Arcos de Aprendizagem: a ferramenta que faltava para seu planejamento de aula (parte 2/2)

Matheus Fonseca
21 min readMay 7, 2020

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Nessa segunda parte do artigo, aprofundaremos mais em cada momento e em alguns conceitos que estão envolvidos em cada um. Estes conceitos dão vida ao movimento do arco, além de serem representados também por elementos de fácil visualização.

Por fim, deixo algumas referências de materiais, alguns passos para construir seu próprio arco e também quais serão os próximos artigos. Boa leitura :)

*Caso não tenha lido a parte 1, aqui está o link.

Sobre ambientar, ou do abrir a porta

É o momento mais importante do arco. É quando criamos o espaço, a cultura, o tom e o clima para todo o período de aprendizagem; quando mostramos toda a paixão pela jornada que está por vir, considerando o conteúdo, e principalmente o empoderamento em cada estudante.

imagem do arco somente com o momento set e seus respectivos Cs

Conexão

Ao criar uma conexão com estudantes para entender suas necessidades, suas dores, seus contextos, seus níveis de conhecimento, estamos ilustrando um dos outros benefícios dessa metodologia, a interdependência: todo arco começa no término de outro.

Esse é um dos pontos mais importantes, pois uma jornada nunca começa do zero, sempre há uma jornada anterior que se conecta de uma forma ou de outra com a que estamos trabalhando. E para entender como finalizar essa jornada anterior e como criar essa conexão, podemos usar algumas perguntas chave em uma avaliação diagnóstica:

  • Que conhecimentos já conhecem?
  • Quais suas paixões de conhecimento atuais?
  • Quais suas ambições?
  • Quais são seus principais desafios atuais?

E algumas outras perguntas buscando explorar o arco anterior:

  • O que sentiram falta na(s) última(s) jornada(s)?
  • O que mais gostaram?
  • O que querem mais?
  • O que querem menos?
  • O que deu certo?
  • O que não deu certo?

O mesmo pode ser feito aprofundando em perguntas específicas de determinado assunto que é pré-requisito para uma nova jornada. Esse diagnóstico pode ser feito como questionário (online e presencial), pergunta aberta na sala, dinâmica, ou algum outro modo mais personalizado para a jornada — as possibilidades são inúmeras.

O importante é termos em mente o que faremos com as respostas. Com elas, teremos mais insumos para saber como direcionar nossos esforços ao longo da jornada e que alterações precisam ser feitas em relação a conteúdo e dinâmica. Além disso, criaremos um espaço de escuta e acolhimento para o contexto de cada estudante.

Condições

Avançando para o segundo C, ao compartilharmos a agenda, conteúdos e todas as condições de trabalho em níveis micro e macro, estamos abrindo espaço para que a jornada possa ser alterada e cocriada. Dessa forma, estudantes se empoderam mais das tarefas e expectativas que estão descritas ao longo da jornada.

É um momento de deixar transparente tudo o que será feito, qual o propósito, em quanto tempo e o que é esperado atingir, explicitando os objetivos de aprendizagem, entregáveis e o que é definido como sucesso em cada passo. Explicitar o porquê, o que, como e para quem essa jornada é direcionada, e principalmente como essas condições ajudarão a aprimorar o aprendizado.

Dica: isso pode ser feito mostrando justamente os arcos de aprendizagem já construídos

Outras perguntas podem ajudar a abrir espaço para co-criação das condições de aprendizagem:

  • Como queremos trabalhar em conjunto?
  • Quais são suas expectativas?
  • O que eu posso oferecer?
  • Estamos na mesma página quanto as condições?
  • Entendemos a fundo o que estamos buscando atingir?

Contexto

Por fim, ao fazermos um chamado para a aventura, resgatamos ainda mais a conexão estabelecida para ter mais propriedade do que está por vir, com ciência das condições estabelecidas (por todas e todos em conjunto!). Estudantes precisam saber para o que estão dizendo “Sim!”.

Técnicas de contação de histórias podem ajudar bastante nesse momento. Não significa necessariamente contar um história, mas usar elementos que criem engajamento diante da jornada que está sendo exposta. É o momento de deixar a paixão pelo tema fluir e conectar com os contextos e necessidades que conseguimos com a avaliação diagnóstica.

Expectativas sobre Ambientação

  • Criar ambição e transparência sobre o propósito, conteúdos e condições da jornada
  • Que seja um processo co-criativo para que todas as pessoas envolvidas tenham propriedade
  • Explicitar, e ajustar se necessários, tarefas, entregáveis e expectativas, asism como critérios e métricas de sucesso
  • Explicitar o que será trabalhado no nível individual, em grupo e em classe
  • Deixar aberta a possibilidade de fazer alterações ao longo da jornada em qualquer um dos pontos anteriores

Cuidados na Ambientação

  • Assim como um ano letivo inicia, também iniciam o semestre, módulos, semanas, dias, aulas… Todos os arcos devem ser ambientados
  • O tempo de ambientação de um arco pode variar conforme o tamanho do arco e isso deve ser respeitado considerando as expectativas para esse momento de ambientação
  • Dê espaço para que estudantes possam experimentar os conteúdos e as práticas a que serão expostos ao longo da jornada

Sobre sustentar, ou do espaço que se abriu

É o momento da execução em si de todos os arcos envolvidos. Trata-se de toda arte de facilitar, anfitriar e liderar as experiências de aprendizado que estão envolvidas nos espaços que criamos no arcos e entre eles.

Antes de falarmos dos 2 Cs que estão relacionados à sustentação, vamos entender o que é este espaço que foi criado, para ver sua importância nos 2 Cs.

imagem do arco somente com o momento hold, seus respectivos Cs e o espaço do arco listrado por linhas

Este espaço é onde mais uma frase de Simon se torna muito importante: “estar muito preparado e pouco estruturado” (original: be over prepared and under-structured). Isso por que para saber quando suportar estudantes com conteúdos e desafios, e como balancear suas profundidades e dificuldades, precisamos parar, observar, perguntar, medir, reagir e adaptar o que for necessário na aprendizagem, tarefas e propósito.

Essa observação e questionamento são o que nos preparam para a jornada, é o que fizemos no processo de ambientação e que precisamos continuar a fazer sempre que necessário. Por outro lado, a reação e adaptação dependem de uma estrutura que seja alterável e flexível o suficiente para se adaptar às novas necessidades e ambições de estudantes ao longo da jornada.

Para que seja possível criar essa troca, dois pontos são importantes: um deles, como já dito, é ter um processo de ambientação bem desenvolvido; o outro é ser transparente sobre suas decisões e ações, dialogando com estudantes sobre os arcos e colaborando para criar uma jornada em que estejam ainda mais empoderadas e empoderados.

Mas quando fazer essa troca?

Essa pergunta resgata um novo conceito relacionado aos arcos: os intervalos de meio de arco.

Intervalos de Meio de Arco (IMAs)

São justamente intervalos no eixo horizontal do tempo que coincidem com o meio de arcos maiores. Dada a grande quantidade de conteúdo que é abarcada em um arco maior, é importante se atentar para quando chegamos na sua metade para verificar se estamos no melhor caminho para atingir o objetivo de aprendizagem.

Por que esperar chegar o final de um arco para ver se chegamos onde queríamos chegar? Por que não fazer essa pergunta no meio do arco?

Geralmente, IMAs coincidem com o começo e/ou final de arcos menores, podendo ser uma boa oportunidade para avaliar como está a jornada além dos conteúdos do arco menor. Existe também a possibilidade de coincidir com outros IMAs menores, o que não deixa de ser um momento importante para avaliação.

imagem com o arco maior da jornada, os arcos menores desenhados e uma linha tracejada entre o meio do arco maior e a linha do eixo horizontal, coincidindo exatamente no meio do do segundo arco menor

IMAs são oportunidades de intervenção planejadas para fomentar a troca. Criam um diálogo onde estudantes são proativamente provocadas e provocados para refletir sobre sua aprendizagem e agir para se reconectar com o propósito e atingir as expectativas levantadas, ou mesmo alterar o que for necessário.

Legal, e como fazer essa troca?

Aqui vão algumas perguntas que podem ajudar a fazer uma avaliação formativa, com o objetivo de entender como estudantes estão processando tudo o que está acontecendo em relação às expectativas traçadas:

  • Como a aventura está se desenrolando (individualmente, em grupo e em classe)?
  • Que obstáculos estamos enfrentando e tirando nossa energia?
  • O que estão precisando para chegar no objetivo?
  • O que precisa acontecer?
  • O que está funcionando?
  • O que não está funcionando?
  • Para onde queremos ir agora?
  • O que você descobriu de si mesma(o) e do conteúdo que gostaria de explorar mais?

Com as respostas, você terá insumos suficientes para fazer uma avaliação de como está o clima do espaço que criamos, qual a dinâmica que se instaurou, que cultura foi cultivada.

Portanto, agora conseguimos alterar qualquer ponto na jornada e também direcionar como revelaremos os conteúdos, na medida em que precisam, e em qual o momento para interferir com um desafio. E é aqui que voltamos com os 2 Cs que se relacionam a esse momento do arco.

Como trazer conteúdos e desafios na jornada?

Essa questão traz mais um conceito para o espaço dos arcos: as agitações.

Agitações

Nessa jornada em que objetivamos o empoderamento de estudantes para que tomem controle de seu potencial de aprendizagem, precisamos por vezes interferir para instruir, direcionar e apoiar suas necessidades. A essas interferências damos o nome de agitações.

Existem 4 tipos de agitações:

  • Conteudista
    É a própria entrega de conteúdo, seja uma teoria, método ou modelo que será necessário para solucionar um problema ou trazer um conceito a tona. Porém, pensando em como não sobrecarregar estudantes, pergunte-se “quão pouco é suficiente para que já possam praticar?”, deixando que a experiência vivida na prática exija por mais conteúdo.
  • Literária
    Complementando a agitação conteudista, a literária é quando compartilhamos materiais de leitura para que estudantes possam explorar mais do conteúdo fora do espaço de aprendizagem. Ao invés de um conhecimento que é passivo, ou seja, dado no momento em que é necessário, a agitação literária exige uma busca ativa pelo conhecimento.
  • Criativa
    São dinâmicas e atividades que sustentam criatividade, divergência, inovação e inspiração para que estudantes possam chegar ou até superar o objetivo traçado. Podem ser usadas para desafiar soluções e aumentar a energia e ambição em relação ao objetivo.
  • Desafiadora
    São atividades e processos desenhados para desafiar estudantes para que lidem com diversidade, conflito, complexidade, novos contextos, dificuldades, hipóteses, viéses etc. São as únicas agitações que não são mostradas nos arcos. E sempre devem ter um propósito relacionado aos arcos e deve também ser aterrizada.

Essas agitações são planejadas para criar engajamento, ambição e autonomia de estudantes. São elas que criam a experiência do aprendizado, devendo sempre ser acompanhadas de uma observação e escuta ativas para as necessidades de estudantes.

Conecte elas aos propósitos e objetivos de cada arco para sustentar a dinâmica do espaço, balanceando entre agitações de alto e baixo nível de exigência, introspecção e extroversão, individual e em grupo, teoria e prática.

Nos arcos, elas podem ser representadas com as iniciais envoltas por um círculo, como na imagem abaixo:

imagem com os arcos desenhados (arco maior e os três menores), com o IMA do arco maior e os quatro tipos de agitações distribuídos entre os três arcos e um deles ligado ao arco maior

Por meio dos momentos de reflexão nos IMAs, teremos insumos para saber qual o melhor momento de cada agitação. Isso só é possível — frisando aqui novamente — após a criação de um canal de diálogo aberto com estudantes na ambientação, para que essa troca se sustente ao longo do arco.

Dessa forma, o espaço de aprendizagem se estabelece entre momentos de agitação e momentos de troca. Esse dinamismo é essencial para que ocorra a sustentação do arco, isto é, para que a aventura que estudantes disseram “sim” no começo da jornada se mantenha interessante — e, por que não, caótica.

Expectativas sobre Sustentação

  • Resgate com estudantes quais as condições e contexto que foram estabelecidos no início da jornada
  • Abra para sugestões e aja nas mudanças, deixando explícito o que poderá ser alterado e o que não
  • Compreenda como está o clima do espaço de aprendizagem e compartilhe o que está vendo
  • Avalie quais são as necessidades em cada momento, principalmente em atividades e dinâmicas de agitação
  • Compreenda seu papel e efeito no espaço de aprendizagem

Cuidados na Sustentação

  • Balanceie a dinâmica do espaço
  • Balanceie entre confusão das agitações e revelação de conteúdo
  • Não se prenda ao conteúdo
  • Não dê todas as respostas nem interfira demais
  • Pergunte sobre o clima sempre que achar necessário, não espere somente o momento do IMA

Sobre aterrizagem, ou do (não) fechar a porta

imagem do arco somente com o momento land e seus respectivos Cs

Para recapitular o que vimos até aqui:

Entendemos como a ambientação cria um canal de abertura entre estudantes e quem está instruindo, dando voz às suas necessidades, níveis de aprendizado e paixões para que se criem condições adequadas ao chamado para aventura.

Agora que sabemos que a sustentação de um arco dá atenção para como está se construindo o espaço de aprendizagem, e temos ferramentas de agitação para criar sua dinâmica a partir do que foi percebido e avaliado nas trocas.

Isso adicionou um nível a mais de complexidade para os conteúdos de cada arco e também para sua relação com outros arcos. Afinal, algumas atividades (criativas ou desafiadoras) podem envolver mais de um conteúdo, estando entre dois arcos, ou então algumas literaturas podem abranger um conceito maior do que o que está descrito em cada arco.

Bom, para isso existe um conceito que pode nos ajudar a criar uma camada intermediária entre um arco maior e arcos menores: são os chamados X-Levels. Vamos entender este conceito antes de relacionar com os 2 últimos Cs que envolvem este momento do arco.

X-Levels

São arcos que englobam outros arcos por algum padrão ou algum cruzamento entre conteúdos, práticas e estilos de aprendizado de um ou mais arcos. Eles estão entre os arcos regulares de aulas, semanas, módulos, semestres… e só aparecem após o desenho de cada um desses arcos.

Quando já temos o desenho da jornada feito, com os conteúdos, habilidades, atitudes, valores e agitações definidos, damos um tempo para respirar e olhamos a jornada com um olhar macro — por esse motivo deixei para explicar somente agora. A partir desse novo olhar, surjem novas ideias e correlações que não estávamos vendo quando focamos na construção de cada arco.

Dentro de nossa jornada de exemplo, podemos colocar os X-Levels em destaque pela cor verde:

imagem com os arcos desenhados (arco maior, os três arcos menores e um x-level englobando os dois primeiros arcos menores). Tanto o arco maior quanto o x-level estão com seus IMAs tracejados. O IMA do x-level coincide exatamente com o final do primeiro arco menor

X-Levels geralmente não estão presentes em currículos tradicionais, pois esses são construídos de forma linear, olhando arco por arco e não suas interligações. X-Levels apoiam a criatividade ao permitir que você e estudantes construam melhores formas de revelar e conectar conteúdos e ambições de aprendizagem, aumentando a relevância e o propósito de cada arco.

Mas uma coisa importante: assim como os demais arcos, eles também precisam ser ambientados, sustentados e aterrizados!

Da mesma forma, as agitações podem ter um propósito relacionado a um X-Level e influenciar mais de um arco. E os IMAs de X-Levels também devem ser considerados em sua sustentação, pois marcam um momento crucial da jornada.

Agora que já criamos nossos X-Levels, podemos entender como se relacionam com a criação de caráter e confiança de estudantes em seus potenciais de aprendizagem. Uma vez que já criamos um ambiente para troca na ambientação e abrimos espaço para que essa troca aconteça na sustentação e adapte a jornada conforme as necessidades forem surgindo, o empoderamento de estudantes sobre suas próprias jornadas de aprendizado está crescendo continuamente.

Nesse momento de aterrizagem, estudantes provavelmente estão pedindo por mais ou menos de algum conteúdo, prática ou reflexão. Porém, a jornada está acabando. Precisamos acalmar o clima para avaliar o que foi aprendido, mas também entender o que foi vivido e transformado em relação a atitudes, valores e mindsets.

Dessa forma, podemos apoiar e fomentar essa vontade de aprendizado para o próximo arco (seja ele relacionado a nossa jornada ou não), conectando os arcos ou mesmo resgatando a importância do arco diante do propósito maior da jornada.

Mas como criar contexto para que possamos aterrizar?

Essa pergunta ressalta a importância do estilo de aprendizagem que foi escolhido para o arco. Existem estilos diferentes e que podem se aplicar melhor para cada conteúdo e contexto, dando mais ênfase para o momento de revelação de conteúdo, ou para prática, ou mesmo para a relação entre os dois.

Estilos de Aprendizagem

Em resumo, estilos de aprendizagem são a forma como pessoas aprendem, envolvendo como elas percebem, aplicam e respondem a novos conteúdos, habilidades, atitudes e valores. Assim como cada pessoa pode ter um estilo preferido, um grupo ou uma classe pode também ter um estilo preferido em comum.

O objetivo final de estilos de aprendizagem é conseguir transmitir o conteúdo em determinado contexto, ressaltando sua importância em nível pessoal, profissional, local e global para que estudantes possam se apoderar e construir sua visão de mundo em relação ao conteúdo.

Vamos focar em apenas quatro estilos principais, embora possam ser elaborados outros que se apliquem melhor para cada conteúdo e contexto.

  • Ensinar-Aprender-Perfomar
    Trata-se do ciclo mais tradicional.
    Começa com a revelação de conteúdo para que estudantes aprendam a relevância do conteúdo. Após isso, são expostos a uma avaliação de performance para verificar se atingiram as expectativas e objetivos de aprendizagem. O ciclo, então, pode se repetir ou não a cada aprofundamento do conteúdo ou para novos conteúdos.
  • Ensinar-Aplicar-Aprender
    Um ciclo mais ativo em aprendizagem.
    Estudantes recebem o conteúdo e então são expostos a uma atividade prática para que possam testar os conhecimentos e habilidades, e assim aprender com a experiência que viveram. O ciclo se repete ao receberem mais conteúdo para complementar os aprendizados da prática e então serem expostos a novo prática.
  • Experiência-Reflexão-Aprender-Aplicar
    Também conhecido como Ciclo de Aprendizagem Vivencial, de David Kolb, teórico da educação.
    Inicia com estudantes sendo expostos a uma experiência para que vivenciem o conteúdo na prática logo de início. Em seguida, passam por um momento de reflexão de como foi a experiência, para somente então ser revelado o conteúdo. Após isso, passam por uma nova prática onde aplicam um misto da reflexão e aprendizados da experiência com os novos conteúdos que receberam. Este é o último passo do ciclo e também o início de um novo.
  • Aplicar-Aprender-Adaptar-Repetir
    Por fim, este é o estilo mais utilizado pela Kaospilot, buscando otimizar o equilíbrio entre prática e teoria.
    A primeira prática tem como objetivo entender onde estudantes estão, quais seus níveis de conhecimento. Em seguida, são revelados alguns conteúdos em doses, respeitando o questionamento de quão pouco é suficiente. Logo após isso, estudantes são provocados para escolher um desafio de complexidade maior que a prática anterior, podendo ser um projeto ou caso real. Os conteúdos, então, são revelados à medida em que se fazem necessários, para que estudantes aprendam e adaptem suas ações no projeto.

A ideia aqui não é simplesmente escolher um estilo de aprendizagem, mas sim explorar diferentes estilos de aprendizagem ao longo da jornada para criar uma dinâmica e atender às necessidades de aprendizado de estudantes.

Uma vez que criamos o contexto para a aterrizagem do arco na dinâmica do estilo de aprendizagem, resta a dúvida de como fazer essa aterrizagem e tratar o empoderamento e necessidade de aprendizagem de estudantes.

Temos dois tipos de aterrizagem que podem acontecer em dois níveis diferentes:

Níveis

  • Passivo
    Há um momento de avaliação que encoraja estudantes a refletirem sobre o que já aprenderam e o que precisam aprender mais para alcançar o objetivo traçado. Não passamos para o próximo arco enquanto todas as pessoas não estiverem no nível de aprendizagem almejado.
  • Ativo
    Estudantes são instigadas e instigados a separarem ativamente um espaço para se auto-avaliarem quanto ao aprendizado, ou fazerem uma avaliação em pares sobre como foi a aprendizagem em relação a experiência, processo, conteúdo, prática etc.

Tipos

  • Padrão
    Verificamos se o objetivo de aprendizagem traçado na ambientação foi cumprido, se todo conteúdo foi aprendido ou então se houve algum obstáculo ou se é necessário algum conteúdo ser revisitado ou incluído. A pergunta principal é: estamos prontas e prontos para seguir em frente?
Imagem do final de um arco e início de um outro, sem conexão
  • Cíclico
    Além de revisitar e avaliar os conteúdos, também retroagimos todos os pedidos e as respostas no próximo arco e/ou numa segunda prática para que tenham uma nova oportunidade de aprendizado. A pergunta principal é: o que podemos fazer melhor numa próxima vez?
Imagem do final de um arco conectado a outro por um pequeno arco invertido

Com aterrizagem cíclicas exploramos possibilidades de conexão entre arcos, criando contextos e desafios que tenham um nível de dificuldade e complexidade maior e relacionados ao propósito do próximo arco.

Mas também existe a possibilidade de essas práticas e necessidades levantadas não estarem relacionadas ao próximo arco. Nesse caso, podemos conectar com um arco mais a frente ou podemos iniciar um arco de uma outra jornada externa à nossa.

Aqui entra a importância da interdependência entre o momento de aterrizagem e ambientação — e vice-versa. Todo arco que começa tem um anterior que precisa ser aterrizado; todo arco que termina precisa dar cabo para um novo arco que começa.

Nesse ponto, podemos relacionar com dinâmicas de check-in e check-out, com práticas que influenciam outros arcos (seja de um semestre para outro, ou que influencie outra esfera na vida da pessoa), e com o conceito de aprendizagem para toda vida — o famoso Lifelong Learning.

Imagem ilustrando como aterrizagem cíclica cria outros arcos que extrapolam o espaço de aprendizagem da jornada.

Importante sinalizar que são formados arcos abaixo da linha do tempo e eles também merecem atenção para como serão ambientados, sustentados e aterrizados, dando seu tempo necessário. Eles podem ter duas opções de atuação:

  • Com intervenção
    A avaliação é feita no próprio ambiente de aprendizagem, podendo focar no que retroagir das respostas para o próximo arco; ou usar esse tempo somente para reflexão e alteração da jornada; ou então fazer a aterrizagem em duas partes sendo a primeira uma aterrizagem padrão e depois uma aterrizagem cíclica.
  • Sem intervenção
    A avaliação é feita fora do ambiente de aprendizagem, instigando estudantes a se organizarem para isso. É necessário passar algumas condições e boas práticas para que essa avaliação possa ocorrer da melhor forma. Também é importante compartilhar o resultado das avaliações antes de finalizar a aterrizagem, para que seja possível conectar as necessidades com a ambientação do próximo arco.

E assim conseguimos finalizar nosso arco e dar apoio e início à próxima, que pode ou não estar relacionada à nossa jornada. Conseguimos resgatar o que foi acordado na ambientação, tratar o impacto de todas alterações e agitações feitas ao longo da sustentação, e, por fim, dar cabo à autonomia e controle do potencial de aprendizagem de estudantes.

Expectativas sobre Aterrizagem

  • Reconectar com o propósito e conteúdo do arco e sua relação com o propósito da jornada
  • Estudantes saberem onde estão na jornada de aprendizado
  • Criar espaço para que estudantes tragam necessidades, critérios de sucesso, o que gostariam mais e menos em relação a conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e agitações
  • Acolher as respostas e tratar de acordo com a estratégia de aprendizado estabelecida
  • Crie propósito para os processos de avaliação, reflexão e compartilhamento
  • Deixar explícito quais serão os próximos passos ao compartilhar os arcos

Cuidados na Aterrizagem

  • Celebre o sucesso!
  • Finalize com energia e com espaço para compartilhamento
  • Deixe explícito que os feedbacks, as sugestões e respostas serão tratados na medida do possível no próximo arco
  • Engaje o máximo de estudantes possível no processo de aterrizagem para colher sugestões, alterações e novas soluções
  • Quanto maior o arco, maior o tempo necessário para aterrizagem
  • Verifique se há algum IMA de um arco maior coincidindo com a aterrizagem para aproveitar o momento de reflexão
  • Lembre-se: todo arco que finaliza começa um novo!

Sobre o caminho do arco, ou da dinâmica da porta

Finalizamos todo o caminho do arco, passando pelos três momentos principais (ambientação, sustentação e aterrizagem) e pelos conceitos inerentes a cada um (intervalos de meio de arco, agitações, x-levels, estilos de aprendizagem, e estilos de aterrizagem).

Também entendemos como os diferentes momentos se relacionam com os 7Cs. Apenas lembrando:

  • Na ambientação do arco, estão envolvidos os 3 primeiros Cs: abrir e criar uma conexão com estudantes e encontrar elas e eles onde estão; expor as condições de como a jornada desenrolará e como o trabalho será feito junto; e fazer um chamado para aventura colocando o porquê o que essa jornada é útil e relevante para seus contextos e necessidades e diante dessas condições.
  • Na sustentação do arco, estão envolvidos os 2 próximos Cs: resgatar o objetivo de aprendizagem, e entender como colher insumos de estudantes para saber onde estão e que conteúdos serão necessários para dar suporte para que cheguemos no objetivo; e balancear a dificuldade para que estudantes possam ter um aprofundamento maior do conteúdo com mais práticas e desafios.
  • Na aterrizagem do arco, estão envolvidos os 2 últimos Cs: assessorar estudantes em níveis e contextos diferentes, sustentando suas necessidades com mais conteúdos na medida em que são pedidos; e apoiar no empoderamento de sua própria jornada de aprendizagem com expectativas que superam os objetivos de aprendizagem almejados.

Ao percorrermos esse caminho do arco, temos uma dinâmica que estabelece como objetivo principal a autonomia e empoderamento de estudantes em relação aos conteúdos, habilidades, atitudes e valores trabalhados. Essa dinâmica também traz a questão de como se dá a participação de quem está instruindo ao longo do arco.

Pois bem, essa autonomia de estudantes e participação de quem está instruindo é representada nos arcos com duas linhas que crescem e diminuem em proporção inversa.

Imagem com os arcos construídos e as linhas de dependência e autonomia traçadas do início ao final da jornada.

No início da jornada, assim como de todo arco, a expectativa é que a participação e interferência de quem está instruindo seja maior, para criar a ambientação e auxiliar no engajamento e co-participação em relação à jornada.

Conforme a dinâmica de desafios e conhecimentos for se instaurando na sustentação, essa interferência vai se balanceando com uma presença maior de estudantes no direcionamento da jornada.

E, ao final do arco, a autonomia de estudantes sobre seus potenciais de aprendizado deve estar praticamente firmada, com apoio de quem está instruindo para aterrizar e sanar qualquer necessidade para seguir adiante.

Esse caminho representa como arcos se relacionam com sua base: as metodologias ativas de aprendizagem. O objetivo principal não é somente “passar” o conteúdo, mas “ativá-lo”. E isso só é possível ao abrir espaço para que estudantes pratiquem, arrisquem, errem, tenham dúvida, engajem no desafio, peçam por conteúdo, entendam o propósito.

Essa dinâmica entre conteúdo e prática é bem complexa. Neste artigo, exploramos uma metodologia que busca consolidar como se aproximar desse desafio, focando nossa atenção em pontos importantes para a aprendizagem e principalmente tornando esse processo mais fácil de ser visualizado.

Mas ainda temos um longo caminho pela frente: que ferramentas e práticas usar em cada um desses momentos? quais perguntas devem ser feitas? como lidar quando as coisas não saem como planejado? como balancear as evoluções individuais, em grupo e em classe? como explorar o contexto de cada pessoa e o contexto que compartilhamos (em nível local e global)?

Esses pontos ficam para um próximo artigo. Aliás, falando em artigo…

Aterrizando o artigo, ou do primeiro passo

Não sei se foi perceptível, mas, para estruturar esse artigo, utilizei a própria metodologia dos arcos. Busquei criar pequenos arcos ao longo dos 7Cs que se conectavam ao aterrizar e criar um novo contexto para ambientar o próximo por meio de uma pergunta.

Se você chegou até aqui, imagino que gostaria de saber mais sobre essa metodologia. Vou deixar aqui alguns materiais de referência que a própria Kaospilot também disponibiliza abertamente em seu site:

Você pode se aprofundar na metodologia ao ler o manual e também utilizar o template para criar os arcos para sua própria aula ou planejamento de semana, módulo, semestre, ano…

Por fim, para te apoiar, traduzo algumas dicas do Simon para construir seu próprio arco em três grandes etapas:

Por cima

  1. Desenhe os arcos a partir do currículo, acima da linha horizontal do tempo
  2. Coloque os nomes, conteúdos principais e propósito
  3. Aterrize os arcos com os conteúdos que espera que sejam aprendidos
  4. Verifique se é necessário criar arcos menores para detalhar onde e quando serão trabalhados os conteúdos
  5. Adicione intervalos de meio de arco que sejam marcantes e sejam boas oportunidades para avaliar o progresso e a dinâmica do espaço de aprendizagem
  6. Desenhe o arco maior da jornada de aprendizagem e aterrize ele com os objetivos de aprendizagem esperados
  7. Olhe novamente para os arcos e realize qualquer alteração necessária
  8. Balanceie a dinâmica entre confusão (com desafios, riscos e pouco conteúdo) e estrutura (com conteúdo, acolhimento e interferências), com a preocupação de não criar confusão demais e gerar frustração

Por baixo

  1. Escreva as atitudes, valores, mindsets e competências (currículo oculto) abaixo da linha horizontal do tempo
  2. Explore as ambientações e aterrizagens dos arcos para criar uma conexão emocional em níveis individual, em grupo e em classe
  3. Crie oportunidades de aterrizagem que tragam reflexões e empoderamento sobre o currículo oculto

Pelo meio

  1. Respire e olhe os arcos desenhados para perceber padrões e conexões entre arcos e desenhe os X-Levels
  2. Esboce ideias de como será feita a ambientação, sustentação e aterrizagem de cada arco
  3. Elabore as agitações e entregáveis para cada arco
  4. Estruture o estilo de aprendizagem para cada arco
  5. Respire, olhe novamente para os arcos e se pergunte: há muitos arcos aterrizando ao mesmo tempo? existem arcos não sendo ambientados e/ou aterrizados? muita ação e prática e pouco espaço para reflexão e avaliação?
  6. Realize qualquer alteração necessária
  7. Compartilhe e discuta

Cuidados para o desenho de arcos

  • Não busque perfeição no primeiro desenho
  • Compartilhe o desenho para receber feedback e melhorar continuamente (o mesmo será feito ao longo da jornada)
  • Todo arco precisa ser ambientado e aterrizado!
  • Sempre proporcione desafios em contextos e níveis de dificuldade cada vez mais complexos, de preferência com situações reais

Espero que, com essas informações, você consiga trabalhar no seu próprio arco de aprendizagem e seguir com confiança e autonomia em sua jornada de aprendizagem sobre arcos de aprendizagem :)

E, como uma boa prática do que escrevi, deixo aqui meu contato para caso tenha feedbacks ou queira compartilhar algo, para que possamos trabalhar esse momento de reflexão e avaliação no estilo de aterrizagem padrão ativa:

Estou à disposição para ajudar no que puder nesse tema, visto que é um que tomou grande proporção em meu contexto profissional. Aliás, esse é um dos pontos que pretendo aprofundar mais, além de deixar você com alguns próximos passos.

Próximos artigos, ou das próximas portas

Como propósito atual, pretendo unir cada vez mais os campos da educação e tecnologia, por meio da criação de experiências de uso e aprendizagem mais prazerosas e dar mais acesso a essas informações e experiências.

Continuando em minha prática de tradução e buscando ajudar ainda mais a comunidade da educação — ainda mais no momento que estamos, pretendo traduzir o artigo do Simon sobre criação de arcos de aprendizagem online.

Em seguida, quero me aprofundar no que vem antes e depois da construção dos arcos. Como chegamos à ideia do que queremos transmitir de mensagem para o mundo? Com os arcos já construídos, como lidar com mudanças na jornada e criar novas conexões entre arcos?

Outro ponto para o futuro é relacionar essa metodologia com outras áreas, começando por gerenciamento de projetos e comunicação. Vejo algumas conexões em que essa metodologia pode servir de apoio para dar estrutura a alguns conceitos.

Em paralelo, sigo com projetos de desenvolvimento de experiências digitais para que essas informações possam ser mais acessíveis e transmitidas de maneira prazerosa a estudantes, instrutoras e instrutores. Que a tecnologia sirva de meio para darmos mais atenção e cuidado na aprendizagem.

Até breve,

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Matheus Fonseca

I’m a psychologist, UX designer and programmer. In love with education. Building pleasant tech solutions for active learning and sharing for education community