Thera Blue: De Matuto Raiteque à Capitão Aventura

Frank Junior
A Ponte
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6 min readJun 12, 2019

Era uma sexta-feira à noite, quando eu passeava com mainha pelo shopping em Caruaru, quando eu encontro de passagem e apressado o amigo Ivan Márcio:
-E ae Frank, beleza? Vai ver o show de Thera?
-Quem?
-Thera Blue po!
-Conheço não, quando é?
-Agora, vá lá sacar, depois você me diz.

Agora em 2019 fazem 10 anos dessa sexta-feira que era 18 de dezembro de 2009, show de Thera Blue no Teatro Difusora às 21h em Caruaru. Um show intimista, menor, em teatro, com o público sentado e decorado com folhas secas no palco. Pra mim era tudo novidade, não conhecia nada préviamente, mas fiquei vidrado no show e fui cantarolando cantigas pra casa.

Mas a história não começa aí, vem de antes, por volta de 1987 quando Thera começou sua carreira artística ainda em Caruaru, aprendendo e viajando com sua irmã Val Azevedo (que tem o nome artístico de Nêga), vocalista da banda Cheiro da Terra na época. Thera vendeu terreno e carro para seguir a carreira artística, chegou também a ser bancário, mas viu que usar paletó e gravata não era o que queria. Em 1989 vai morar em SP pra seguir a vida e a carreira artística, até que em 2002 lança o 1º disco.

SERtão Psicodélico — 2002

O primeiro disco de Thera Blue, com 12 canções, se chama “SERtão Psicodélico” (2002), e tem sua concepção em cima da valorização se suas raízes caruaruenses somado à sua identidade própria. Foi gravado e produzido todo em Caruaru, com músicos locais, contando com a produção musical do maestro Carlos Firmino, e participações de Domingos Aciolly, Tavares da Gaita e Ivan Márcio.

Algumas músicas do disco são de composições de parceiros, como “Tamanho Verão” que é de autoria de Petrúcio Amorim e Josias Albuquerque (que foi o mesmo que fez a trilha sonora da peça clássica do teatro caruaruense “Olha Pro Céu Meu Amor” de Vital Santos, de 1983). “Xote Lispector” do conterrâneo Ortinho, “Sombras na Parede” de composição de Ivan Márcio (ex-vocalista da banda Sangue de Barro), “Blues do Fogo” de Fábio Duarte, e uma releitura de “A Capital do Forró” de Jorge de Altinho.

Além de uma música incidental chamada “Choro da Saudade” de Cacá Farias, em homenagem a Cássia Eller. Ela escreveu em novembro de 2000, e pediu pra Thera musicar para um festival que aconteceria em Caruaru. Thera apresentou a versão musicada do poema de Cacá em dezembro de 2001 (1 ano antes do disco ser lançado). No disco, a música acabou saindo como “Ela é o Máximo”. O disco foi lançado no dia 1º de Agosto de 2002 no teatro João Lyra.

As músicas são:

  1. Um Blues Pra São Pedro (Thera Blue)
  2. Tamanho Verão (Josias Albuquerque / Petrúcio Amorim)
  3. Bonde da Saudade (Thera Blue)
  4. Xote Lispector (Ortinho)
  5. Blues do Fogo (Fábio Duarte)
  6. Náufrago (Thera Blue)
  7. Não Fui Eu (Thera Blue)
  8. Ela é o Máximo (Cacá Farias)
  9. Empate (Thera Blue)
  10. À Procura (Thera Blue)
  11. A Capital do Forró (Jorge de Altinho / Lindolfo Barbosa)
  12. Sombras na Parede (Ivan Márcio)

Depois de quase 5 anos trabalhando com o “SERtão Psicodélico”, Thera lança em 2008 o seu 2º disco chamado “Thera Blue”, gravado em SP. Nesse disco, com 10 faixas e uma evolução musical clara, Thera não economiza no trabalho instrumental, com a presença de várias sonoridades, que vai de sintetizadores até viola caipira, passando por percussões e metais.

Thera Blue — 2008

As composições também são divididas com outros parceiros musicais, como André Abujamra (músico, compositor, ator. No cinema fez a trilha sonora do filme Carandiru) que assina a faixa “Infinito de Pé” (nome de um dos discos solos de Abujamra, de 2004) e divide parceria com Thera na faixa “Cocada de Jaca”.

Thera também grava uma poesia, fruto de uma parceria que eu considero clássica e raríssima de Jadilson Lourenço e Paulo Marcondes, chamada “Desesperadamente”. Jadilson é músico caruaruense, já fez muita trilha sonora pro teatro de Caruaru na década de 70 e 80. Ele é o autor de toda a trilha sonora da peça “O Auto das 7 Luas de Barro” (1979), de Vital Santos, e do filme “A Peleja do Bumba meu Boi contra o Vampiro do Meio Dia” (1980), de Pedro Arão e Luiz Lourenço. Já Paulo Marcondes é prof. de Sociologia, poeta, escritor, letrista e tem parceria com artistas como Geraldo Maia.

O disco ainda conta com uma música de Valdir Santos, que é uma das minhas preferidas, chamada “Caniço Pensante” (gravada originalmente por “Valdir Santos & Farra e Forró” em 2000, e posteriormente também regravada por Rogéria em seu 1º disco).

“Eu não sou a mazela nos seios da bela dama sociedade
Se o que eu canto é verdade ou não,
Quem é que vai querer saber
E as sulancas da vida, que hoje são feridas
Serão as donas do poder”
(trecho de “Caniço Pensante” — Valdir Santos).

Minha música preferida do disco é “Matuto Raiteque”, que Thera divide parceria com Cacá Farias. Foi essa música que me deixou vidrado no show de 2009 no teatro Difusora “em cima das folhas secas”.

Das participações especiais tem André Abujamra nas faixas “Zelador de Orixá” e em “Cocada de Jaca”. Simone Soul tocando bateria nas faixas “Capitão Aventura” e “Cocada de Jaca”. Lilian Marchetti com voz incidental em “Livro de Consulta”, e Val Azevedo (Nêga), irmã de Thera, nas faixas “Desesperadamente” e “Matuto Raiteque”.

As músicas do disco são:

  1. Matuto Raiteque (Thera Blue / Cacá Farias)
  2. Capitão Aventura (Ronaldo Lampi)
  3. Livro de Consulta (Thera Blue / Cacá Farias / Pêpa)
  4. Desesperadamente (Jadilson Lourenço / Paulo Marcondes)
  5. Borboletas Azuis (Thera Blue)
  6. Coração Mole de Manteiga (Thera Blue / Cacá Farias)
  7. Zelador de Orixá (Thera Blue)
  8. Infinito de Pé (André Abujamra)
  9. Caniço Pensante (Valdir Santos)
  10. Cocada de Jaca (Thera Blue / André Abujamra)
DVD “Eu Nunca Disse que Sabia” — 2013

No ano de 2013, Thera lança seu 3º trabalho, o DVD “Eu Nunca Disse que Sabia”. Gravado no Sesc Santo Amaro em Recife, um show muito bem produzido e de alta qualidade. Nesse DVD Thera traz mais 12 músicas, com um repertório basicamente do seu 2º disco, e mais algumas inéditas: “Boal” (composição de Osvaldo Borges), “Não Fui Eu” e “Vivermos” (ambas de Thera Blue), “Poema de Faquir” (Ortinho / Zeca Baleiro), e uma versão maravilhosa de “Dona Tereza” (Azulão).
Thera ainda recita no intervalo de uma música e outra, a poesia “Lisboa Revisitada” de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), que eu particularmente sou fã desse verso.

O repertório completo é:

  1. Coração Mole de Manteiga (Thera Blue / Cacá Farias)
  2. Boas (Osvaldo Borges)
  3. Não Fui Eu (Thera Blue)
  4. Desesperadamente (Jadilson Lourenço / Paulo Marcondes)
  5. Vivermos (Thera Blue)
  6. Infinito de Pé (André Abujamra)
  7. Capitão Aventura (Ronaldo Lampi)
  8. Borboletas Azuis (Thera Blue)
  9. Poema de Faquir (ortinho / Zeca Baleiro)
    A poesia “Lisboa Revisitada”, de Fernando Pessoa — participação de Toca Ogan (Nação Zumbi)
  10. Matuto Raiteque (Thera Blue / Cacá Farias)
  11. Dona Tereza (Azulão)
  12. Cocada (Thera Blue / André Abujamra)
DVD “Eu Nunca Disse que Sabia” — 2013

Agora em 2019, Thera Blue está em processo de gravação do seu 3º disco, intitulado “Beleza”. Disco só de inéditas com previsão de lançamento completo em 2020. Para esse ano, será lançado um EP com 3 faixas mais um clipe.

Thera Blue é um artista gigante, onde nenhum show é igual ao outro, nenhum disco é igual ao outro, está sempre criando e se reinventando, e com certeza é um dos grandes nomes da música de Caruaru. Além de ser um “doido, com todo direito a sê-lo”.

“Abra um livro e sonhe
Experimente a viagem
Do inferno ao paraíso
Experimente roupas
Mas também experimente
Não ter juízo”
(trecho de “Capitão Aventura”)

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