Mergulho: os afetos na arte

Referências e indicações de artes que nos afetaram nos últimos dez anos

Agência Camélia
agenciacamelia
4 min readDec 19, 2019

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Arte: Nina Exel

2019 está acabando, assim como essa década. Mas como já falamos no nosso artigo sobre a passagem do tempo, nem sempre nos damos conta da quantidade de experiências que vivemos, e por isso, num grande esforço coletivo, algumas de nós pararam para lembrar desses últimos anos e pincelar os principais afetos da década quando o assunto é arte. Bora conferir?

A arte como sentimento, por Gisele Ferreira

Dia desses, li em algum lugar o termo “o estado da arte”, normalmente usado para descrever algo tecnológico ou inovador que alcançou o estado de perfeição. Isso poderia significar que arte é o estado de perfeição de algo? E quem define esse ‘estado de perfeição’?

A arte, pra mim, é uma perspectiva. É o tempo que eu levo em frente a uma obra, é o sentimento que uma música me remete, é olhar, de longe, pra uma pessoa que eu gosto enquanto ela interage com outras pessoas. Arte é o estado mais vulnerável de se permitir sentir e permitir que os seus sentimentos tomem uma forma que só você entende, que só o que te construiu até hoje e que fez parte da sua história e contexto te permite ver. Arte, talvez, seja o sentimento mais íntimo e que no fundo, você só consegue dividir com você mesma. Arte talvez seja olhar para dentro de si e ver o que reverbera. Ou talvez não.

Quem define o que é arte?

A arte urbana, por Verônica Batista

Nessa última década eu mudei de cenário algumas vezes: saí da cidade dos meus pais no interior do Estado e vim pra São Paulo, depois morei em outro país fazendo intercâmbio, e ainda pude viajar pelo Brasil. Com essas mudanças todas, uma forma de arte foi muito consistente e sempre me afetou muito: a arte urbana. E aqui peço permissão para incluir também as vegetações e as arquiteturas como formas desse tipo de arte.

Eu diria que, nesse aspecto, é muito difícil escolher uma obra de arte que me afetou de maneira singular, porque a arte urbana é mesmo essa coisa mutável, desde os grafites e as pichações até os prédios e casas passando pelas vegetações e pela flora local, nada disso é pra sempre, mas, ao mesmo tempo, a arte urbana é também a maior expressão estética de um local.

Por isso considero que o meu maior aprendizado com essa forma de arte foi, em primeiro lugar, aprender a olhar pra ela e enxergar sua existência como arte. Depois, perceber que as cidades são tão vivas quanto nós, e elas se expressam das mais variadas formas. Por último, eu diria que a arte urbana me ensinou muito sobre a beleza do campo, de como nos alienamos em prédios e casas e concreto e esquecemos que de concreto mesmo só temos a terra, e dela brota arte na sua forma mais pura.

O expressionismo, por Roberta Ozi

Eu diria que a forma de arte que mais me marcou na última década foram as artes plásticas, mais especificamente os quadros, que apesar de não ser uma forma de arte tão acessível ou disseminada, me afetam muito.

E dentro deste contexto, as obras do Dalí foram as que mais mobilizaram os meus afetos. Com elas eu aprendi que tudo é criado e interpretado a partir das nossas referências pessoais, e que o entendimento de uma mesma coisa é diferente para diferentes pessoas. O tanto de questionamento, crenças, ideias, conhecimento e opiniões que a gente carrega dentro de nós se apresenta em tudo que colocamos no mundo, por isso, aprendi muito que é preciso decodificar e interpretar as coisas a partir de todos esses aspectos e não só daquilo que foi colocado pra fora, que está expresso na tela, que aparentemente é uma obra finalizada.

Arteterapia, por Grazi Shimizu

Respondendo assim de primeira, a forma de arte que mais me afeta é a poesia, com toda a certeza. Mas o fazer arte, seja qual for e independente da ou de técnica, é o que me afetou mais profundamente nessa década, especialmente agora no final. E focando na poesia, não sei se consigo escolher só um livro da década, então vou falar dois: Alguma Parte Alguma, do Ferreira Gullar e Um Corpo Negro, da Lubi Prates.

Com a poesia, sigo aprendendo que, com ritmo e cadência, até a maior dor do mundo tem sua beleza. E com o fazer arte, durante muitos e muitos anos da minha vida eu tive uma ideia de que ‘fazer arte’ é para quem nasceu rico. Mas então eu entendi que, sim, estudar técnicas de arte e sonhar em viver disso ainda é algo absolutamente elitizado (e me emociona demais ver artistas que conseguem meter o pé nessa barreira, ainda que com muito custo). Porém, o conceito de fazer arte se expandiu pra mim quando conheci a arteterapia, e entendi qual o papel da arte na minha vida: a arte como ferramenta de expressão do que é indizível, invisível.

O fazer arte para mim se tornou uma boia salva-vidas que me permite mergulhar no mais profundo de mim, mas sem me perder da superfície. Pra mim é muito fácil me perder aqui dentro, e tudo se torna ainda mais complexo porque mergulhar aqui não é algo simplesmente incontrolável — eu gosto muito de estar nas profundezas da minha alma, e o fazer arte tem sido um ponto de segurança e de um mínimo equilíbrio entre o mergulho e o respiro pra fora desse monte de água que sou eu.

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Feita por mulheres que acreditam na importância das conexões e na comunicação com afeto, que gere valor para marcas, contextos e pessoas.