O Forrock de Onildo Almeida

Frank Junior
A Ponte
Published in
5 min readAug 13, 2018

A feira de Caruaru existe desde o início da vila que virou cidade, uma feirinha que rolava na frente da igreja da Conceição. A cidade cresceu, a feira cresceu junto, ficou enorme, e tinha de tudo pra vender, ainda por cima localizada numa cidade que era ponto estratégico de passagem de gado. Ou seja, todo mundo se encontrava na feira de Caruaru. A feira já grande, ficou conhecida nacionalmente por causa de uma música que Luiz Gonzaga gravou, e a composição todo mundo já sabe de quem é.

Onildo Almeida, nasceu no dia 13 de Agosto de 1928, ou seja, completa 90 anos de idade hoje. Sempre relacionado com música, começou sua carreira com a banda dos “Cancioneiros Tropicais”, depois chamado de “Vocalistas Caetés”. Em 1951 foi trabalhar na rádio Difusora de Caruaru como operador de áudio e depois cresceu em outras funções.

Seu primeiro sucesso foi a marchinha carnavalesca “Linda Espanhola”, que ganhou o concurso do carnaval pernambucano de 1955. No ano seguinte, em 1956, ele observando a feira de Caruaru começou a anotar as coisas que ele via por lá. Normalmente, feiras de maneira geral vendia frutas e verduras, mas a de Caruaru era diferente, se vendia de tudo. Não só as frutas e comidas em geral, como adereços de cozinha, boneco de barro de Vitalino (que na época era brinquedo) e até roupa como calça de alvorada (que era um tipo de Brim, sendo mais forte, pra aguentar o roçado). Onildo levou as anotações pra rádio e entre um intervalo e outro da programação, foi escrevendo versos, e em 15 dias terminou tudo.

Luiz Gonzaga e Onildo Almeida (fonte: O Fole Roncou)

“Tem loiça, tem ferro véio,
Sorvete de raspa que faz jaú,
Gelada, cardo de cana,
Fruta de paima e mandacaru.
Bunecos de Vitalino,
Que são cunhecidos inté no Sul,
De tudo que há no mundo,
Tem na Feira de Caruaru.”

Luiz Gonzaga certo dia visitou a rádio, se deparou com a música e gravou no ano seguinte, no disco “òia eu Aqui de Novo” (1957). A música estourou até na Europa, foi sucesso nacional, e Gonzaga vendeu 100 mil cópias do LP em poucos meses.

O ano de 1957 é o mesmo ano do centenário de Caruaru, e Gonzaga junto com Onildo queriam fazer uma letra que falassem um pouco da história da cidade. Foi aí que procuraram um jovem escritor da cidade que diziam saber tudo sobre Caruaru, era Nelson Barbalho. Se dirigiram para o café Majestic que ficava no centro da cidade, Onildo, Zé Almeida, Nelson e Gonzaga, e lá nasceu a música “Capital do Agreste”, onde Gonzaga gravou no mesmo LP “òia eu Aqui de Novo” (1957), “A Feira de Caruaru” no lado A, e “Capital do Agreste no lado B”.

“De fazenda Cururu
Povoado se tornou
Foi crescendo, foi crescendo
E à Vila, logo chegou
João Vieira de Melo
Coronel Cabra da Peste
Da vila fez a cidade
Hoje Capital do Agreste
Oh!Cidade encantadora
Terra do Major Dandinho
Neco Porto, João Guilherme”
(trecho de “Capital do Agreste” - Onildo Almeida / Nelson Barbalho)

Òia Eu Aqui de Novo — Luiz Gonzaga (1957) (fonte Forró em Vinil)

Já na década de 60, Gonzaga dizendo que ia encerrar a carreira (fase ruim para o baião, principalmente depois da chegada da Jovem Guarda, os “cabeludos” roubaram a cena na época) e pediu uma música a Onildo Almeida e Luiz Queiroga (o criador de Coronel Ludugero), e eles no Rio de Janeiro escreveram a letra “A Hora do Adeus”.
Ainda na década de 60, o clássico do coco de Jacinto Silva, “Gírias do Norte”, também tem parceria com Onildo Almeida na composição.

“O zé do brejo quando se casariou
Ele me convidariou pr’uma quadrilha eu marcaria
Marcariei uma quadrilha ritmada
Foi até de madrugada todo mundo com seu parear”
(trecho de “Gírias do Norte” — Onildo ALmeida / Jacinto Silva)

“Minha sanfona minha voz o meu baião
Este meu chapéu de couro e também o meu gibão
Vou juntar tudo, dar de presente ao museu
É a hora do adeus
De Luiz rei do baião”
(trecho de “A Hora do Adeus)”

Já no início da década de 70, mais precisamente em 1972, quando Gilberto Gil acaba de voltar do exílio em Londres, querendo fazer umas pesquisas em cultura popular, e lança um disco chamado “Expresso 2222”. Foi nesse disco que Gil gravou “Pipoca Moderna” da banda de Pífano de Caruaru, e “Sai do Sereno” de Onildo Almeida.

Em 1973, Luiz Gonzaga gravou no LP “O Fole Roncou” a música “Cidadão de Caruaru” de composição de Onildo Almeida e Janduhy Finizola.

“Sou pernambucano
Do sertão, cabra da peste
Já cantei por todo agreste
Fiz o mundo baionar
Mas quando canto
No recanto deste canto
O meu canto é quase um pranto
Dá vontade de ficar
Me dá lembranças
Das andanças e das danças
Que brinquei cá por estas bandas
E a saudade é de matar”

Em 1980, Onildo lança um LP próprio tendo “A Feira de Caruaru” como música carro-chefe do disco

Fonte: Forró em Vinil

No ano de 1985, Onildo Almeida hospedado na casa de Luiz Gonzaga no RJ decidiu ir ver um tal de festival de rock n roll chamado “Rock in Rio”, Gonzaga não aprovou. Onildo foi e voltou pra casa já com um verso pronto, e gravou essa música 2 anos depois no LP “Forrock”.

Forrock — Onildo Almeida (1987) (fonte: Forró em Vinil)

“Eu conheço esse toque
Não é baião, não é forró e nem é xote
Vou chamar cumpadre Roque
Pra ver se ele identifica esse toque
É uma mistura de forró com rock.
Mas vi também, do meu nordeste
Três cabras da peste cantando pra valer:
Moraes Moreira, Elba e Alceu,
O forró comeu, o rock se misturou
Forró com rock, e o rock forrófiou.”
(trecho de ‘Forrock in Rio“ - Onildo Almeida)

Onildo Almeida tem mais de 500 composições, gravadas e escritas por vários nomes do forró, e ganhou até um filme-documentário em 2017 dedicado à sua obra, chamado “Onildo Almeida — groove man”, dos diretores Hélder Lopes e Cláudio Bezerra.

Onildo esse ano completa 90 anos e com certeza é um personagem de extrema importância pra memória musical da cidade de Caruaru.

Fonte: NE10

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