Tempo e produtividade

O que impacta a nossa percepção da passagem do tempo?

Gisele Ferreira
agenciacamelia
4 min readOct 23, 2019

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Arte: Nina Exel

Quanto tempo o seu tempo tem? Nas últimas semanas estamos, aqui na Camélia, estreitando conversas sobre nossa relação com o tempo. Nesse contexto, nos questionamos: como cada um percebe o tempo? Está ligado ao emocional, à física, ao funcionamento dos nossos corpos? Ao quanto a gente produz ou deixa de produzir?

Em Quanto tempo cabe em 5 anos falamos sobre algumas das diversas perspectivas e, entre elas, o conceito de tempo produtivo:

“Como já falei anteriormente, um camponês trabalhava de acordo com as estações do ano e um marinheiro precisava estar atento às marés. Mas com a Revolução Industrial a lógica de produção se transformou e a internet intensificou essa transformação.”

Falando em Revolução Industrial, algumas gerações passadas reforçaram valores do conceito de tempo produtivo: os babyboomers na década de 60/70 que tinham como valores disciplina, estruturas lineares e responsabilidades individuais e a Geração X, na década de 70/80, que possuíam uma lógica mais individualista e competitiva.

Com a chegada dos Millennials, que se apresentam com uma mentalidade digital, líquida e coletiva, a forma como vivenciamos trabalho e vida pessoal se torna uma coisa só e ter uma vida plena — ou o mais próximo disso — passa a ser uma das prioridades.

Mas o que é ter uma vida plena?

Segundo o dicionário, a plenitude é o estado do que é inteiro, completo. Nos últimos anos, a consequência da nossa busca por uma vida plena se manifesta numa incessante procura por um olhar de cuidado integrado para si mesmo. Mas, o que pode ser um caminho para encontrar os louros de uma vida plena, também tem limites. O pesquisador Fabio Lafa, fala sobre isso no texto Desaceleração, a não-culpa e os 10 mundos de felicidade:

“O autocuidado se tornou solução e, dependendo da dose, a própria causa do stress, à medida que procuramos cada vez mais informações a respeito nas redes sociais. Hashtags como #autocuidado ou #yoga no Instagram — a última inclusive, traz mais de 72 milhões de postagens. Com esse mar de estímulos, saberemos somente o que nos trará um bem-estar real se encontrarmos cada um, seu ritmo — até pra nos acalmar.”

Ou seja, ao procurar pelo JOMO (ou o “prazer de perder um momento”, termo que explica a nossa busca pela reconexão com seu eu e a natureza) acabamos caindo no FOMO (a famosa síndrome que acomete quando temos medo de perder um momento) ao nos bombardeamos de informação e gerarmos um ciclo de ansiedade na busca do autoconhecimento. Será que é hora de, em vez de buscar fora, olhar pra dentro, encontrar “nosso próprio ritmo”, nossos espaços e definições próprias de realinhamento com nós mesmos e a sociedade?

Entendendo que o significado e a busca por uma vida plena pode ter um significado único para cada um, conversamos com a astróloga Maína Mello que traz um ponto de vista do seu processo de reconectar com seu tempo interno e o que a natureza e as energias podem ter a ver com isso.

Camélia: Como você percebe a passagem do tempo?

M: Ainda estou me adaptando a esse novo tempo e tenho achado bem confuso. Até porque as pessoas não entendem, ficam me cobrando que continue no tempo da matrix, no calendário, mas eu sinto tudo diferente e às vezes rola um descompasso. Eu mesma me cobro às vezes respostas mais rápidas, fico impaciente com meus próprios processos. Então não tem sido fácil! Mas tem sido também um momento riquíssimo de autodescobertas essenciais, de abertura mental e intensa criatividade e estou me dando todo o tempo pra explorar isso em profundidade.

Camélia: Você se sente otimista com relação ao futuro?

M: Sou uma otimista por natureza! Mas sei que estamos em um processo muito forte de ascensão da consciência, que está mexendo com toda a grade energética da Terra, da humanidade e de cada uma de nós. É uma atualização de sistema, e a estrutura anterior, que chamamos de “matrix”, está sendo desconstruída, assim estamos passando por uma limpeza de arquivos, nossas memórias e ilusões sendo esclarecidas. Esse processo pode ser difícil em alguns momentos, em que podemos nos sentir muito desiludidas, desanimadas ou ansiosas. Mas é preciso atravessar essa névoa. Essa expansão acelera o tempo mesmo. É uma nova linha do tempo chegando à Terra e nosso corpo está passando também por uma atualização pra se adaptar a essa nova frequência. Isso porque o tempo está relacionado à dimensão material da existência, mas como estamos cada vez mais conscientes de que somos energia, a matéria está ficando menos densa.

Arte: Julia Coppa

Camélia: Como você acha que podemos melhorar a nossa relação com o tempo?

M: É preciso saber parar pra sentir o nosso tempo interno enquanto esse ajuste está rolando. Na matrix, somos condicionadas a seguir o tempo social imposto, o tempo industrial, o tempo do mercado, somos escravas do trabalho e das tecnologias e suas redes, é um mundo materialista e desconectado da natureza. Assim somos distraídas da nossa verdade, somos desempoderadas de ser criadoras da nossa própria existência. Saber parar pra experimentar a natureza, pra meditar, simplesmente ser e estar presente, acompanhar as fases da Lua, ter tempo de autocuidado: isso é explorar o nosso tempo interno. Daí podemos fazer as coisas no nosso tempo, de acordo com a nossa verdade.

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