[Parte II] Guia de sobrevivência de Trabalho Remoto

Tássia Spinelli de Lima
7 min readAug 17, 2016

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Esse post é essencialmente sobre trabalho remoto e tem uma Parte I atrelada à série. Aproveita pra ler no teu intervalo de almoço ou break do pomodoro, mas fica comigo, vai!

  1. Mude sua mente para mudar a ação

Decidir trabalhar de forma remota não é algo que se constrói da noite para o dia.

Um dos aspectos a amadurecer primeiro é como você enxerga a sua auto suficiência e o quão resiliente você terá que ser em relação às práticas atuais (tradicionais) do mercado. Há momentos em que tudo parece perdido, você vai ser sentir solitária(o), nadando contra a maré. Mas tudo isso tem a ver com a forma que você enxerga as coisas e está disposta(o) a flexibilizar para garantir o sucesso da empreitada.

GIF de um trem em movimento com a legenda: “Seu cérebro tem o poder de mudar a direção desse trem. Apenas pense e esse trem mudará a direção no sentido oposto”

Se você não quer uma mínima instabilidade na sua zona de conforto, não busque esse caminho.

2. Construa a cultura da sua “firma”

Cultura é algo que sempre observei e admirei em certos escritórios. Sabe aquela vontade de se sentir parte de algo maior? Ainda mais com o estímulo que algumas empresas têm investido em diversidade, não é algo que seja para ser deixado de lado.

Além do ambiente descontraído das startups, se a sua empresa apoiava algum tipo de iniciativa social, não minta pra você mesma(o). Você provavelmente sente falta SIM desse tipo de abordagem. Mas a surpresa que eu tenho pra ti, é que quem faz isso não é a empresa, são as pessoas. Experimenta construir teus valores do zero, focar em lutas que você tem empatia e são uma construção importante pra a sociedade. Pode sair muita coisa legal, que sabe até mais interessante e acionável que você imaginava que fosse possível. Eu, particularmente, resolvi dedicar algumas horas voluntárias para investir com amigas (todas de empresas diferentes) na construção de produtos/soluções relacionadas ao feminismo.

3. Ambiente de trabalho também importa

Uma coisa que passa batida pra a maioria das pessoas é que o ambiente do seu trabalho vai além da extensão do seu braço para o computador.

Começar a trabalhar remoto com pouca iluminação ambiente, mesa de escritório a poucos metros da sua cama ou mesmo postergar a qualidade ergonômica das suas acomodações pode ser um perigo para a sua experiência prática. Sem contar que com o tempo, a confusão “estou em casa ou no trabalho agora?” pode virar um transtorno cognitivo e gatilho para a procrastinação constante.

Não sei se é pelo fato de ser designer da experiência do usuário, mas, assim que me vi nesse oceano azul meu primeiro objetivo foi criar o ambiente mais agradável possível para realizar minhas tarefas.

Foto do meu instagram onde eu mostro meu ambiente de trabalho iluminado, divertido e colorido
Foto do meu instagram onde eu mostro quadros na parede, post-its e um quadro para escrever

Indo na mesma linha, trabalhar de pijama de vez em quando pode ser engraçado, mas não traz tantos benefícios como dizem. Eu costumo levantar e me arrumar de verdade para ir trabalhar. Parece mais honesto comigo e com as(os) minhas(meus) clientes.

4 . Todo estilo de trabalho tem uma fundação básica

Quando você está sem as(os) colegas de RH e financeiro ao lado, o mínimo de organização estrutural vai evitar com que você seja engolida(o) pela má intenção de algumas pessoas.

O primeiro fato que você deve descobrir sobre isso é que não está trabalhando apenas quando estiver em projeto, então valorize e respeite parte do seu tempo resolvendo broncas jurídicas ou operacionais.

Seja você um(a) funcionário(a) remoto de uma empresa ou um(a) empreendedor(a) que decidiu abrir o próprio negócio (eu sou os dois casos — aloka), vai precisar descobrir tudo que é necessário para funcionar legalmente no Brasil ou criar meios que garantam que sua atividade seja sustentável.

Hoje é mais comum empresas internacionais aceitarem trabalho remoto e já existem alguns posts falando sobre o assunto. Meus amigos Ronualdo, Marcos e Leguimas me ajudaram muito nessa jornada compartilhando comigo uma compilação de informações destinada a quem trabalha ou quer trabalhar remotamente.

5. Habemus presença online

5.1 Defina a sua galera

Beleza, agora você já está bem instalada(o) e pronta(o) para aparecer remotamente em reuniões. Já trabalhou em par com outras pessoas, já fez uma série de contatos e mesmo com alguns tropeços próprios de uma iniciante, se sente até mais confiante.

Mas quem diria que ainda assim você ia sentir saudade de ver gente? De ouvir uma voz nos corredores daqueles colegas que não estão no mesmo projeto que você, mas sempre faziam seu dia mais completo?

Eu passei por isso recentemente e resolvi essa angústia ligando de vez em quando pra ex-colegas de trabalho para trocar ideias, desde dicas profissionais a “conversas de café virtuais”. Confie, a sensação é incrível e tem muita gente com a mesma vontade que você de se comunicar!

Eu e Leguimas (amigo, ex-colega) conversando sobre a abertura da minha empresa

5.2 Fale com uma voz firme e esteja atenta(o) às distrações do ambiente

Parece besteira, mas independente de ser reunião com o(a) cliente ou uma "conversa de café", sempre preze em emanar uma energia positiva online. Sorria para a câmera!! Se aparecer sua imagem não é uma opção, insista em manter uma voz presente e confiante. Simpatia sempre encurta caminhos e vai deixar as pessoas conectadas e concentradas em você.

6. Habemus presença física também ué

Calma, não é que trabalhando remoto você virou Zordon pra sempre. Também vai ter momento que ver pessoas fisicamente vai ser importante.

Imagem de Zordon conversando com os Power Rangers

Uma coisa que tenho feito 1 vez por semana junto com uma amiga também adepta do estilo de vida (Carina Albuquerque) é visitar co-workings diferentes, além de contribuir com indicações desses lugares para a comunidade remota. É agradável, muda a rotina e fortalece a gente. É tão legal que existe uma rede social só pra isso ó, o queridíssimo Workfrom.

Carina trabalhando de um café

Uma outra iniciativa fuderosa que conheço, para as(os) mais aventureiras(os) é o The Surf Office. Mas confesso que nunca testei.

7. Não ignore o seu almoço: ou ele vai te comer

Esse item é extremamente importante. Quem não sente saudades de ter opções mais diversificadas, ou mesmo do seu querido e amado vale refeição? Trabalhar de casa não é só comer miojo ou biscoito. É imprescindível se planejar pra que com essa nova rotina esse momento não seja pulado, afetado ou desbalanceie a sua alimentação. No meu caso, eu cozinho pra mim mesma, mas deliverys e o famoso descer pra dar uma voltinha no restô da esquina são opções tão boas quanto.

8. Revise constantemente sua abordagem

Sempre que algo der errado, experimente não colocar a culpa em si mesma(o) ou em alguém, mas perguntar-se:

Como anda o meu processo atual? Ele é ágil? O que eu posso fazer para melhorar? Como eu devo me comportar da próxima vez? Como eu educo o(a) cliente a acreditar nesse formato de trabalho?

9. Saiba o que esperar do retorno financeiro

Então quer dizer que tu achava que depois de 3 meses eu já teria virado a pessoa mais bem sucedida que você já conheceu, e esse post é apenas para te contar o caminho das pedras? Xiiii até me sinto sem graça de quebrar suas expectativas. O próprio retorno financeiro que eu tinha e as posições de destaque tradicionais, ficaram lá no passado.

Isso até dá me um certo alívio, pois eu não busco mais ser bem sucedida em posições de destaque ou retorno financeiro. Nesse momento eu procuro me concentrar em ter sucesso através da felicidade fazendo o que eu sonho, além de direcionar meus trabalhos para ajudar e impactar outras pessoas. E para conquistar essa liberdade não são poucas as noites de choro, de aperreio, de tentar desbravar um tópico ainda tão pouco conhecido.

Foto e frase do CEO da StickerMulle: “Como um CEO de startup, eu dormia feito um bebê. Eu acordava a cada duas horas e chorava”

Junto com isso, vem a noção de algo valioso: tu já não te importa com picuinhas que são bem 6ª série. Tu começa a afastar pessoas que só pensam fazer julgamentos e criticar os colegas de trabalho à sua volta.

10. Se não é pra ter felicidade e qualidade de vida, não adianta

Como eu tenho dito desde o início da série, tudo sempre foi sobre pessoas. Se essas dicas que estão aqui escritas não servem pra ajudar a consertar a maneira que vivemos, onde e como queremos viver, então não adianta.

Já teve algum momento que tudo que você queria era ter mais mobilidade para estar perto de quem você ama, sem entraves ou obstáculos? Eu já tive.

Mesmo com as dificuldades financeiras de todo início, tem sido muito interessante essa jornada de descobertas, inovação em formato de trabalho e mais balanço na qualidade de vida.

Enquanto o frio na barriga me guiar e a sensação for a de estar numa constante piscina de bolinhas, eu sigo nesse caminho. (carinha feliz)

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Tássia Spinelli de Lima

Pessoa apaixonada por trocar, aprender e conhecer os mais variados pontos de vistas. Designer de Experiência dos Usuários; a baixinha do grupo.