Recesso

Ivanildo Jesus

A Beleza do Som
A Beleza do Som
3 min readJan 14, 2024

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Belezers, nós tiramos um pequeno recesso, como vocês, nossa diminuta plateia — essa espécie em vias de extinção — puderam perceber. Escrever, pesquisar, roteirizar, postar, pesquisar e todas essas atividades desempenhadas para que as palavras pretas ocupem a folha branca, cansam. Nesses tempos pós-peste — quando agimos como se fosse possível recuperar anos perdidos — empenho segue esgotando-se. Não há reserva de descanso que dê conta do cansaço.

Final de ano, pura insanidade, concertos atrás de concerto, como já disse no texto Agenda, mas cabe dizê-lo novamente: nossa atividade é às vezes vista como supérflua, porém quando as pessoas podem gastar o tempo livre de suas vidas com o que quiser — como ocorreu na pandemia — vão de encontro à arte em suas mais diversas formas e variadas linguagens. Nesse ínterim, entre o desiderato do público e o ofício do artista, seguimos produzindo, para que vocês tenham o que consumir.

Você, leitor arguto, crítico incessante, dirá: “mas as atividades a que você se refere são pedantes, chatas, frívolas e não movimentam grande parte do público” sei de tudo isso, todavia, falando de quem está do lado de cá, mesmo a programação artística mais despropositada, mais distante do público, que baseia-se só em promoções pessoais, suscita alguma reflexão, sensibilização e crítica. É necessário, querido leitor, na aventura que fazemos em busca dos próprios gostos, saber os nossos não-gostos, porque tão necessário quanto ouvir o que se gosta, é entender — e comumente se deparar com — aquilo que não gostamos. Conselho: não deixe o seu não-gosto sem um porquê.

A Beleza do Som não pode, deve e vai parar, todavia, é tempo de pausa, de rever a estratégia, de viver e sublimar-se com as belezas para que possamos escrever sobre ela e reproduzi-la, seja em nossos instrumentos ou nas nossas conversas. A atividade musical-artística é de um poder de sedução ímpar, nós músicos, não sabemos (ou não conseguimos) parar. Faço lembrar de Caetano, há pouco pedindo por férias radicais.

Logicamente, a feiura do som não tira férias, tudo aquilo que atrapalha nossa produção, nossa busca pelo inexplorado dos biomas artísticos, segue sem freio. A ferida exposta da política segue recalcitrante ao bem-fazer. Esse tempo de retomada segue com propostas de trabalho para lá de esdrúxulas, Brasil segue sendo Brasil, sem recesso.

Para que possamos entender a beleza e enfrentar com sucesso a feiura, é necessário algum descanso. Isso posto, logo nos vemos, caro leitor, nessa semana vamos organizando a casa por aqui, nos encontraremos mais vezes.

Até!

Imagem de Angelina Kichukova

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