Web3 para leigos

Pedro Helmold
4 min readNov 1, 2021

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O futuro da internet é do interesse de toda a sociedade.

Ethereum — ETH.

Hoje mesmo, enquanto fazia uma tapioca com ovo frito, expliquei pra minha vó o que era a Web3. Se ela entendeu, acho que já posso me atrever a escrever este artigo.

O que é Web3?

Antes de entender o que significa o “3”, preciso adiantar que web é literalmente “teia”, em inglês. Essa teia, a internet, nós já conhecemos. No entanto, ela nem sempre foi da forma que é hoje. Tudo começou na Web1.

Web1 (1990–2005)

Nessa época os sites eram grandes páginas de textos repletos de links como em um enorme armazém de dados. A informação contida nessas páginas era disponibilizada por criadores e desenvolvedores com alguma dificuldade e não havia muita interação do usuário com o conteúdo.

A título de exemplo: se você quisesse pesquisar sobre algo, provavelmente iria para uma enciclopédia online, e não na wikipédia.

Como era uma internet ainda muito simples, não havia um grande valor sendo produzido. Haviam poucos serviços disponíveis e a maioria deles não se utilizava de muita interação com os usuários.

De certa forma, o valor gerado era ainda bastante difuso entre uma comunidade de criadores e desenvolvedores entusiasmada com uma tecnologia nascente feita praticamente de protocolos abertos.

Web2 (2005–2020)

Aqui o jogo muda. Com o desenvolvimento mais dinâmico, agora é possível interagir como nunca. Surgem amplas plataformas de criação de conteúdo, sejam blogs, canais de vídeo e redes sociais. Todos os usuários agora podem ser criadores e desenvolvedores sem muita dificuldade.

Nessa fase da web, a maioria do valor gerado estava relacionada a nomes como Google, Amazon, Facebook e Apple. Todas empresas com seus impérios digitais, plataformas com bilhões de usuários e muito poder nas mãos.

Trata-se da centralização da internet, que se torna mais opaca.

Web3

Finalmente, o horizonte que já podemos enxergar. Estamos atualmente no começo da era Web3. Nela, juntamos a transparência e a centralização da Web1 com a funcionalidade e dinâmicas da Web2.

Uma nova internet onde usuários, criadores e desenvolvedores todos se beneficiam com o fortalecimento das plataformas com as quais colaboram. Como se beneficiam disso? Através de tokens.

Entro em detalhes mais adiante.

O problema da centralização

Plataformas centralizadas frequentemente seguem um caminho viciado e previsível.

Primeiro, fazem todo o tipo de esforço para atrair usuários e terceiros, como empresas e criadores de conteúdo.

Essas plataformas fazem isso para fortalecer o que é chamado de efeito de rede. A partir dele, conforme o tempo passa e a plataforma passa a ser mais adotada, cresce o poder e a influência da plataforma sobre seus usuários e colaboradores.

No momento em que chegam a um tamanho grande o suficiente, passam a exigir uma contrapartida. Do usuário, capturam dados de comportamento e influenciam suas atividades através de algoritmos. Das empresas e criadores, além de ficarem com os dados, obrigam-nas a jamais conflitar com seus interesses.

É o exemplo do que ocorreu com a Epic Games e Apple: A Epic, dona da enorme franquia de jogos Fortnite, foi proibida de disponibilizar seus jogos na AppStore. A razão? Eles estavam promovendo pagamentos dentro do jogo sem utilizarem a AppStore. A Apple, plataforma quase monopolista, exige controle total.

Há outros exemplos, como o caso do Facebook e da Zynga. Lembram do Farmville?

O problema: o valor acumulado em cima de toda a contribuição dos criadores e usuários fica com a empresa, que concentra a maior parte desses benefícios.

Como a Web3 resolve isso?

Nela, usuários, criadores, investidores e desenvolvedores podem ser “donos” de parte desses serviços através da posse de tokens.

Existem dois tipos de tokens: os fungíveis e os não fungíveis (NFTs).

Ambos dão aos usuários direitos de propriedade, ou seja, a habilidade de ser dono de algo na Web3.

NFTs dão ao seus donos a habilidade de possuir objetos, que podem ser arte, fotos, códigos, música, texto, objetos em jogos online, credenciais, direito a voto… muitas coisas.

NFTs existem sobre blockchains como a Ethereum.

A Ethereum, por sua vez, é como um computador global descentralizado que é de propriedade dos seus usuários através do token ETH. Esse “computador especial” é acessível a todos e ninguém o controla totalmente. Ele não “roda” em um servidor localizado em um lugar específico, mas de forma difusa, descentralizada. Não há um agente externo que possa “proibir” ou cercear o funcionamento da rede.

A Ethereum funciona através do token ETH, que é utilizado para incentivar financeiramente o poder de computação real que sustenta seu sistema. ETH também é a “moeda” nativa utilizada para realizar transações, como a compra ou transferência de NFTs, por exemplo.

Cada vez que alguém transaciona na rede, paga uma taxa. Essa taxa financia os mineradores, ou seja, aqueles que efetivamente registram essas transações a partir da disponibilização de infraestrutura computacional e energia.

Existem diversas formas de conseguir um token. A Uniswap, corretora descentralizada na rede Ethereum, distribuiu 15% de seus tokens (efetivamente, “ações”) de forma retroativa aos usuários que utilizaram o protocolo em seus primeiros dias, por exemplo.

Doações à comunidade que se engaja são formas comuns de se construir boa fé e incentivar a adoção de serviços na Web3. Em contrapartida, o Facebook nunca irá te beneficiar com ações por você ter sido um dos primeiros a contribuir com a sua plataforma.

Tokens alinham os interesses do protocolo e dos usuários na direção de uma maior adoção e crescimento que diretamente impactam a valorização desses ativos (tokens).

Dessa forma, cria-se um incentivo positivo à cooperação de todos os agentes dessa relação.

Este artigo é baseado em uma thread no Twitter do Chris Dixon.

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Pedro Helmold

Micro-empresário, entusiasta Web3, graduando em direito na UFF. Estudando pro CNPI-P.