A tradução foi feita com base na complexidade de cada momento, para resumir ao máximo sua importância em uma ação, em um verbo. Um estudo mais aprofundado está relatado ao final dessa primeira parte do artigo.

Estes três momentos explicitam a base dessa metodologia: a aprendizagem é dinâmica. É necessário tirar o foco dos conteúdos e planejar como ele será ambientado, sustentado e aterrizado ao longo dos arcos. Essa dinâmica cria uma conexão entre estudantes e jornada, de forma que se possa trabalhar tudo o que foi elencado no currículo oculto.

A dinâmica dos arcos, ou do abrir e fechar a porta

Do início ao fim do arco, cada momento tem um movimento próprio, um objetivo, um propósito que dá sua importância no todo. Para aprofundarmos na dinâmica destes três momentos do arco, vamos utilizar uma ferramenta de apoio, os 7C’s:

  • Conexão
    Criar uma conexão pessoal com estudantes, entender seus contextos (sociais, profissionais e emocionais), necessidades, principais dificuldades e dores, qual seu nível de conhecimento. Essa conexão é importante para, como o Simon repete diversas vezes no manual, “encontrar estudantes onde estão” (original: meet them where they are at)
  • Condições
    Compartilhar qual a estrutura pensada para a jornada: objetivos de aprendizagem, expectativas, agenda, tarefas, entregáveis, papéis envolvidos, regras para trabalhar em conjunto. Apresentar as condições é importante para, além de mostrar o estilo de aprendizagem envolvido, nivelar as expectativas e fazer qualquer alteração necessária. Outra frase chamativa para esse momento é “como vamos trabalhar em conjunto” (original: how will we work together)
  • Contexto
    Engajar estudantes na jornada ao fazer um chamado para a aventura que estão adentrando. É um momento que se pode usar ferramentas como contação de histórias para criar uma narrativa que consiga unir os insumos anteriores da conexão com as condições pensadas para a jornada. A frase que cabe aqui é “por que isso é útil e relevante” (original: why is it useful and relevant)
  • Conteúdo
    Definir qual a métrica de sucesso quanto a nível de conhecimento e evolução pessoal, para que você consiga manejar como vai revelar os conteúdos para chegar a esse sucesso. Da mesma forma, deve-se fazer alterações nos conteúdos e na forma de revelação a partir das necessidades, ambições e nível de conhecimento de estudantes ao longo do arco.
  • Construção
    Dar suporte para que estudantes possam praticar em cenários mais desafiadores e com maior exposição ao risco, para que tenham uma compreensão maior dos métodos e teorias. A ideia é empoderar estudantes para que pratiquem, reflitam, analisem e liderem suas jornadas de aprendizagem.
  • Caráter
    Instigar estudantes a terem um conhecimento mais aprofundado ao colocar cenários diferentes, aumentar a complexidade das tarefas e construir entregáveis que tenham impacto e valor sustentáveis.
  • Confiança
    Apoiar estudantes na construção de suas próprias jornadas de aprendizagem para além das expectativas já levantadas. O objetivo é que tenham controle de seu potencial de aprendizagem, comportamentos, ações e direções.

Se você for reler os 7Cs, perceberá que eles se desenredam em uma ordem específica. Uma jornada de aprendizagem construída com arcos busca atingir o objetivo de cada C em ordem para construir um empoderamento maior dos conteúdos, habilidades, atitudes e valores que estão sendo trabalhados.

Bom, voltando para os momentos dos arcos, vamos ver como esses dois conceitos se encaixam:

imagem do arco com os três momentos nomeados e relacionados aos seus respectivos Cs
  • Na ambientação do arco, estão envolvidos os 3 primeiros Cs: abrir e criar uma conexão com estudantes e encontrar elas e eles onde estão; expor as condições de como a jornada desenrolará e como o trabalho será feito junto; e fazer um chamado para aventura colocando o porquê o que essa jornada é útil e relevante para seus contextos e necessidades e diante dessas condições.
  • Na sustentação do arco, estão envolvidos os 2 próximos Cs: resgatar o objetivo de aprendizagem, e entender como colher insumos de estudantes para saber onde estão e que conteúdos serão necessários para dar suporte para que cheguemos no objetivo; e balancear a dificuldade para que estudantes possam ter um aprofundamento maior do conteúdo com mais práticas e desafios.
  • Na aterrizagem do arco, estão envolvidos os 2 últimos Cs: assessorar estudantes em níveis e contextos diferentes, sustentando suas necessidades com mais conteúdos na medida em que são pedidos; e apoiar no empoderamento de sua própria jornada de aprendizagem com expectativas que superam os objetivos de aprendizagem almejados.

Cada momento do arco, então, tem um objetivo bem definido e que dá a dinâmica necessária para que estudantes se empoderem do conteúdo que está sendo trabalhado e planejado na jornada.

Esse é o final da primeira parte do artigo. Espero que tenha entendido o básico da metodologia dos arcos de aprendizagem, ao passarmos pela sua origem, estrutura e dinâmica.

Na segunda parte do artigo, vamos aprofundar ainda mais na importância de cada momento, explorando outros conceitos que não abordamos, algumas perguntas chave de cada momento e ferramentas que podemos utilizar como referência para construir, executar e finalizar os arcos de aprendizagem.

Ah, e tem mais! Também terá um passo a passo para você construir seu próprio arco de aprendizagem!

Sobre a escolha dos nomes, ou do porquê “porta”

Primeiro, explicando a metáfora da porta, para mim, é como se a cada novo conhecimento abrisse uma nova porta em que nos deparamos com um novo espaço, damos o primeiro passo e então aparecem novas portas. E esse movimento de abertura, segue também com um de fechamento, onde refletimos sobre o que foi visto no espaço, agora com um novo ângulo de vista, com uma nova perspectiva.

Enfim, apenas uma metáfora comum que é utilizada quando falamos de conhecer coisas novas e que acabou caindo bem para os títulos.

Agora, sobre os nomes. Gosto muito de etimologia e, por isso, procuro pensar cuidadosamente na escolha das palavras. Aqui está um pequeno estudo que fiz com base nas palavras originais.

O entendimento por completo da escolha por cada nome pode requerer alguns conteúdos que estão cobertos na segunda parte do artigo. Sugiro sua leitura antes.

Ambientar

Já que a palavra original é SET, por que não “preparar”?

Bom, a palavra preparar vem do latim PRAEPARATIO, “o ato de aprontar”, de PRAEPARARE, formada por PRAE, “antes”, mais PARARE, “deixar pronto”, relacionado a PARERE, “dar à luz, produzir, trazer ante”, do Indo-Europeu PER-, “trazer à frente, fazer aparecer” (fonte).

Já seu sinônimo, ambientar vem do Latim AMBIENS, “volta ao redor”, do verbo AMBIRE, “ir ao redor”, de AMBI-, “em volta, ao redor”, mais IRE, “ir” (fonte).

Ao comparar as duas origens, preparar carrega um sentido de prontidão, uma ação que produz e faz algo (o espaço) aparecer. Ambientar, por outro lado, carrega um sentido de ir até algo e rodeá-lo para, assim, dar sua forma, criar o ambiente.

Preparar pode ser mais facilmente confundido com uma ação vinda de uma única pessoa, quem dá a luz ao espaço; ao passo que ambientar circunda o espaço, conhecendo suas partes envolvidas (estudantes), para então criar o ambiente.

Optei por ambientar também por ser um termo menos utilizado, menos passível de confusão, já que a preparação é mais comumente relacionada à disposição dos elementos físicos do espaço de aprendizagem e também é relacionada genericamente ao planejamento de aula.

Sustentar

A palavra original, HOLD, carrega muitos significados, dentre os mais relacionados ao tema seriam: segurar, manter, sustentar e conter.

Segurar e conter podem ser facilmente excluídos, pois carregam o sentido de um limite que é forçadamente imposto — algo contrário ao que buscamos na jornada de aprendizagem.

Manter vem do Latim manus tenere, “ter na mão, segurar, controlar”, de tenere, “segurar, firmar” (fonte).

Agora sustentar vem de “sustentável”, de “sustentar”, do Latim SUSTINERE, “aguentar, apoiar, suportar”, de SUB-, “abaixo”, mais TENERE, “segurar, agarrar” (fonte).

Ao compararmos as duas, manter ainda carrega o sentido de controle do espaço, ao passo que sustentar dá um apoio e suporta o espaço para que permaneça presente.

Optei por sustentar também por se relacionar ao sentido de dar sustento. Uma vez que observamos o espaço e fazemos agitações para criar fricção, estamos dando sustento para que o espaço de aprendizagem se permaneça.

Aterrizar

Acho que essa foi a mais fácil e direta. LAND, como verbo em inglês, traz os seguintes significados mais relacionados aos arcos: aterrizar e pousar.

Pousar vem do latim PAUSARE, “fazer uma parada, descansar” (fonte).

Aterrizar vem do Francês ATERRISSER, “tomar contato com o solo”, de TERRE, “terra”, do Latim TERRA (fonte).

Embora o sentido de pousar traz uma boa aproximação com o propósito do momento no arco, ao propor uma pausa para reflexão. Minha opção por aterrizar vem de uma proposta de conectar com o verbo do primeiro momento do arco, ambientar.

Dessa forma, resgatamos a interdependência dos dois momentos: uma ação de (re)tomar contato com o solo, com o ambiente; de ir novamente ao redor das partes envolvidas e (re)conhecê-las para entender a influência que a sustentação do espaço teve no ambiente.

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Matheus Fonseca

I’m a psychologist, UX designer and programmer. In love with education. Building pleasant tech solutions for active learning and sharing for education community