Sábado de Blues: 5 Discos de Blues para Conhecer #3

Rob Gordon
6 min readOct 24, 2015

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Vamos continuar com a série de textos que indicam discos essenciais de blues?

Para quem está aqui pela primeira vez, não se tratam dos melhores discos de blues de todos os tempos — apesar de que muitos deles costumam sempre entrar nessas listas, e eu normalmente indico quando isso acontece — mas sim de um “guia” mostrando grandes trabalhos de grandes artistas, sempre mesclados com preciosidades de nomes menos conhecidos.

O post anterior da série está aqui.

Muddy Waters
Live at Newport (1960)

Talvez seja um dos maiores shows da história do blues. E, certamente, é um dos mais importantes. A performance de Muddy Waters em Newport, no dia de 3 de julho de 1960, tornou-se histórica não somente pela qualidade do material apresentado (muito bem documentado também em filme — os links abaixo são um exemplo), mas por colocar um dos maiores nomes do blues em frente a uma plateia formada por jovens brancos e de classe média alta, que então começavam a descobrir o blues.

O resultado é devastador. A presença de Waters sobre o palco é hipnótica e, ao lado de sua banda, o guitarrista executa alguns dos seus maiores clássicos para uma plateia que provavelmente não imaginava a música que encontrariam pela frente. É um disco daqueles para se ouvir de joelhos.

Minha preferida:
Hoochie Coochie Man — não se trata apenas de um dos maiores sucessos de Muddy Waters, mas sim de um dos maiores blues de todos os tempos. Aqui, ele altera o tempo das frases (e algumas palavras da letra), mais preocupado em contar uma história que em cantar… E sem deixar de cantar.

Preste atenção em:
I’ve Got my Mojo Working — Ao interpretar uma das suas melhores (e mais famosas) músicas, Muddy Waters faz Newport vir abaixo. É uma canção de blues, mas o espetáculo praticamente se torna um show de rock graças aos vocais ferozes de Waters, ao piano de Otis Spann e a gaita de James Cotton.

Mississipi John Hurt
The Original 1928 Recordings (1971)

Caso o “blues revival” dos anos 50 e 60 não tivesse acontecido, eu teria que colocar outro disco aqui. Isso porque provavelmente nunca teríamos ouvido falar de Mississipi John Hurt, já que tudo o que teríamos dele seria um punhado de gravações empoeiradas feitas no final dos anos 20…

Mas, como ele está naquele grupo de blueseiros que ganhou uma “segunda carreira” ao ser encontrado ainda vivo durante a redescoberta do blues, o mundo passou a conhecer melhor sua voz doce e seu violão extremamente melódico. Com isso, as tais “gravações empoeiradas” de 1928 recebem o status de “mágicas”. E não é exagero.

Minha preferida:
Candy Man — a música que abre o disco soa quase infantil, com um aviso de que o “homem dos doces” chegou à cidade. Ao ler a letra, porém, fica claro que seu conteúdo é muito mais erótico (às vezes, de forma quase explícita) do que se poderia imaginar.

Preste atenção em:
Avalon Blues — Ao gravar em Nova York, Mississipi John Hurt cantou sobre a saudade que sentia de sua cidade natal, a pequena Avalon. Décadas depois, sua letra serviria como principal pista para que o blueseiro fosse encontrado em 1963.

John Lee Hooker
The Best of Friends (1998)

Considerado um dos maiores deuses do blues, John Lee Hooker, ao longo dos anos, gravou diversas vezes ao lado de músicos tarimbados — tanto do rock como do blues. Se sua parceria com o Canned Heat rendeu um disco espetacular (Hooker’n Heat), a coletânea The Best of Friends tem seu ponto forte na variedade de astros que desfilam pelas canções.

Eric Clapton, Santana, Van Morrison dividem espaço com blueseiros modernos (e respeitadíssimos) como o gaitista Charlie Musselwhite e Robert Cray — mas sempre com John Lee Hooker à frente de tudo. Com isso, alguns dos seus maiores sucessos, como Boogie Chillen e Boom Boom ganham um toque de modernidade… Mas sem jamais perder seu encanto.

Minha favorita:
I’m in the Mood — Um dos maiores sucessos de John Lee Hooker ganha toneladas de charme com a participação de Bonnie Raitt que, com sua voz doce, claramente conversa com John Lee Hooker durante a canção — algo ideal para um blueseiro acostumado a falar a letra de suas músicas. É apaixonante.

Preste atenção em:
The Healer — Hooker alterna murmúrios e gritos para explicar o poder que o blues tem de curar a tristeza, em contraponto à guitarra de Carlos Santana, num resultado que, para mim, é praticamente hipnótico (o link tem imagens, pois é do clipe oficial).

Junior Wells
Hoodoo Man Blues (1965)

Considerado um dos maiores álbuns de blues já lançados, o disco de estreia do gaitista Junior Wells é um primor — e essencial para quem gosta de gaita. Alternando composições próprias e covers de clássicos do blues, o disco inteiro é delicioso — como qualquer disco de Junior Wells.

Entretanto, nem todo mundo sabe que um dos músicos que acompanha o gaitista nesse disco é o guitarrista Friendly Chap (algo como “Cara Amigável”). Trata-se de ninguém menos que Buddy Guy, um dos grandes parceiros de Wells. Este é um dos primeiros de muitos trabalhos que realizariam juntos e só isso já aumenta a qualidade de “tesouro” do disco, considerado um dos pontos altos do blues de Chicago.

Minha favorita:
Good Morning Schoolgirl — O clássico de Sonny Boy Williamson ganha uma sonoridade moderna nas mãos de Junior Wells, em uma composição que já resume de forma perfeita o talento da gaitista.

Preste atenção em:
Hoodoo Man Blues — A música que dá título ao disco fala sobre magia negra, tema caro ao blues, cantada de forma despojada por Wells, que, como de costume, dá um show à parte com a gaita.

Eric Clapton
Me and Mr. Johnson (2004)

Sempre que alguém me pede uma disca de um bom disco de blues de Eric Clapton, essa é a primeira escolha, já que se trata de um dos meus favoritos — não apenas dele, mas de blues. Como o nome indica, é uma grande homenagem a Robert Johnson, com releituras modernas e elegantes para as canções de um dos maiores nomes de blues.

Certa vez um amigo meu disse que Clapton não ”toca como Robert Johnson”, pois isso é impossível. Assim, ele “inventou um modo” de tocar Robert Johnson. Cada vez mais, eu acho que é verdade — mas isso não tira o mérito desse disco, que funciona como ótima porta de entrada para o blues de Johnson.

Minha preferida:
If I Had Possession Over the Judgment Day — A versão de Clapton é uma das músicas mais deliciosas que já ouvi. Basta ela começar a tocar e não demora muito até que eu perceba que estou dançando — justamente por isso que evito ouvi-la quando estou na rua.

Preste atenção em:
Love in Vain — Eu não gosto da versão dos Stones para essa música — acho que é o único cover de blues clássico feito por eles que não gosto. Já a versão de Clapton é tudo o que eu imagino de uma releitura da música: abre com uma guitarra típica de Johnson, mas logo ganha arranjos modernos… E sem jamais perder a dor e a desolação de sua letra.

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