O que o Brasil pode aprender com a Argentina no turismo

Túlio Pires Bragança
5 min readJan 13, 2016

--

San Telmo, bairro histórico de Buenos Aires. (foto: Henderson Moret)

Quando o assunto é turismo no Brasil, todo dia é um 7 a 1. Tanto governo como iniciativa privada podiam fazer muito mais para deixar nossas cidades mais interessantes e fáceis para quem nos visita.

Argentina recebe todo ano praticamente a mesma quantidade de turistas que o Brasil, mesmo tendo apenas 20% da população brasileira, uma menor malha aérea e passagens que custam mais caro.

Após a crise de 2001 o país conseguiu se reinventar e atrair muitos turismo internacional. Primeiro os gringos vinham porque era barato, agora veem porque gostam, porque os destinos são interessantes,bem vendidos e porque existe uma variedade de coisas para se fazer no país: Neve, montanha, vinho, Patagônia, norte indígena e a cosmopolita Buenos Aires.

O que o Brasil pode aprender com os argentinos para melhorar seu turismo?

1. Mudar o sistema de vistos

Reciprocidade de uma maneira que não afeta a indústria do turismo.

Coisa mais comum que vejo em Buenos Aires é gringo, principalmente americanos e canadenses, que tiram 6 meses ou um ano para viajar por toda América do Sul. Vão desde a Patagônia subindo, passando por tudo quanto é país, mas nem pisam no Brasil. Por quê? Porque precisam de visto para entrar lá.

E não são só os mochileiros. Turistas de mais dinheiro também evitam o Brasil apenas porque não terem vontade de lidar com a burocracia. Dependendo da cidade que você mora nos EUA é preciso viajar boas milhas e gastar dinheiro cum bom dinheiro isso para poder ter seu visto brasileiro. Quando o gringo pode ir para o Caribe de forma mais barata e sem perrengue, por que ele viria ao Brasil?

É basicamente a mesma coisa que o brasileiro precisa passar para poder visitar os EUA. A chamada reciprocidade. Justo, né? Depende. Com a economia brasileira não é nada justo, pois deixamos de ganhar milhões e milhões de possíveis visitantes.

Infelizmente não tantos americanos querendo visitar o Brasil como existem milhões de brasileiros querendo visitar Miami. As pessoas não estão exatamente morrendo de vontade de conhecer aqui, ainda mais sabendo da burocracia. O Ricardo Freira fala muito bem sobre a necessidade do fim do visto no seu post no Viaje na Viagem.

Argentina e Chile resolveram isso de uma maneira bem mais prática. O turista gringo precisa preencher um formulário online antes da sua viagem e pagar uma taxa assim que chegar no país. O valor pago, veja só, é exatamente o preço do visto que argentinos e chilenos pagam para entrar nesses países. Reciprocidade inteligente!

2. Parar de achar que somos um país tão incrível assim

Cierro de 7 colores, província de Jujuy na Argentina (foto: Paula Haefeli)

O brasileiro tem uma vocação natural para o turismo. Gosta de agradar, é curioso e atento com estrangeiros, sabendo tratar muito bem quem é hóspede. O ponto negativo é que achamos que o nosso país é o mais incrível e belo do mundo. Não precisa mais nada, já temos tudo.

Sim, o Brasil é um país sensacional que o gringo quase sempre volta amando. Mas pensar que somos tão incríveis que não precisamos de nada para nos preparar é a mesma coisa que Felipão fez antes do jogo da Alemanha em 2014.

A Argentina também é um país incrível, mas que sabe muito bem se vender. Diz a piada lendária que o negócio mais lucrativo que existe é comprar um argentino pelo preço que ele vale e vendê-lo pelo preço que ele ACHA que vale. Exageros à parte, isso se reflete muito em como o argentino em geral se valoriza e sabe muito bem mostrar o seu melhor.

Cada parte diferente do país é valorizada à sua própria maneira. Os vinhos de Mendoza, a parte rupestre e indígena da província de Salta, a neve e os lindos lagos de Bariloche, o fim do mundo com os glaciares da Patagônia e a bela e cosmopolita Buenos Aires. São partes diferentes vendidas que mostram ao mundo o quão complexo e variado é o país.

Brasil parece que só quer vender suas praias e é isso. Praia bonita por praia bonita, Caribe e Sudeste asiático também tem.

Como podemos mostrar uma imagem de um Brasil variado e único, sem cair no clichê da praia, bunda bonita e mulata sambando? Será que não está na hora de destacar também outras coisas?

3. Mais iniciativas criativas

Tour Lado B do Aires Buenos Blog. Foto Henderson Moret

Como governo é tão pouco criativo com o turismo brasileiro talvez a iniciativa privada siga a mesma onda. Acham que gringo só quer praia. Não! Querem comida, diversão e arte! Querem a vida como a vida quer! Ok, baixou o Arnaldo Antunes em mim!

São pouquíssimas alternativas que vejo nas cidades grandes de atividades pensadas para as necessidades e interesses dos turistas. O Cook in Rio e o Santa Marta Tour Favela são uma das poucas coisas que conheço.

Aqui só em Buenos Aires tem show de tango pra gringo, aula de culinária pra gringo, tour de grafite, tour para ir andar de cavalo, degustação de vinho, tour de churrasco. Prova disso é que nossos passeios do Aires Buenos Tour só recebem comentários positivos mas mesmo assim estamos em 20º no Trip Advisor. A competição é acirrada!

Isso em contar em iniciativas de valorização da cultura própria. Em Buenos Aires tem Gardel, Evita, Mafalda e o Tango. Cadê no Brasil a valorização de nossos ícones?

Muchas gracias pela leitura! Minha ideia é usar o Medium para falar sobre empreendedorismo e a indústria do turismo. Quando comecei a trabalhar com isso penei muito em achar material sobre o assunto. Aproveite e leia meus dois outros textos: Como o brasileiro viaja e 7 coisas que aprendi empreendendo com turismo em Buenos Aires.

Sou dono do Aires Buenos, blog que completa 10 anos em 2016. Em poucos meses lanço outro projeto, o Phototrip.me que reunirá fotógrafos brazucas ao redor do mundo. Nossa missão será “Deixe o pau de selfie em casa”. Meu sócio é o Henderson Moret, fotógrafo e guia de um dos nossos passeios.

--

--

Túlio Pires Bragança

Fundador do Aires Buenos, Phototrip.me e de otras cositas más. Redator On Air da Fox International Channels. Mora em Buenos Aires há 11 anos.