Projeto "unfollow coletivo"

Um guia básico para um reset digital (ou um feed menos horrível)

Thiago Loreto
5 min readFeb 18, 2020

Roteiro adaptado de um IGTV que ia pro ar, mas não foi por motivos de vergonha mesmo. Logo menos isso se ajusta.

Se você me lê por aqui e/ou me segue no Instagram, já deve ter me visto divagar sobre ter feito um limpa nos perfis que eu sigo em agosto do ano passado. Eu, que sempre fui rato de internet e passo ⅓ da minha vida criando conteúdo pra marcas, preciso me manter no exercício de desbravar e hackear as plataformas, entender melhor como as pessoas criam, se expressam e se engajam através delas.

Junto desse exercício de longa data, veio péssimo hábito de abrir o Instagram várias vezes por minuto pra ver se tinha alguma atualização, post ou novidade que eu ainda não fiquei sabendo sobre (FOMO alert!). Mas como você pode imaginar, não tinha. E não é figura de linguagem, eram várias vezes por minuto mesmo (em média, mais de 9 horas diárias!). Você sofre dos mesmos sintomas? Respira, que tem solução.

Era uma relação mais abusiva que saudável, faz mal pra qualquer um, não tem como negar. Foi um choque perceber o quanto se tornou automatizada a minha relação com o celular e com as redes todas, principalmente o Instagram. O automatismo leva a gente ao esgotamento sem perceber, em doses homeopáticas.

Diversos perfis que eu sigo hoje e admiro muito vêm sugerindo a prática do detox digital. É sobre uma recuperação da consciência de quem se segue, de remontar o seu feed de modo que seja saudável pra você. Só não vale basear o estilo de vida ideal em luxo & riqueza, sucesso fácil e rápido, skincare-sem-poros, passaporte 100% preenchido, roupas grifadas, corpinho perfeito de academia. Quem nunca desejou viver uma vida mais instagramável ou se comparou com o estilo de vida alheio e ficou na bad com a sua realidade?

Vasculhar o Instagram e parar de seguir os perfis não fazem bem (sem dó nem piedade) é um hábito muito pertinente e saudável a ser cultivado de tempos em tempos. Eu só não consegui fazer. Começava a melittar quem eu seguia e já de início, ficava com dó da primeira pessoa, mesmo sabendo que não fazia muito sentido em seguir. Muito disso vem dessa cultura egóica nossa de superestimar o follow e relacionar o parar de seguir com o não gostar. E aquela necessidade de estar sempre na ativa, fazendo tudo o tempo todo, atento a cada movimento que a Internet. Risos. Doce ilusão.

A ansiedade de ficar sabendo de tudo o tempo todo e o modo automático frito que eu lidava com as redes gritaram mais alto e eu finalmente cheguei à conclusão do unfollow coletivo. Mas até lá foi um processinho de entender algumas premissas básicas:

1. Entender o que aqueles perfis que você segue significam pra mim. Por exemplo, eu, que sou de Uberlândia, e moro em São Paulo, adorava ver todos os rolês que meus amigos de lá faziam, acompanhar a vida de pessoas que tinha menos contato. Ainda tinha a parcela de gente que eu fiz um job aqui, outro ali. Gente que eu não conhecia. Marcas, perfis de conteúdo, outros que têm umas imagens bonitas demais. No fim das contas, eu vi só uma parcela pequena disso tudo num feed completamente bagunçado. Então a ficha caiu que eu nem conseguia mais distinguir o que eu queria ver, mas com certeza não era aquele amontoado de informação.

2. Refletir sobre o valor do (un)follow. Que expectativa a gente tem quando vê o número de seguidores aumentar ou diminuir? Se um conhecido para de me seguir, quer dizer que ele não gosta de mim e dos meus posts? Da cartela de cores que eu uso nos Stories? Será que minhas selfies são feias? Não gostou daqueles vídeos que eu fiz na balada cantando? É isso, só pode. A gente pode ficar nessa brisa eternamente, é, inclusive, o caminho mais fácil a fazer.

Arrumar justificativa e um monte de hipóteses. Mas convenhamos, a pessoa começou ou parou de seguir porque ela quis. A gente precisa urgentemente normalizar o “querer” das pessoas. E o nosso também, mas isso fica pra um outro texto. Independente da motivação, a gente precisa entender o quanto nosso ego reage com a quantidade de seguidores. Com o meu unfollow coletivo, com certeza diversas pessoas parariam de me seguir. E tá tudo bem, né. Quem aí nunca foi movido pelo SDV-troco likes, mesmo que um pouco?

3. Por último, e talvez mais importante, dar valor ao que você consome. Dar valor ao tempo que você gasta consumindo conteúdo na internet. Tem uma frase do Facundo Guerra que um dia o chef Rodrigo Oliveira disse pra mim em uma reunião: “seu cartão de crédito tem mais força e poder que seu título de eleitor”.
A gente, que tem o privilégio de poder escolher o que vai consumir, precisa fazer isso de maneira mais consciente. Seja com bens materiais ou imateriais, precisamos entender que as nossas escolhas são políticas sim. Então vamos honrar o nosso poder de escolha e o tempo que temos pra isso.

Além de repensar, refletir e resetar esses hábitos todos, esse movimento significa pra mim muito um passinho a mais pra construir a internet que eu quero ver. Significa estar um passo mais próximo da pessoa que eu quero me ver no futuro, entender o exercício diário de respeitar o meu processo, dia após dia.

Descobrir o quanto esta singela mensagem me traz paz foi a conclusão que eu estava na direção certa. E anda sendo revigorante entender que nenhum conteúdo é tão importante assim, que eu não preciso me encher de informação e referências o tempo todo. Para o meu próprio bem-estar.

Lembrando que esse é um recorte de uma experiência pessoal minha, então fiquem à vontade pra compartilhar as experiências de vocês, tirar dúvidas e contar como é a internet que vocês querem ver. Sempre com amor e respeito.

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Thiago Loreto

verbalizador do universo de dentro, criador de conteúdo e de humor muito peculiar, você não entenderia | thi.loreto@gmail.com