Escreva, Thaíse, escreva [parte 1]

Thaíse Nardim
2 min readApr 16, 2020

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Sobre sobrar desejo de escrever, mas faltar aquilo que me fizesse querer compartilhar.

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Na escrita, qualquer entrada pode ser uma boa entrada — mas é preciso por-se a entrar.

Há um ano, inscrevi-me num excelente curso de escrita criativa. Como uma pessoa interessada tanto na escrita, como em métodos de criação de artistas em particular, o curso com um escritor ao mesmo tempo jovem e experiente me pareceu uma excelente escolha. E foi. Embora eu não soubesse disso ao decidir participar, a abordagem passava pela perspectiva da psicanálise, recorrendo a ela para catapultar o desenvolvimento do aspirante. Isso muito me interessava.

Por motivos nada edificantes, acabei por abandonar o curso quando ele entrava em sua reta final. Excesso de trabalho por dificuldade de dizer “não”, combinado com ansiedade e alguma indisciplina, mais uma vez teriam vencido a determinação. Bem, ao menos essa foi a explicação que arranjei pra mim mesma. E, desde então, segui adiando o meu desejo de voltar a escrever — ou, dizendo de forma mais adequada, de voltar a escrever não-academicamente.

Agora, ao que parece, isso começa a mudar.

Alguns dos exercícios do início do curso de escrita criativa envolviam reflexões (escritas) sobre nossas motivações para escrever. Tendo a oportunidade de ler os exercícios de meus colegas, percebi que a absoluta maioria deles não tratara propriamente, naquela tarefa, do que os movia em direção à escrita — mas, sim, do que os movia para a, ou afastava da, publicação.

Em si, isso não é muito surpreendente: há quase vinte anos trabalhando como artista e professora de arte, tenho convicção de que o que leva pessoas a se fazerem artistas amadores é, em grande parte, a necessidade de exposição e validação frente a certo público. Talvez isso fale mais de mim do que de outrem, mas corro o risco de afirmá-lo. O que me surpreendeu, de fato, na leitura daqueles textos é que eu, embora tivesse vontade de voltar a escrever suficiente para me inscrever num curso (pago), não conseguia reconhecer em mim, naquele momento, nenhuma — e exatamente isso, nenhuma — vontade de publicar.

Seria isso verdade? Ou estaria eu me enganando, tentando provar a mim mesma que não padecia da vaidade que julgava acometer meus colegas de curso? Faltava desejo, motivação, ou sobrava insegurança? Será que eu não tinha mesmo, lá no fundinho, nenhuma coceirinha me pedindo público, me pedindo aplausos? Ou, por outro lado, não teria sido exatamente isso que me levaria a abandonar o curso exatamente na semana em que deveria produzir um texto para publicação na coletânea da turma?

Olhando bem de perto para essa sensação, ainda durante o processo, escrevi para um texto que intitulei “A Redatora”. Seguindo este link você poderá lê-lo na íntegra, assim como à continuação desta reflexão.

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