Os indígenas guaranis do centro de Canoas
Com olhar inocente e voz recatada, ela se acomoda na calçada do centro de Canoas. Vestindo roupas coloridas e calçando chinelos de dedos, senta no chão e estende ao seu lado um pano batido. Sobre ele, expõe seus produtos: cestarias, esculturas feitas a mão, frutos e ervas. À sua frente, um pequeno cesto onde guarda um punhado de moedas recebidas durante o dia.
Maria Fernandes, 35 anos, é membra de uma aldeia guarani em Mariana Pimentel, cidade localizada a 84 km de Canoas. Juntamente com outros membros da tribo, saem às 5:30h para percorrer um longo trajeto de ônibus, trem e a pé. Ela frequenta o centro de Canoas há dois meses.
Nos últimos meses, encontrar indígenas em Canoas se tornou cada vez mais frequente. Os guaranis vêm principalmente dos Municípios de Mariana Pimentel e da Barra do Ribeiro. Não falam português fluente, mas conseguem se comunicar com os frequentadores do centro canoense. Normalmente ocupam o calçadão ou a rua XV de Janeiro, onde outros artistas também expõem e comercializam seus trabalhos.
Os guaranis buscam nos centros das grandes cidades oportunidades para comercializarem seus materiais. Cestos feitos manualmente, ervas e frutos típicos das regiões de suas aldeias e esculturas de madeira são os principais produtos vendidos pelos indígenas. Cada peça leva cerca de três dias para ser feita. As maiores podem levar até uma semana.
“Tenho só uma cliente fixa, mas tem dias que não vendo nada. Algumas pessoas nos olham estranho, ou nem olham”, conta Maria.
Apesar de muitas pessoas os verem como “intrusos” nos centros gaúchos, os guaranis habitam o estado há muito tempo. A tribo foi uma das primeiras a ocupar o estado, e é deles que a cultura gaúcha herdou tradições como o uso da erva mate e o churrasco.
“Às vezes as pessoas aqui no centro se comovem, principalmente com as crianças, e dão algum apoio em dinheiro ou doações. Mas não é tão frequente”, disse Jair, comerciante.
Já João Mathias, 23 anos, comercializa os produtos há mais tempo, e inclusive já frequentou os centros de outras cidades. O rapaz conta que os artesanatos são feitos a partir de madeira extraída pelos próprios guaranis na região de suas aldeias. Segundo ele, os membros de sua tribo não recebem nenhum apoio público.
“Não recebemos nenhum tipo de apoio, e não temos lugar fixo. Vamos para onde conseguimos vender melhor”
De acordo com dados obtidos no site da Funai, o Rio Grande do Sul possui hoje 27 terras indígenas guaranis delimitadas ou sob estudo para delimitação. Nenhuma delas está em Mariana Pimentel. Duas ainda estão sob estudo na Barra do Ribeiro.
A prefeitura de Canoas disse não poder se manifestar sobre o tema, pois o assunto deve ser tratado com a Funai. A Funai não se pronunciou sobre o tema até a publicação desta matéria.
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