Todo dia é uma primeira vez

Só o presente existe, mas como existir no presente o tempo todo?

Graziele Shimizu
agenciacamelia
3 min readOct 31, 2019

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Arte: Julia Coppa

Ao escrever esse texto enfrento a angústia de todo começo, e, pra mim, empreender com a Camélia é viver, há cinco anos, essa angústia o tempo todo — e também a adrenalina gostosa demais de uma nova aventura. Estamos sempre a começar algo, um novo momento, um novo cliente, uma pessoa nova na equipe, um novo lugar, um novo dia. Tenho vivido primeiras vezes todos os dias, como empreendedora, como mãe, como pessoa, e não é sobre isso que o tempo e a vida se tratam?

Lembro da primeira vez que fechamos contrato com um grande cliente, a sensação de plenitude era infinita. Ainda na reunião de fechamento do negócio, pegamos um monte de material de referência, livros, brochuras promocionais, caderninhos personalizados, um pendrive que também era uma pulseira, e fomos direto para um bar próximo. As mãos cheias de tralha e o coração explodindo de emoção em ver nossos planos se concretizando — tínhamos um grande cliente pela primeira vez, e ainda da área da educação, nada podia ser melhor e mais maluco que isso!

Pouquíssimos dias depois, me sentindo estranha como nunca e ainda em dúvida sobre ser a ansiedade de uma nova aventura que começaríamos em breve ou ainda a ressaca da comemoração, descobri que não era nada disso (ou não só isso): na verdade eu estava grávida. Pela primeira vez tinha um negócio pra chamar de meu, com sócias que eu tanto amava e admirava, tínhamos acabado de fechar o primeiro grande cliente, iríamos contratar a primeira pessoa para a equipe… e tudo isso sendo mãe pela primeira vez.

Ao ler, no primeiro texto dessa nossa série sobre o tempo, que “Só o presente existe”, por mais que eu entenda isso intelectualmente e concorde com todas as minhas forças, a batalha para me fazer presente aqui, no real, acontece o tempo todo. Ok, só o presente existe, mas como é que a gente faz para estar, de fato, presente? Como me fazer presente em uma reunião importante depois de mais uma noite de maternagem ou em um fim de dia de brincadeira-choro-banho-botar-pra-dormir depois de um dia intenso de trabalho?

“Tenho tentado enxergar que todo dia é uma primeira vez. E toda primeira vez pode ser, também, uma nova aventura.”

Sentada aqui, relembrando nossa trajetória sem nostalgia, enxergando a potência do nosso futuro sem criar expectativas, simplesmente sentada escrevendo esse texto (um pouco pressionada pelo prazo que deixei chegar no limite), eu consigo de alguma forma materializar um pouco melhor o como tenho feito isso (ou tentado) aqui na Camélia, como tenho conseguido estar mais no presente e menos no antes ou depois. Algo meio autoajuda-AdamSandler, meio filosófico-nunca-entramos-duas-vezes-no-mesmo-rio, mas, pra mim, muito verdadeiro: tenho tentado enxergar que todo dia é uma primeira vez. E toda primeira vez pode ser, também, uma nova aventura. Por mais que a gente já tenha fechado outros pequenos e grandes clientes, já tenhamos somado várias outras pessoas à equipe ou mudado de lugar algumas vezes, nunca foi nem será o mesmo cliente, a mesma pessoa, o mesmo lugar. A angústia persiste em cada um desses momentos, mas a adrenalina deliciosa também.

Quando a Verô me chamou pra escrever esse texto, a proposta era escrever sobre a passagem de tempo desses 5 anos de Camélia do ponto de vista da comunicação, ou talvez do meu ponto de vista pessoal, ou quem sabe um pouco de cada. Peço perdão à minha coordenadora-redatora-amor-da-vida, mas ao sentar em frente à folha em branco e, com aquele aperto na garganta do começo de qualquer coisa, percebi que essa seria a primeira vez que eu escreveria para nosso Medium. Posso escrever sobre comunicação em muitas oportunidades, mas escrever pela primeira vez sobre primeiras vezes… bom, essa é a primeira e última vez possível — e ainda bem!

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