Sobre Gratidão

Rodrigo Meirelles
4 min readJun 17, 2018

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Ao observar o pôr do sol no horizonte das planícies de Alberta, sentado num Boston Pizza no Aeroporto de Edmonton, um sentimento misto de tristeza e excitação preenche meu coração. Enquanto espero meu espaguete de camarão chegar, decido escrever sobre gratidão.

No meu último texto, deixei de expressar minha gratidão por tudo o que aconteceu em minha vida até agora. Todos os altos e baixos, obstáculos e sucessos, risadas e choros, estavam perfeitamente alinhados para me levar a esse momento. Se praticássemos olhar para a geografia de nossas vidas a partir de uma visão panorâmica de cima, poderíamos ver que todas as montanhas, rios, florestas e lagoas formam uma paisagem perfeita que podemos facilmente navegar enquanto caminhamos pela vida. Essa perspectiva também nos permite ver que há um oásis além do horizonte do deserto e se pudermos suportar o calor do sol por mais um tempo, chegaremos ao oásis e sentaremos à sombra das palmeiras tomando um copo de água gelada.

Sou especialmente grato por todas as pessoas que cruzaram meu caminho até este momento. Nos últimos dois dias, vocês compartilharam lindas palavras sobre mim, muitas vezes me deixando sem palavras para expressar meu apreço por elas. No entanto, o que eu gostaria que vocês soubessem é que cada um de vocês é parcialmente responsável pela pessoa em que me tornei. Todas as interações, todas as conversas, me ensinaram lições valiosas sobre mim e você, que no final são a mesma coisa. Somos de fato espelhos um para o outro, o que significa que todas as coisa bonitas que você me disse sobre mim também são verdades sobre você. Isso também significa que toda vez que dizemos palavras não tão bonitas sobre alguém, essas são reflexões de nossas próprias sombras. Por isso, sou grato por todos aqueles que me inspiraram e me enfureceram, pois, no final, todos eles estão me ajudando no meu caminho de auto-realização.

Outra professora incrível que devo agradecer é Gaia, nossa Mãe natureza. Como Nietzsche uma vez disse, “o pior é duvidar do que a Terra quer”. Em nossa visão antropocêntrica do mundo, passamos a acreditar que o Homo sapiens é a única espécie inteligente na Terra, tornando-nos cegos e surdos aos ensinamentos de nossa Mãe e irmãos. O resultado: extinção em massa, mudanças climáticas, epidemias, bactérias resistentes a antibióticos, superpopulação, e a lista continua. É hora de abrirmos nossos olhos e ouvidos e admitir que não temos todas as respostas. No entanto, sou otimista porque acredito em nossa capacidade de nos adaptar, criar e transformar. Se nos unirmos ao resto de nossos irmãos em uma relação simbiótica com nossa Mãe, podemos nos curar juntos. Sou imensamente grato por ter aprendido sobre beleza, simbiose e amor, simplesmente por estar aberto ao estar em meio a natureza.

Hoje mais cedo, fui de bicicleta para um rio glacial mágico que desce as montanhas de North Vancouver através de florestas encantadas e canyons. Eu queria passar o meu “último dia” no lugar que me lembrou que a magia existe; você só tem que ter seus olhos e coração abertos para vê-la. Esses lugares mágicos contêm todas as respostas que alguém procura; o rio fala àqueles que estão abertos a ouvi-lo.

Nossa mentalidade linear, muitas vezes reducionista, é o que nos impede de ver essa magia, fomos ensinados a acreditar que a Natureza funciona de uma maneira mecanicista em vez de criativa, fluida. É por isso que a ciência se tornou tão mecanicista na tentativa de explicar os fenômenos naturais. Estou saindo um pouco to tópico da gratidão, mas gostaria de compartilhar a visão de Stephan Harding sobre o que é chamado de Ciência Holística:

“A ciência holística vê os humanos não como observadores objetivos, mas como “experimentadores participativos” incorporados radicalmente no mundo. O valor intrínseco é explicitamente reconhecido, e o conhecimento é visto como um meio para aumentar o senso de pertencimento à natureza, e não apenas como um meio para o seu controle. Este modo de ciência aceita a falta de previsibilidade completa como uma característica chave de um universo criativo … A intuição é explicitamente desenvolvida como um método para abraçar a investigação científica prestando muita atenção à consistência de sentimentos e intuições que surgem entre um grupo de cientistas durante sua investigações… A ciência holística participativa é mais do que apenas uma postura intelectual — envolve uma mudança radical em nossa percepção fundamental da natureza. A mudança é principalmente experiencial e não intelectual.”

Uma mudança na percepção da natureza, de nós mesmos e de nosso relacionamento é um passo necessário para garantir nossa sobrevivência como espécie e nos libertar do sofrimento que vem da ideia errônea de que somos um ego com um nome e uma história, separados de todo o resto. Mas, novamente, este é um tópico para um post futuro.

Para concluir, gostaria de reafirmar minha gratidão a todos vocês, meus irmãos e irmãs, à nossa Mãe Natureza e ao nosso pai Espírito, Universo, Deus. Que você encontre seu caminho, sua paixão e seu coração. Deixe a sua luz brilhar para iluminar os corações daqueles que vivem nas trevas, para que eles também podem encontrar a luz dentro deles.

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