12 Reflexões Penetrantes Para Entender Por que Sofremos Tanto

E onde você pode encontrar alívio

André Camargo
Revista Tudo é Sagrado
4 min readMay 22, 2021

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Desde que fui podado de meu lar de juncos, cada nota que suspiro faria qualquer coração chorar.

Rumi

No último texto, fiz uma brincadeira: disse que o problema com esta vida é que ela não vem com manual de instruções.

Clique aqui se quiser ler meu último texto

No fundo, estava afirmando algo a respeito da condição humana: que, conforme desperta a consciência, ainda na infância, a gente se vê mergulhado em um mundo misterioso e precisa descobrir como viver — enquanto vive.

Esse desconforto existencial é um tipo de angústia “de fundo”, que segue pela vida e perpassa toda a existência — não importa o que a gente pense ou faça.

Espero que estas reflexões ajudem você a enxergar com mais nitidez outros aspectos do mal-estar de ser humano. E que, com essa clareza, novos caminhos de acolhimento e superação se abram para você.

1. De acordo com os budistas, o sofrimento está presente na vida como o óleo que permeia uma semente de gergelim.

Não é possível separá-los.

Em seu primeiro ensinamento após a iluminação, o Buda declarou que:

  • Nascimento é sofrimento
  • Envelhecimento é sofrimento
  • Doença é sofrimento
  • Morte é sofrimento
  • Tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento
  • Estar unido ao que você não gosta é sofrimento
  • Estar separado do que você gosta é sofrimento
  • Não obter o que você deseja é sofrimento

2. A gente também sofre a frustração de tentar encontrar,

por meio de um esforço intelectual lancinante, uma teoria, método ou filosofia que resolva o problema da existência — em vão.

3. Por fim, uma modalidade de sofrimento tipicamente humana:

a gente sofre porque não queria (ou acredita que não devia) estar sofrendo.

Esse é o sofrimento do sofrimento.

A vida melhora quando acolhemos a experiência de sofrimento e, ao fazê-lo, eliminamos essa camada extra, desnecessária, de sofrimento.

Afinal, sofrer já é suficiente. Você não precisa duplicar o sofrimento ao sofrer por estar sofrendo.

4. O que a gente faz para lidar com o sofrimento?

A gente normalmente tenta manipular as circunstâncias.

E vive em briga com a realidade.

Segundo Krishnamurti, considerado um sábio indiano, que viveu no século passado, a gente sofre essencialmente porque tentamos substituir ‘o que É’ por ‘o que deveria ser’.

Afinal, a verdade é que, quer a gente concorde, quer não, a realidade é soberana.

5. O antídoto para todo o sofrimento da existência,

na perspectiva budista, envolve um tipo profundo de sabedoria a respeito da vida: a percepção penetrante de que somos seres interdependentes.

Não estamos separados de todo o resto. Somos, todos, Um.

Como uma pessoa dentro de um filme, que só existe na medida em que o filme existe.

6. O lama Padma Samten, meu antigo professor de budismo, costumava dizer algo que nunca esqueci, porque me toca a alma.

Percebi que minha vida melhora quando consigo manter essa percepção viva no meu coração.

Dizia ele:

“O outro é você mesmo em um mundo diferente. Trate-o com profunda consideração.”

7. Quem alcança na carne esse nível de sabedoria consegue, de fato, relaxar.

(A ponto de se libertar, inclusive, do desconforto existencial de fundo, que tudo permeia).

Não precisa mais viver tentando manipular as circunstâncias a fim de defender os próprios interesses ou conseguir sempre o que quer. Não precisa mais viver tentando controlar a vida.

Quando se torna capaz de deixar fluir sem ficar interferindo, é porque sua postura fundamental diante da vida está passando do Medo ao Amor.

8. Uma pena que tão poucos entre nós consigam se libertar completamente do medo e acessar o Amor.

Claro, esse amor não é o amor romântico.

É o Amor sem distinções — amor pela Vida em todas as suas facetas.

9. Gosto de pensar que essa sabedoria equivale a uma perspectiva que se abre para alguns no leito de morte.

A pessoa olha atrás, para o que viveu, e se dá conta de que tudo, tudo foi necessário.

Não existe mais diferença entre o que você sentiu como bom ou ruim.

A vida que se esvai você agora a enxerga, em sua totalidade, como algo infinitamente precioso.

10. O problema com o leito de morte é que não tem mais tempo.

Agora visualize como seria despertar antes, ainda com anos pela frente. Compreender, de verdade, que tudo o que acontece, tudo o que se apresenta a você é precioso.

Aqui percebemos ressonâncias com a filosofia do amor fati, de um dos filósofos alemães mais impressionantes da história, Nietzsche.

Imagino que viver a partir da experiência de que tudo é sagrado equivale ao que os místicos chamam de graça, plenitude ou bem-aventurança.

Em outras palavras:

11. A civilização ocidental se institui a partir do arquétipo da Des-graça — da Queda ou do Paraíso Perdido.

De acordo com a perspectiva judaico-cristã, fomos expulsos do Jardim do Éden.

Em sintonia com a citação de Rumi, no início deste texto: a gente sofre um sofrimento agudo por saudades de casa, ao nos percebermos distantes da nossa morada.

Distantes a ponto de nos esquecermos de quem realmente somos.

12. Portanto, como sugeriu Platão (ainda antes de Cristo), no despertar da tradição filosófica do ocidente: mais do que descobrir,

o caminho é se lembrar.

Lembre-se de quem você é.

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