A lógica é ciência prática ou especulativa?

Schola Scotistarum
3 min readJun 1, 2024

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A Franciscan monk preaching.

No precedente estudo aprendemos que a lógica é ciência, que seu modo de conhecer é o objeto adequado total da lógica e um breve estudo sobre a operação da mente. Agora, devemos conhecer se a lógica é ciência prática ou especulativa, definindo ambas.

A praxis é — de Scotus — operação de outra potência pelo intelecto, a saber a vontade posterior ao intelecto, que pressupõe, de modo inato, a eleição pelo raciocínio correto. Com isso não é dado na operação do intelecto a praxis, apenas a operação da vontade. A razão formal da mesma é constituída de dois modos: o primeiro a dirigibilidade e segundo a conformidade da vontade, daí que a vontade possa ser dirigida pelo intelecto, pois aquela é cega, a menos que seja iluminada pelo intelecto. Deste modo, a potência deve se conformar ao objeto a ela apresentado, para corretamente agir. A seguinte ilustração ilumina este ponto desta maneira: Deus é sumamente bom, e esta é uma conclusão prática, do objeto da vontade, que sobre si deve ser demonstrado pelo intelecto; a vontade porém que opera, deve a essa conclusão se conformar. Assim, se Deus é sumamente bom, portanto é digno de amor, portanto é digno de ser amado.

A especulação, todavia, é operação do intelecto finalmente ordenado para nada além do gênero da contemplação. Disto fica claro que compete somente ao intelecto especular sobre o seu objeto, por isso é dito teorético, e a verdade portanto permanece em seu objeto. Logo, a contemplação é especulativa.

Outro aspecto a ser considerado é que o intelecto é dividido em cinco hábitos, ei-los: intelecto, sabedoria, ciência, prudência e arte.

Segundo a definição de Rapinaeus nostri, o intelecto é aquela virtude natural pela qual somente da apreensão dos termos oferece assentimento à proposição.

Em seguida temos a sabedoria, que é hábito dos princípios por meio dos quais as demonstrações são feitas e provadas.

A ciência é o hábito da conclusão demonstrada, mais precisamente, digo que é o hábito do conhecimento das causas demonstradas.

Sobre este três, temos o intelecto especulativo, porque eles versam sobre a verdade necessária.

Os outros são prudência e a arte. O primeiro é o hábito que ensina corretamente operar acerca do agir, ou seja, sobre a prática e operações, que cessam ao encerrar a operação do agente, não deixando nada para trás. A segunda — a arte — é o hábito que ensina operar acerca do que deve ser feito, isto é, a respeito disso que mantém também cessante a operação do agente, como fazer uma casa.

Estes dois hábitos constituem, essencialmente, o intelecto prático de modo extrínseco, e denomina por extensão para a verdade contingente, que é objeto tanto da prudência quanto da arte, e que comanda as outras ciências. O intelecto é essencialmente especulativo, de modo denominativo, prático; ou de outra forma, intrinsecamente especulativo e extrínsecamente prático.

A lógica é uma ciência especulativa.

A lógica é scientia simpliciter pois sobre a mesma são tratadas as verdades necessárias. Na especulação não é dada à prática, mas toda a lógica, de modo especulativo, versa sobre as verdades necessárias, portanto é especulativa. Desta forma, a definição deve explicar a essência da coisa, e a divisão por oposição dos termos, e outras sobre as verdades da lógica. No entanto, estas verdades ou são contingentes, ou necessárias, assim, o silogismo demonstrativo não pode gerar ciência, a sofística não pode gerar erro, e assim sobre outras. Todavia nenhum lógico concorda com isso, portanto são sobre verdades necessárias, portanto a ciência sobre eles é especulativa.

A lógica não é ciência prática.

A lógica não é uma ciência prática cuja definição não convém à lógica. No entanto, a lógica utens é algo de arte em largo sentido. Portanto, dizendo em modo oposto, a lógica não como docente, mas como utens, faz silogismo em toda matéria, e isto não em razão prática, mas de modo artístico.

Referências:

Nucleus disputationum in universam philosophiam. Ad mentem subtilis R. P Doctoris Ioannis Duns Scoti, ordinis minorum. Nucleus Disputationum in universam logicam, Quaestio VI, pag 9 — Carolus Rapinaeus.

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