gabriela feitosa
afetosperifericos
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3 min readNov 12, 2018

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29 de Outubro de 2018, exatamente um mês depois das manifestações #EleNão — que movimentou de forma potente o contexto político deste ano-, pedalava até a praia com amigos quando passamos pelo que antes era um comitê de Jair Bolsonaro aqui em Fortaleza. Não tinha nada, sequer um adesivo com essa cor verde usada na campanha, que mais me trazia dor nas vistas que qualquer lembrança patriótica.

A praia foi muito bem-vinda neste dia em que cabeças estavam cabisbaixas do lado de cá do resultado das eleições. Enquanto olhava o mar fingindo poeticidade, por dentro uma sensação de impotência crescia. Dentre tantas discussões de desde bem antes o 1º turno, nenhuma era satisfatória para explicar isso que, alguns chamam de Fenômeno Bolsonaro/Bolsonarismo, outros chamam de qualquer nome engraçado surgido nas redes sociais e muitos chamam de Presidente. A última opção, evocada por mais de 50 milhões de votantes, é o que tem feito outros milhões pedalarem até a praia buscando alguma espécie de paz.

Desde o início da transição de governo de Michel Temer (MDB) para Jair Bolsonaro (PSL), com o anúncio do fim de alguns ministérios e fusão de outros, ministros envolvidos em casos de corrupção, poucas mulheres escolhidas para cargos do novo governo e apoio escancarado de emissoras de TV bradando lemas da época da ditadura, é natural que o contexto, além de tenso, esteja tão caótico quanto este parágrafo.

Mas a localização é Fortaleza, praia, 29 de outubro, 2018, #ElePresidente na capa do Diário do Nordeste. Os fogos ensurdecedores da vitória do dia anterior ainda ressoam nos bairros da Capital do estado onde Bolsonaro perdia desde o primeiro turno. 71,11% dos votos cearenses, no 2º turno, foram em Fernando Haddad (PT), o candidato derrotado. “O Ceará não é fascista”, era o que se lia pelas redes sociais. “Quem perdeu foi o Brasil”, era a legenda de um vídeo viralizado onde Haddad aparece dizendo que estava voltando à sua rotina normal: ser professor.

Poucas horas depois de anunciar Jair Bolsonaro como novo presidente eleito do Brasil, a frase — quase mantra — “Ninguém solta a mão de ninguém”, ganhava espaço nos perfis de usuários e no boca a boca carinhoso pós eleição. Tinha medo do futuro, mas tinha afeto. E tem afeto e conforto nos outros 47 milhões que votaram contra Bolsonaro por acreditar que ele e seu discurso violento não são a melhor opção para o Brasil.

E é aqui que, tímidos, surgimos. Por que importa falar sobre afeto? Para quem importa falar sobre afeto? Essas são algumas das perguntas norteadoras deste blog que agora se apresenta. Inicialmente pensado como trabalho final de uma disciplina do Curso de Jornalismo da UFC, o Afetos Periféricos nos atravessou e virou projeto pessoal nosso, três estudantes de uma graduação no Ceará. A partir de uma experiência encorajada do fazer jornalístico, transitamos por Fortaleza, a fim de contar histórias sobre pessoas e a forma como elas se espalham por nossa cidade.

Pessoas se espalham. Nós também nos espalhamos.

Seja bem vinda (o) ao Afetos Periféricos.

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gabriela feitosa
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Mulher negra comunicadora. Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) com passagem pelo Jornal O POVO, Yahoo Brasil e mais.