Entendendo a Redução de Danos

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Pra você viajar e entender o que é Redução de Danos +9 práticas p/ maconhistas conscientes & indicações certeiras de canais e comunicadores sobre RD na Internet no final do texto.

Cuidado (adjetivo)

  • preservar, conservar, apoiar, tomar conta, subter a rigorosa análise e atenção;

Redução de danos ou RD (sigla) é antes de qualquer coisa uma política de cuidado, entretanto, é um grande desafio enquadrar o termo numa única definição. A redução de danos é um conjunto de políticas, programas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar de usar drogas.

Para o Cientista Social e Professor Dênis Petuco a RD é — Um paradigma que constitui um outro olhar sobre a questão das drogas, instituindo novas tecnologias de intervenção comprometidas com o respeito às diferentes formas de ser e estar no mundo — profundo né?

É sobre o quê exatamente?

É sobre promover o direito de aprender, sobre respeitar as decisões de cada um, a RD é uma estratégia adotada para todas as práticas que podem causar danos, em geral para substâncias ilícitas ou lícitas também, mas a essência serviria para muitas coisas. Quase como lidar com o sofrimento nas terapias e analises, conscientizar para minimizar os possíveis danos causados a nós mesmos, seja com substâncias, escolhas ou qualquer outro ato.

A história da humanidade acompanha o uso de psicotrópicos a milhares de anos; seja para rituais religiosos, socialização e até para facilitar o isolamento (no frio, guerra, etc). Basicamente, na nossa história sempre tivemos as drogas presentes conosco e provavelmente sempre as teremos; entretanto o abuso no uso dessas substâncias veio com a modernidade.

Em um mundo onde é preciso lutar para sobreviver — literalmente para muitos e metaforicamente para aqueles presos no ciclo de trabalho excessivo do sistema econômico que nos move — hoje o abuso de substâncias lícitas e ilícitas se torna cada vez mais comum em nossa sociedade. Não é à toa que o Prozac foi carinhosamente apelidado de droga da felicidade na década de 80.

Por isso, como já abordamos, a necessidade da descriminalização, legalização e controle de produção é o primeiro passo para uma medida principal de redução de danos em larga escala e focar nessa redução seria uma espécie de “código de ética” com a legalização.

Mas sempre existiu?

Fora do Brasil, essa abordagem do problema se originou em 1926 na Inglaterra, mas aqui dentro, só chegou em 1989 e durante a década de 90 foi gradatividamente sendo inserida nas políticas de saúde pública.

Essa história, que ainda se encontra em processo de construção nos mostra uma transição da proposta de controle epidemiológico das doenças infectocontagiosas para as estratégias éticas da RD no que se refere ao uso de abusivo de drogas. A RD, estava voltada no princípio para a prevenção de doenças de transmissão sanguínea entre usuários de drogas injetáveis. Pela natureza de seus propósitos, já chegou a ser identificada apenas como a prática de trocas de seringas e, com o tempo e outros progressos, passou a ser vista em sua essência como respeito aos usuários de drogas, sua demanda e seu tempo.

#GovernoBolsonaro
Vale noticiar que desconsiderando as evidências científicas produzidas nos últimos 25 anos por universidades e por profissionais da saúde, envolvidos no cuidado aos usuários e usuárias de substâncias psicoativas, legais e ilegais, o Governo brasileiro retirou a Redução de Danos do âmbito da Política Nacional sobre Drogas, através do Decreto número 9.761, de 11 de abril de 2019, instituindo em seu lugar a proposta de abstinência, isto é, ausência absoluta de qualquer consumo, proposta irmã da fracassada, mas não menos danosa, “guerra às drogas”, filha de um proibicionismo insensato, que desconhece a história dos humanos, escrita através de suas dores, angústias, alegrias, conquistas, perdas e tantas outras vicissitudes, afastando-se da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, que recusam as internações como prática inaugural, para os consumidores de psicoativos.

MAS MACONHA NEM É DROGA

Será? Na comunidade cannabica, pensar que a maconha é uma “droga” completamente inofensiva é comum e muito errado. O uso adulto (ainda teremos uma conversa sobre o termo recreativo) da Cannabis é significantemente menos danoso que o uso de substâncias como o álcool e o cigarro comum, mas não podemos nos isentar da responsabilidade de ter consciência e auto cuidado, até quando só queremos ficar chapado.

Em azul claro vê-se os danos que cada droga comete em terceiros. Em azul escuro os danos cometidos no próprio usuário. (Tabela da Independent Scientific Committee on Drugs — The Lancet, 2010)

Um estudo recente da Universidade de Toronto (Canadá), indica que muitos dos problemas de saúdes de usuários de Cannabis seguem categorias como: efeitos respiratórios, uso descoordenado da planta, problemas com saúde mental e overdose acidental (continue lendo pra enteder). Acalma essa brisa, não é tão grave quanto parece, mas ainda assim, é preciso ter muita responsabilidade pra chapar livremente.

PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES

As principais complicações respiratórias relacionadas ao uso da Cannabis se dão por conta da combustão de fumaça e ingestão do Alcatrão, uma das principais toxinas encontradas nos cigarros de Nicotina ou Tabaco. Tosse, falta de ar, episódios frequentes de sinusite e bronquite, são indícios de um contato excessivo com fumaça nos pulmões;

O uso descoordenado da maconha pode sim levar a uma dependência habitual; ou seja, a necessidade psicológica de um estado constante de alteração mental. Devemos sempre nos lembrar que qualquer substância que altere nossa percepção normal, pode causar uma dependência, justamente pela vontade de não encarar a realidade como ela realmente é (e sim sabemos que ela pode ser muito difícil).

Leia também sobre nosso resumo sobre o “Experimento Rat Park” que analisou o isolamento emocional e social de ratos em laboratórios e a relação que isso tem com o abuso de drogas.

“Pessoas com pré-disposição à problemas como depressão, esquizofrenia e bipolaridade, podem ter sintomas a partir do uso errôneo do THC”

Essa dependência, segundo os estudos canadenses, está bastante associada a pessoas que iniciaram o uso da Cannabis durante a infância ou adolescência. Esse ponto nos leva diretamente à problemas com a saúde mental que podem ser desencadeados pelo uso da maconha. Pessoas com pré-disposição à problemas como depressão, esquizofrenia e bipolaridade, podem ter sintomas a partir do uso errôneo do THC; isso porque o THC acelera nossa atividade cerebral e em grandes quantidades pode-se ser considerado um gatilho pra doenças mentais.

A overdose propriamente dita, é uma dose muito maior do que a que seu organismo necessita e com a ganja é mais comum do que parece. Quando falamos em overdose acidental, não queremos dizer que as pessoas morrem sem querer, mas sim que usam mais maconha do que querem, precisam ou conseguem naquele momento.

Usuários frequentes, muitas vezes cometem erros na dose, principalmente quando utilizam a maconha em receitas.

Normalmente o efeito da ganja é quase instantâneo a partir da inalação da fumaça e pode durar até 30–40min; quando a gente come algo com o THC e CBD, o efeito demora para aparecer pois ele leva o tempo da digestão e pode durar até 6 horas no nosso organismo. Ao perceber que não estão chapados cerca de meia hora depois de ingerir o alimento, muitos usuários tendem a comer MAIS e aí se perde o controle da situação.

QUARENTENA E PANDEMIA

Em um cenário como o que estamos vivendo atualmente, ficar em casa sendo bombardeado de notícias ruins não é exatamente muito confortável. A sensação de impotência e improdutividade assombrou e ainda assombra muitos que respeitam as recomendações das autoridades de saúde, e permanecem no isolamento social.

Durante esse período, é difícil que mantenhamos nossa rotina como na normalidade, mas não podemos usar o momento como desculpa para abusar de coisas que antes, consumíamos com menos frequência, seja o que
for. Quando falamos sobre uso e abuso de substâncias psicoativas e drogas em si, a conversa está mais ligada ao nosso emocional do que ao vício propriamente dito. Por isso é importante batermos na tecla sobre monitorar o uso, mudanças de hábito ou queda na produtividade para ter certeza que fumar maconha não se tornou uma válvula de escape ao mundo real.

A redução de danos também é sobre ficar chapado com consciência, quebrando o estereótipo e o tabu de opiniões contra os usuários:

1) USO SOMENTE ADULTO

Muitos brasileiros começam a fumar maconha na adolescência justamente pelo fato de ser “proibido”, pela não-informação, facil acesso, curiosidade em romper com as normas conversadoras da família. Existem diversos estudos que comprovam pontos negativos no uso da Cannabis em crianças e adolescentes. Isso porque, nesse período nosso cérebro e sistema nervoso ainda está em fase de desenvolvimento, e substâncias psicoativas afetam diretamente nossa produção de neurônios e a comunicação entre eles (sinapses), podendo causar danos mais sérios a longo prazo. Um dos pontos mais importantes da legalização seria ter uma fiscalização que permita que a maconha seja vendida com responsabilidade, para as pessoas com idade e motivação certa. Sabemos que o tráfico não acaba do nada, mas a longo prazo essas medidas realmente retardariam o uso de muitos jovens.

2) DIMINUA A FREQUÊNCIA DOS SEUS BECKS

Se você é maior de idade e já está acostumado a fumar maconha com frequência, um dos primeiros pontos para iniciar a sua redução de danos é justamente prestar atenção se a quantidade que você fuma, realmente é a necessária para você. Muitas vezes, usuários tendem a consumir mais do que é devido, sobrecarregando os pulmões e a mente desnecessariamente. Tente reduzir a quantidade dos seus becks diários, ou faça um intervalo de tolerância para seus hábitos; às vezes, uma semana sem ganja vai fazer toda diferença pro seu corpo!

3) USE PITEIRA & SEDA DE QUALIDADE

Se você não tá dentro da parcela de pessoas que consegue comprar um vaporizador, ou simplesmente ama o ‘ato de fumar’ não se esqueça de usar piteira. A piteira resfria a fumaça, afasta a combustão da sua boca e ainda serve como um ‘filtro’ para aquele alcatrão (que não é haxixe) que se forma dentro do beck enquanto você fuma.

Piteiras de vidro (e longas) reduzem ainda mais os danos da fumaça e combustão de um baseado. Porém, seja de papel ou de vidro, comprar piteira vai acrescentar alguns reais no seu kit pessoal de usuário, mas ai tá a chance de apoiar o comércio alternativo & ainda diminuir o pigarro.

Confere a loja de uma das marcas pioneiras de piteira no Brasil: Black Trunk Tips

Conheça também as piteiras que as mulheres da Girls in Green fizeram em Collab com a Bem Bolado (Papel) e com a Hippie & Bong (Vidro).

4) PARE DE FUMAR QUANDO JÁ ESTIVER CHAPADO

Para usuários assíduos, fumar dois ou três becks na mesma sessão é bem comum. Saiba a hora de parar! Ao perceber que está chapado, não precisa fumar mais, você não vai ter mais brisa com um beck extra, só vai ingerir mais alcatrão e monóxido de carbono alterando sua pressão arterial e de novo, sobrecarregando seu corpo.

5) NÃO SEGURA A FUMAÇA!

Se você acha que vai te dar mais brisa: não funciona. Sério. Nosso corpo demora 1 segundo para absorver a fumaça e o THC que vai realmente nos deixar chapado; passando disso você só está absorvendo mais substâncias nocivas pro seu corpo. Essa sensação de ficar mais chapado depois que solta a fumaça é tudo ilusão, o que realmente acontece é uma queda rápida de pressão por falta de ar e absorção do monóxido de carbono contido na fumaça, então aquele lance de segurar a fumaça o máximo possível: cancela.

6) NÃO MISTURE!

Como muitos a consideram uma droga recreativa, é comum que se misturem substâncias ao fumar maconha. Uma das mais comuns é o álcool. O problema é que a ingestão de álcool e
maconha simultaneamente afeta muito mais o nosso cérebro do que percebemos. Ambas as
substâncias impedem seu cérebro de liberar glutamato durante o seu efeito. O glutamato é um aminoácido que atua como neurotransmissor e é diretamente ligado com como nosso corpo interpreta ou aprende algo. Além disso, estudos demonstram que ao ingerir álcool e fumar maconha, os usuários tendem a se sentir mais chapado mais rápido, alterando até a percepção do corpo, porque a dilatação de vasos sanguíneos proporcionada pelo álcool, faz com que absorvamos uma maior quantidade de THC, mais rápido do que nosso cérebro consegue processar e quando bate… BATEU.

Nesses estudos foi comprovado que apesar de você se sentir mais chapado quando está bêbado, a mistura dos dois pode colocar seu corpo em risco, uma vez que sua auto percepção é fundamental para o controle de dosagem do álcool, e alguns dos efeitos proporcionados pela ganja — como diminuir as chances de vômito — tem um efeito contrário nesse caso, já que o vômito, por exemplo, é uma das medidas do corpo para evitar uma intoxicação alcoólica.

7) NÃO DIRIJA CHAPADO

“Ah mas eu dirijo melhor quando estou chapado…” Não, você não pode afirmar isso com tanta certeza assim. A maconha pode afetar diretamente nossos reflexos, habilidade de concentração e, novamente falando, a percepção de espaço e nosso próprio corpo.

Assim como quando ingerimos álcool nosso corpo está mais devagar do que estamos acostumados e se existem indícios de perda de reflexo, mesmo que mínimos, durante a condução de um veículo, as chances de causar acidentes existem e é melhor evita-las. Não estamos igualando as duas substâncias, você viu a distância que a Cannabis tem do Álcool na tabela de danos lá em cima né.

8) DIVIDA COM CUIDADO

Grandes rodas na sessão são ótimas pra trocar ideia e reforçar a amizade, mas, principalmente em tempos pandêmicos, é muito importante que fiquemos atentos ao contágio por troca de saliva e secreção. O ideal seria que cada um tivesse seu próprio baseado, porém, hoje em dia, existem piteiras individuais que se encaixam na ponta e permitem um “contato individual”.

Com o contato direto na boca, a piteira pode ser contaminada por saliva e até sangue de pequenos ou micro machucados nos lábios e doenças contagiosas podem ser propagadas sem que possamos perceber. Evitar (não significa extinguir essa prática) o compartilhamento do seu beck, bong ou pipe, é o principal ponto para uma roda mais higiênica, livre de Covid-19 ou outras doenças indesejáveis.

9) FUME EM CASA

Se puder. Por último, mas não menos importante, ressaltamos a necessidade de se resguardar de autoridades e leis proibicionistas que impedem que a vida do maconheiro siga sem repressão. Como nossa lei ainda criminaliza o uso da maconha, fumar na rua ou em locais públicos coloca você mesmo em risco, uma vez que a abordagem policial pode ter muitas “justificativas” para a violência e ignorância.

Existem momentos e maneiras de confrontar as regras e autoridades e a gente sabe que o ativismo começa com pequenos passos, mas nada vale a pena colocar em risco sua liberdade e também sua saúde mental. Sabemos que os casos de abuso de autoridade, violência e opressão são a regra da polícia brasileira, principalmente se você for pobre, ou preto (seja de pele clara ou retinta). Fuma em casa, na casa de um amigo ou escondido de madrugada no seu quintal que seja, mas não vai fumar nos parques. As vezes (ninguem conhece sua família, só você) é melhor rodar em casa do que com a polícia.

Como já dizia MC Eltin “Olho aberto com os polícia e muita paz na sua viagem”

A BRISA É

A Redução de Danos é um dos passos que ajudam o ativismo a quebrar o padrão estereotipado de um maconheiro que só pensa em ganja e ficar chapado, é provar que conseguimos controlar nossa produtividade, constância e comportamentos independente do nosso estado de espírito ou dos hábitos que temos diariamente. Falar sobre redução de danos e colocar em prática as atitudes aqui citadas, não é ser fresco, controlador ou careta, é o início de um auto cuidado proporcionado por informações válidas e fontes confiáveis.

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Canal no Youtube do Psicólogo e Redutor de Danos, Bruno Logan.

Conteúdo sobre Redução de Danos com a Psicóloga e Antiproibicionista Maryane Negrocelli @psimarynegrocelli

Que Droga é Essa? Canal Justificando no Youtube — no instagram como @quedrogaeessa / realizado por Gabriel Pedroza.

Pra entender as referências

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Antiproibicionismo e Redução de Danos

Apenas mais uma fonte de informações e diálogos sobre Antiproibicionismo e Redução de Danos | Por Isabela Gil & Kyalene Mesquita reduzindodanoscontato@gmail.com