Resumo do DEX18 — Parte 2

Um pouco mais das minhas notas e percepções sobre o DEX18, contando um pouco de como foram os painéis sobre o Mercado de UX, Acessibilidade e UX Research.

Will Matos
Mergo
11 min readAug 21, 2018

--

Trago aqui a segunda parte das minhas anotações e percepções sobre Design & Experience 2018 (DEX18), evento de Design onde foram discutidos diversos assuntos dentro do universo da experiência do usuário (UX). Nesse post falo especificamente dos painéis sobre o Mercado de UX, Acessibilidade e UX Research. Aproveite o conteúdo, e fica esperto que logo publicarei a terceira parte das minhas anotações.

Caso não tenha visto a primeira parte dos relatos, acesse abaixo ;)

Mercado de UX

Conduzido pela Ana Coli, o painel sobre o Mercado de UX foi um dos que mais despertou a curiosidade dos designers e simpatizantes no evento. Hoje sabemos que é uma área que vem crescendo e ganhando respeito em diversos segmentos no Brasil. Durante o bate-papo, pudemos perceber o quanto o mercado está aquecido. Sabemos que a importância dos profissionais de UX não é mais reduzida a pintar pixels.

Entramos em estratégias de negócios, design de serviços, usabilidade, acessibilidade, desejabilidade, arquitetura de informação, design de interação, nos posicionamos a frente de projetos de inovação, B2B, liderança, projetos sociais, saímos das agências para conquistar empresas e tudo isso está trazendo muita qualidade para o usuário final.

No Brasil, o salário médio dos profissionais de UX está entre 4 a 7 mil reais como CLT, podendo variar de acordo com os estados brasileiros e as habilidades do designer. Em São Paulo ainda temos os melhores salários da área podendo ultrapassar a margem, mas no geral a média salarial predomina.

Ana Coli mediando o painel sobre Mercado de UX, um dos temas fixos do DEX18.

A maioria das discussões foram pautadas em saber como posicionar-se a frente do mercado. Existem muitos profissionais que atuam em áreas correlacionadas mas querem entrar em empresas como UX designers. Foi falado sobre os profissionais de design, como diretores de arte, designers gráficos, programadores e pesquisadores que sentem essa aproximação com a experiência do usuário, e também sobre algumas dicas desse universo, que detalho melhor abaixo.

Comece

Quem ainda não tem um projeto precisa se mexer, portanto coloque seu conhecimento em prática. Faça algum projeto paralelo para evidenciar seus estudos.

UX mágico deve revelar seus truques

Os recrutadores querem saber como chegou na solução. Podemos pensar em cases, posts no Medium ou alguma documentação que auxilie a explicação do processo.

Como foi sua pesquisa? O que determinaram como objetivo? Qual o processo? Como testou seu artefato? Quais as personas ou tarefa a ser realizada? Quais as dificuldades no processo? Quais ferramentas utilizou? Quais os resultados?

Essas informações são importantes para uma avaliação do seu potencial. Existem muitos cursos na internet, uns gratuitos outros pagos, alguns materiais em português, muitos em inglês, livros, escolas… não tem desculpas para ficar parado.

Comece pelo meio

Se você é um designer mas não consegue entrevistar usuários, comece trabalhando com proto-personas para justificar a importância dos testes. Você pode pedir para instalar o Google Analytics para sites, ou tags para monitorar peças de email e medir o seu progresso. Crie Wireframes, crie métodos, faça reuniões de Design. Existe processo de UX para RH e endomarketing. Enfim, com conhecimento e atitude já da para aplicar UX.

Se pode ser um programador, atendimento de agência, psicólogo, caixa de supermercado, não importa. O DNA de todo trabalho é trocar valores com usuários. Portanto, é praticamente impossível não encontrar uma situação onde UX não se aplique.

Mapear a jornada do usuário, fazer Blueprint, prototipagem, pesquisas com usuários e Design Sprints. Tudo isso pode ser aplicados em vários contextos de negócios e não somente para apps ou websites.

Pense no design do serviço. Talvez você não consiga aplicar, mas é possível buscar melhorias. Por exemplo se você trabalha em um banco, você pode fazer o blueprint com técnicas de Service Design, mapeamento de stakeholders e apresentar possíveis melhorias no seu trabalho.

Se sua empresa for engessada, pode utilizar esse material como portfólio, ou seu material para entrevistas.

UX UX UX UX UX UX UX UX UX UX UX UX UX UX…

(Mantra para felicidade do usuário).

Um dos principais elementos para mudar a cultura organizacional é a linguagem. Os códigos e a linguagem, os tipos de assunto e o vocabulário são essenciais para gerar mudanças.

Por isso, seja o cara do UX. Fale sobre isso o tempo todo. Se você faz isso com frequência, posta conteúdos relacionados nos canais de comunicação internos, você pode se tornar uma autoridade no assunto dentro da corporação.

Quando houver problemas na empresa, que ocorrem por falta de UX, você tem um motivo para apresentar suas soluções. E se você fala muito sobre isso, é bem provável que irão te consultar.

O jogo não vai para fase 2?

Materiais no ensino de UX de nível básico tem aos montes na internet, procure no Linda, Udemy, Udacity e outros canais de cursos online. Existe muito material disponível com custo baixo, mas muitos deles são voltados a iniciantes.

Quero fazer um adendo as literaturas sem entrar na discussão. Existem muitos livros de design como About Face, Lean UX, UX Strategy, que enriquecem muito o repertório dos designers em níveis mais avançados.

Ouça seus pais e vá fazer direito

Algumas pessoas no evento relataram que experiências fora do design são importantes para o designer crescer como líder na carreira.

Esse assunto foi discutido em outros momentos do evento, mas procurar cursos de liderança, gestão de pessoas, finanças, direito, arquitetura, marketing, teatro, enfim, o que possa trazer skills para conversar com c-levels e liderar equipes são importantes para escalar na área.

Entendo que o design ganha repertório na versatilidade e essa é uma das chaves para o sucesso.

Acessibilidade

Nesse painel, aprendemos com Clecio Bachini que Acessibilidade não é um item que deve ser orçado a parte do restante de um projeto. Seria a mesma coisa que cobrar um valor a parte para escrever o HTML com código semântico.

Você vai cobrar para colocar “alt” no HTML das imagens?

Tá pensando que a acessibilidade é bagunça?

Vemos muitas iniciativas, principalmente governamentais, onde os sites tem features específicas para portadores de alguma dificuldade — por exemplo, botão para aumentar a letra ou aumentar o contraste da tela. Parece uma espécie de cota para deficientes. A verdade é que devemos encarar a Acessibilidade como uma parte do projeto, da mesma forma que criamos wireframes ou protótipos.

Agora, vamos entender uma coisa: porque tantas empresas que se preocupam com Acessibilidade não colocam componentes visuais de Acessibilidade em suas interfaces? A grande verdade é que muitos projetos não são naturalmente acessíveis, eles são forçados a ser. As pessoas colocam acessórios e não Acessibilidade.

Esses acessórios são incorporados no projeto para atender ao governo federal. Para cumprir a lei. É como colocar sustentabilidade na empresa por obrigações legais em vez de fazer por consciência ambiental.

Portanto, os componentes para acessibilidade não são propriamente necessários se o projeto utilizar boas práticas, porque os navegadores dão suporte a acessibilidade, como o zoom ou “tab”. Se o desenvolvimento seguir as boas práticas da WCAG e respeitar as funcionalidades do navegador já temos um projeto com acessibilidade de alto nível.

De quem é a responsabilidade pela Acessibilidade do sistema?

Todos os membros de um time devem colaborar com a Acessibilidade nos projetos. Testes automatizados, features, pesquisas com usuários, programação e boas práticas são responsabilidade de toda equipe, que deve ter consciência que sua Persona tem necessidades ao longo do tempo que merecem ser avaliadas.

Existe uma regra de ouro a ser considerada: se não testar, seu produto é ruim. Primeiro que não atende aos seus usuários de forma universal e também não colabora para usabilidade, que está totalmente amarrada as normais da WCAG.

Fora projetos que dependem de uma boa colocação nos mecanismos de busca que avaliam se o serviço é acessível, mas isso é outro papo.

Clécio Bachini mediando o painel sobre Acessibilidade, 4º tema mais votado no DEX18.

Design Universal e Personas

Existe uma tendência para mapear o perfil das personas por contextos ideais. Contudo, a persona real pode ter visão reduzida, operar seu smartphone enquanto faz outras coisas, utilizar leitores de notícias pelo smartphone enquanto faz outras atividades.

Ela pode ter fatores de distração e até alguma deficiência motora, visual ou auditiva. O importante é entender que ao projetar para o ser humano com um design universal, estaremos alcançando usuários em vários momentos de sua vida sem que pessoas com potencial de uso sintam limitações de interação.

Sabemos que a maioria dos seres humanos vão passar por alguma redução sensorial ou motora em algum momento da vida e esse fato não é uma exceção, já que todos perderemos em algum grau o poder de visão, audição e podemos encarar contextos onde não é fácil utilizar uma interface. Vamos projetar com base em boas práticas para garantir o bom uso de todos usuários.

UI acessível

Boas escolhas de Design Gráfico resolvem 60% dos problemas de usuário.

Um sistema de design bem elaborado com escolhas tipográficas legíveis, cores com contraste adequado, tamanhos bem escolhidos, simplicidade e minimalismo na criação de componentes são formatos que podem garantir uma boa experiência para todos.

Acessibilidade no baralho

As diretrizes da WCAG, foram atualizadas agora em junho de 2018 e temos um projeto Open Source que está acompanhando essas diretrizes. Os cards de acessibilidade do Marcelo Sales.

Os objetivos desses cards são facilitar o entendimento e o uso das diretrizes, com uma linguagem simplificada, já que muitos acham a leitura complicada, acadêmica e desinteressante.

Esse material está em português e pode ser baixado para impressão ou consulta online.

Let’s play?

Teste com usuários no roadmap do produto, use ferramentas online para testes, utilize ferramentas de automação, como o crie um mapeamento de diretrizes de acessibilidade que são compatíveis com seu projeto e nunca esqueça de ter empatia.

Faça o projeto e melhore com o tempo para aprimorar suas soluções acessíveis. Se coloque no lugar deles, projete grandes serviços e produtos acessíveis.

UX Research

Tivemos um bate papo excelente com Stefan Martins sobre pesquisas na nossa área de UX. Sinceramente, participei da maioria das discussões, mas essa não deu tempo. A fila estava grande. Contudo, me senti grato, foi um dos assuntos que mais renderam no DEX, na minha opinião.

Pesquisa atitudinal e comportamental

A pesquisa atitudinal é uma forma de coletar feedbacks verbais dos usuários. Obviamente podemos entender sobre suas crenças pessoais e o que entendem sobre o problema. Isso não determina se ele diz o problema de fato, já que ele pode achar que é uma coisa é muitas vezes é outra ou não quer falar com receio de magoar o pesquisador, mas esse tipo de pesquisa pode gerar insights importantes para os projetos.

A pesquisa comportamental tem como objetivo entender o “como”. Como o usuário faz determinada coisa. Quais suas ações, seus hacks para resolver problemas e suas dificuldades.

Será que a inteligência artificial pode substituir a pesquisa de campo?

Em tecnologias que usam algum tipo de inteligência artificial, os dados que são coletados nos nossos dispositivos e sensores como GPS, conseguem fornecer um ambiente de aprendizado sobre vários comportamentos da nossas vidas. Esse cenário tende a entender nuances que podem personalizar tanto um sistema para os usuários — que talvez uma pesquisa não consiga — quanto generalizar uma solução para as pessoas.

Contudo, é preciso entender que nem tudo pode ser coletado. Pelo menos ainda não. Por exemplo, existem pessoas que tem dificuldades de utilizar os dispositivos porque trabalham no campo e já tem duas digitais todas deformadas pelo trabalho. Um dispositivo de leitura do touch pode atrapalhar essas pessoas. Outro exemplo são das pessoas que não tem um grau de estudo adequado para leitura, mas que precisam utilizar as tecnologias da agropecuária para trabalhar.

Portanto, um sistema iconográfico adequado precisa ser prototipado com extrema cautela para o entendimento do usuário. Podemos considerar que as novas tecnologias de pesquisa são ferramentas que vêm somar com o UX Research tradicional, e ajudar na tomada de decisões e na criação de soluções em serviços e produtos.

Stefan Martins mediando o painel sobre UX Research, 3º tema mais votado no DEX18.

Recrutamento B2B

O B2B não é tão simples de se conseguir recrutar. Muitas vezes precisamos entender como funcionam as empresas e as funções de cada usuário. Esse feedback pode ser trabalhoso, já que as organizações estão ocupadas com seus negócios e os dados sobre o comportamento deles nem sempre são acessíveis, dependendo das particularidades organizacionais. Lançar pesquisas online nem sempre impactam esses profissionais. Nem sempre eles são ativos nas mídias sociais e muitos não respondem as pesquisas online.

Uma dica para avançar nesse cenário é conseguir um contato direto com essas pessoas. No caso de uma pesquisa quantitativa, o Stefan disse que já criou uma empresa de pesquisas fictícia para ganhar credibilidade com as empresas procuradas.

Serviços Análogos e concorrentes

Se o seu produto é uma novidade no mercado ou tem dificuldades de testar com usuários finais, você pode testar com usuarios de serviços ou produtos similares. Talvez não seja o melhor cenário mas é um avanço nas suas pesquisas.

Procure feedbacks na internet e no cotidiano dos usuários para produtos concorrentes ao seu. Apesar de existir uma diferenciação, provavelmente o usuário busca resolver o mesmo problema que você resolve utilizando outras soluções.

Quantidade x Qualidade

As pesquisas qualitativas e quantitativas podem andar lado a lado, e na maioria das vezes elas são complementares. A pesquisa qualitativa pode encontrar muitas hipóteses, insights e muita resposta a comportamentos estranhos encontrados em um monitoramento quantitativo.

Você pode entrar em alguma ferramenta de análise como o Google Analytics e identificar um comportamento estranho de um usuário. E em algum teste qualitativo entender porque ele está fazendo isso.

Dicas, dicas e mais dicas!

Elenquei algumas dicas práticas para você se inspirar

  • Tenha um histórico de suas pesquisas organizado, pois quando seu produto evoluir, você tem todo o rastro do seu trabalho organizado. Isso pode ser feito com testes de usabilidade. Dessa forma, você pode revisitar monitorar o que foi feito, ou até mesmo para fornecer informações para outras pessoas da equipe.
  • Você pode montar um encontro de pessoas para discutir sobre os produtos. Isso poupa tempo, já que não é preciso entrevistar um por um. Isso pode ter um baixo custo e ter suas vantagens, mas é importante ter cautela pois essas conversas podem ser distorcidas pelas pessoas mais impositivas e convincentes. Contudo, essa estratégia não deixa de ser interessante para pesquisar problemas.
  • Troque de métodos quando não funcionarem. Por exemplo, se você faz uma pesquisa online e não obtém resultados, vá para pesquisa presencial.
  • Deixe as personas visuais. Coloque-as na parede. Se ela ficar engavetada, o time não sentirá vontade de modificá-la (e elas mudam constantemente), quando as pesquisas ficam mais consistentes.
  • Vá até o local. Um UX Researcher não é um escovador de bits em ferramentas de web analytics e sim alguém curioso, buscador, questionador e acima de tudo, busca sentir algo similar ao que os usuários sentem. Isso facilita o processo para encontrar soluções adequadas.

Universo Quant.

Os métodos utilizados para UX Research são variados e com a prática é possível incorporá-los nos seus projetos, mas sobretudo, é importante saber quais os mais indicados para cada caso. O site nngoup.com criou uma matriz com os conceitos de pesquisa atitudinal, comportamental, qualitativos e quantitativos.

Não deixe que ler

Ref. https://www.nngroup.com/articles/which-ux-research-methods/

Logo postarei a última parte do evento. Tive uma viagem de trabalho que acabou brecando um pouco minhas as novas postagens, mas a última sai em breve ;)

--

--