Isso não é aquilo parte 2: emoções e sentimentos

Saber reconhecer nossas emoções e nomear os sentimentos pode não ser uma tarefa fácil

Agência Camélia
agenciacamelia
5 min readSep 30, 2019

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Há algum tempo nós criamos uma série chamada Isso não é aquilo para refletir sobre o significado de adjetivos e seus sinônimos quando ditos para ou sobre mulheres. Agora, estamos retomando essa série para refletirmos sobre outra coisa: sentimentos e emoções.

E achamos que essa conversa começa entendendo que as emoções e os sentimentos não são a mesma coisa. A primeira é uma reação instintiva e natural para os estímulos externos, a segunda é sobre como a gente se sente em relação a essa reação. As emoções são nosso contato com o que está fora da gente, com o outro, com o mundo. Os sentimentos são o nosso contato com nós mesmo, com aquilo que tá tão dentro que somente nós vemos e temos acesso — e por isso mesmo é tão importante conhecer nossos sentimentos para conseguir comunicá-los.

Sentimento não é emoção, mas eles andam juntos.

E juntos com a gente, por onde a gente for.

Arte: Nina Exel

EXCITAÇÃO NÃO É ANSIEDADE

Pesquisadores do Laboratório de Interação Social da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, propuseram uma lista com 27 emoções humanas — a lista não é definitiva, mas já amplia bastante a visão anterior de que há entre 5 e 7 emoções básicas.

Nesta nova abordagem, ansiedade e excitação são emoções humanas, ou seja, reações do nosso corpo a estímulos externos. Mas qual é o nome do que sentimos quando o coração acelera porque tem uma viagem chegando? Ou quando vem aquela dor de barriga antes de uma apresentação importante? E as mãos suando enquanto estamos em um date?

Excitação não é ansiedade, e precisamos conhecer suas diferenças. Além de uma emoção, a ansiedade pode se intensificar até se tornar uma psicopatologia que merece tratamento — e isso não significa necessariamente o uso de fármacos, mas sim um cuidado com profissionais habilitados. Aprendendo a diferenciá-los em nós, também podemos tentar ajudar quem está ao nosso redor e que precisa de uma mão.

Arte: Nina Exel

TRISTEZA NÃO É MELANCOLIA

Mesmo com os mais recentes estudos, as emoções são, até hoje, difícil de se delimitar. Por muito tempo, raiva, medo, nojo, felicidade, tristeza e surpresa foram consideradas como as emoções-base, mas essa nova pesquisa da Universidade de Berkeley aponta que há muitas outras nuances e que várias emoções pertencem ao mesmo espectro.

A tristeza, por exemplo, é uma emoção. É uma reação humana a fatores externos e, por isso mesmo, não é boa ou ruim. Aliás, é isso que mostra o excelente filme “Divertida Mente”. A tristeza é, e ponto final. Já a melancolia é um fenômeno interno e que não precisa de um acontecimento externo para existir. Além de uma emoção, a melancolia pode ser vista como uma estrutura psíquica, e segundo a psicanalista Teresa Pinheiro, é um estado de vazio que, assim como a depressão, também pode pode precisar de tratamento — e isso não significa necessariamente o uso de fármacos, mas sim um cuidado com profissionais habilitados.

A tristeza não é melancolia, e quando aprendemos a diferenciá-los em nós, podemos tentar ajudar quem está ao nosso redor e que precisa de uma mão.

Arte: Nina Exel

ESPANTO NÃO É MEDO

Ainda partindo da pesquisa realizada pela Universidade de Berkeley, espanto e medo também são apresentados como duas emoções humanas diferentes.

Segundo esse estudo, o espanto se relaciona com emoções como admiração e apreciação estética, e se contrapõe ao medo, nojo e ansiedade. Quando somos impactados pelo fator externo que desperta em nós a emoção, muito dificilmente vamos conseguir nomear o que sentimos, mas é muito importante olhar para a emoção e significá-la da maneira mais verdadeira possível.

Espanto não é medo, mas eles podem nos confundir.

Então vamos com coragem, espanto ou mesmo medo, mas sempre olhando para dentro de nós.

Arte: Nina Exel

CALMA NÃO É TÉDIO

Não fazer nada, absolutamente nada. Ou estar completamente cheio de tarefas e coisas pra fazer. Nas duas situações, é possível sentir calma. Ou tédio. Duas emoções que são resultado de estímulos externos, mas que podemos olhar com muito carinho para significá-las (ou ressignificá-las) da maneira mais apropriada e saudável.

Como estamos sendo estimulados o tempo todo a produzir algo, não fazer nada pode parecer tédio, mas às vezes é calma. Assim como seguir a cartilha da meditação-yoga-granola pode parecer calma, mas às vezes é tédio.

Calma não é tédio, mas pode ser que o nosso contexto social queira dizer que é, sim. E como falamos por aqui, vivemos em uma sociedade que nos impacta a todo instante com muitas informações, e o barulho externo pode, muitas vezes, tornar mais difícil ouvir a nós mesmo ou até mesmo deixar muito nebuloso o que sentimos.

Arte: Nina Exel

VULNERABILIDADE NÃO É FRAQUEZA

Fraqueza e vulnerabilidade não são emoções ou sentimentos, mas com certeza impactam a maneira como nos sentimos. E depois de conhecer o trabalho da Brené Brown, achamos que entender essa diferença pode ser fundamental nesse processo de autoconsciência que estamos mergulhando por aqui.

A Brené é PHD e professora da Universidade de Houston, e dedicou sua vida a estudos sobre vergonha, vulnerabilidade e coragem. Ela tem um famosíssimo Ted Talks chamado “O poder da vulnerabilidade” em que ela diferencia “vulnerabilidade” de “fraqueza”, e também um documentário na Netflix chamado “O poder da coragem” — e se você não viu nenhum dos dois, sugerimos assistir e se permitir estar vulnerável.

Vulnerabilidade não é fraqueza, e entender essa diferença pode nos deixar mais fortes.

Arte: Nina Exel

Esta edição da série #issonãoéaquilo teve como objetivo propor uma reflexão sobre a autoconsciência emocional, afinal, aqui na Camélia, acreditamos que essa é uma das maneiras de nos conhecermos cada vez mais, nos tornamos mais responsáveis afetivamente e nos sentirmos menos culpadas e culpados sem necessidade. Se você não leu a primeira edição, que reflete sobre adjetivos e seus significados quando ditos sobre ou para mulheres, então clique aqui.

Esperamos que essas reflexões tenham sido especiais para você também!

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Feita por mulheres que acreditam na importância das conexões e na comunicação com afeto, que gere valor para marcas, contextos e pessoas.