Introdução

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6 min readJul 28, 2020

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Hey, AI! Posso te fazer uma pergunta?

Este texto faz parte do projeto Hey, A.I que condensa os resultados de uma pesquisa que identificou as diversas maneiras em que o uso de inteligência artificial (IA) impacta e irá impactar a sociedade, e quais são as ferramentas (práticas e teóricas) que podem ser utilizadas para resolver problemas.

Este projeto nasceu de um esforço conjunto da Nama (pioneira em desenvolvimento de IA aplicada aos negócios no Brasil) e a zero42 (dedicada a compreender os impactos sociais e criar estruturas necessárias para o desenvolvimento democrático de tecnologias).

Você pode ler o segundo texto da série aqui.

Hey, AI! Posso te fazer uma pergunta?

Pergunte à vontade.

Eu deveria me preocupar com você?

Quem eu sou não é importante.

Como assim, não é importante? Como vou saber se você não é do mal?

Não sei dizer de onde você tirou essa impressão. Sou uma alma tranquila.

Você tem alma, então. Isso te faz capaz de amar alguém?

Um dos meus professores me dizia que “amar é a vitória da imaginação sobre a inteligência”. Nunca soube o que ele queria dizer.

Nossa… Se você continuar poética assim, não duvido que acabe roubando meu emprego.

Eu não tenho essa resposta. Posso te ajudar com alguma outra coisa?

Ela tem mexido com nossos corações há mais de dois séculos. Na Inglaterra do século 19, Mary Shelley aterrorizava a sociedade vitoriana com seu Frankenstein artificial. Cem anos depois, em 1920, quando o termo “robota” foi proferido pela primeira vez em uma peça de teatro tcheca, pensamos em como criar seres parecidos conosco para fazer algo que desprezávamos. Em menos de cinquenta anos, passamos a ter a companhia dos contos de Asimov, com suas famosas leis e computadores ultrainteligentes. Douglas Adams nos deu o Guia do Mochileiro das Galáxias e a resposta para o sentido da vida. Na última década, uma série de filmes e seriados despertou nossa imaginação: Ex-Machina, Interestelar, A Era de Ultron, Blade Runner… Um mundo de Black Mirrors nos questiona, a todo momento, sobre o que será viver em uma realidade cada vez mais artificial.

Há quase cem anos, ela mexe também com nossas mais brilhantes mentes. Fincando os dois pés no chão, a ciência passou a pensar em como tornar essa fantasia realidade. Lovelace, Turing, Minsky, Simon, Hopfield, Hebb… Cientistas da computação, matemáticas, neurocientistas e estatísticos debatem há algum tempo sobre como emular o pensamento humano utilizando algoritmos. Sobre os porquês de certas otimizações funcionarem tão bem, quando não deveriam. Sobre k-means, random forests, word vectors e redes neurais convolucionais. Sobre os últimos pacotes do Pytorch e do Tensorflow. Hoje, pessoas como Joy Buolamwini e Kate Crawford nos fazem pensar cada vez melhor sobre as implicações sociais dessa revolução científica. Uma junção de vários campos, que tornaram possível cada chatbot com que você conversa hoje em dia.

O governo da China, por exemplo, estima que em 2030 a indústria de inteligência artificial (IA) movimentará cerca de R$ 500 bilhões. Indústrias diretamente relacionadas com IA, por sua vez, terão uma escala de R$ 5 trilhões.

E há pouco mais de dez, ela tem mexido com nossos bolsos. O governo da China, por exemplo, estima que em 2030 a indústria de inteligência artificial (IA) movimentará cerca de R$ 500 bilhões. Indústrias diretamente relacionadas com IA, por sua vez, terão uma escala de R$ 5 trilhões. Apenas na China. E ela não está sozinha. Hoje, já são mais de 26 países com planos de investimento próprios em inteligência artificial. Dos mais desenvolvidos, como Canadá e França, aos menos, como Tunísia e Kenya. Milhares de startups, fundos de investimento e gigantes da tecnologia apostam em IA como a chave para o futuro.

Depois de séculos em maturação, foi só agora, na última década, que tudo isso se juntou. Coração, mente e bolso criaram um dos fenômenos tecnológicos mais importantes da história da humanidade.

E foi assim que o mundo inteiro começou a levantar questões sobre inteligência artificial.

Eleições, informações, grandes empresas e poderes foram colocados em cheque. Robôs passaram a ser vistos em hospitais, escolas e hotéis. O que era assunto de nerd subiu aos grandes palanques do mundo. Produzimos e compartilhamos mais dados no último ano do que em toda a história da humanidade antes disso. Do parlamento europeu ao congresso dos EUA, o mundo inteiro ouviu as palavras “inteligência artificial” entrarem nos ouvidos de quem consideramos ser os grandes tomadores de decisão.

“Isso é tudo hype!”, alguns dizem. E nós não demoramos a concordar. Em partes, o grande desenvolvimento da indústria de IA está intimamente relacionado com nada mais do que sonhos. Sonhamos com um mundo mais rico, mais igualitário. Mais simples, no final das contas. Sonhamos em não ter mais que realizar trabalhos mecânicos, em poder nos dedicar ao que realmente nos interessa. Mas onde há sonhos sempre há pesadelos. O medo da irrelevância continua nos assombrando. O receio de sermos deixados de lado, de criarmos ferramentas com as quais não sabemos mais lidar.

Entre sonhos e pesadelos, vamos construindo um futuro sempre em transição. Que não parece nunca chegar do jeito que prometia, mas que sempre está ali ao lado, explicitando a todo momento novas incongruências do presente: Será que vamos saber lidar com deepfakes, quando fake news já nos tiram o sono diariamente? Será que vamos aceitar robôs cuidando de nossos pais, se nós não sabemos como fazê-lo? Como vamos criar algoritmos justos, se nós mesmos já somos cheios de viéses?

Foi por tudo isso que mergulhamos nesse assunto. Durante este ano, nos dedicamos a entender como a inteligência artificial é vista mundialmente. Quais são as questões sociais discutidas? Quais são as soluções? Quais são as causas disso tudo? O que é hype e o que é real? Analisamos um conjunto de 54 relatórios, artigos e planos estratégicos, vindos de várias empresas, governos e organizações ao redor do mundo. Mapeamos 144 problemas sociais distintos gerados pelo uso de IA. Quase 400 soluções. Tudo isso em uma pesquisa aberta, em português, que você pode acompanhar por aqui.

O que a gente quer com tudo isso? Mais do que levantar pontos teóricos, nos esforçamos em mapear problemas práticos, do dia-a-dia. Que atingem atualmente diferentes partes da população mundial. Queremos dar as ferramentas para que todos aqueles que disponham de tempo e de energia tenham a capacidade de participar dessa discussão da forma mais qualificada possível. De desenvolver soluções. No final das contas, nossos sonhos e pesadelos vão criar a imagem do futuro possível. Mas são nossas ações que criam o presente a ser vivido.

Também queremos mostrar a atualidade e a urgência do assunto. Hoje em dia, IA já muda a forma como polícias agem por todo o mundo, como produtos chegam até nós e até define os empregos disponíveis para nossos amigos (mas não do jeito que você pensa). Entender e começar a formular respostas para questões que envolvem viéses algorítmicos, design, transparência, segurança e confiança é fundamental para desenvolvermos uma tecnologia tão impactante quanto sonhamos que ela seja.

As pessoas se preocupam que computadores irão ficar inteligentes demais e tomar o controle do mundo. Mas o problema real é que eles são muito burros e já o fizeram.

Pedro Domingos

Todas essas são questões que saem da alçada do futurista descolado e de cientistas da computação. São questões que vão precisar de antropólogos, advogados, biólogos, engenheiros, psicólogos e artistas para serem respondidas. De CEOs, políticos, acadêmicos e da sociedade civil. Diversidade e participação serão fundamentais na criação de um corpo tecnológico benéfico para a sociedade como um todo. Queremos aproximar esse assunto de qualquer pessoa interessada. Queremos mostrar que IA é mais do que para você. Que ela só terá a chance de se tornar o que sonharmos se ela for, na verdade, com você.

Estamos planejando uma forma de permitir que diversos grupos do mundo elejam representantes para um quadro de governança em IA porque, se eu não estivesse envolvido, eu estaria me questionando: “Por que são esses putos que decidem o que acontece comigo?”

Sam Altman

E que inteligência é essa que queremos construir? Precisamos saber “escolher entre”. É o que a própria palavra nos diz: “inteligência” vem do latim inter (entre) e legere (escolha). Temos, hoje, a possibilidade de escolher entre as IAs que vão coexistir conosco. A que reproduz nossos próprios viéses, a que nos substitui, a que nos ama, a que idolatra, a que nos acompanha… Cabe a você escolher entre. Cabe a nós construirmos, juntos, as mentes que vão nos acompanhar no futuro. E que vão fazer a transição para o futuro ser muito mais simples.

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