Quem foi Frida Kahlo? — Muito além de suas sobrancelhas icônicas

Thais Nunes
Aquieta a Mente
Published in
8 min readAug 25, 2022

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“Espero que a partida seja feliz e espero nunca mais voltar”. — Frida Kahlo

Frida Kahlo

Frida Kahlo nasceu no México em 6 de Julho de 1907, seu pai era Alemão e sua mãe Mexicana descendente de indígenas, Frida tinha três irmãs. Embora seu ano de nascimento fosse 1907, ela mudou para 1910 para ter uma conexão com a revolução mexicana, que teve início neste ano e foi até 1920.

Durante a maior parte da sua vida retratou sua história em pinturas, muitas delas, autorretratos. Suas pinturas têm um estilo único e distinto e Frida não permitia que seu trabalho fosse chamada de pintura “surrealista”, pois para Frida, ela pintava sua própria realidade.

Frida Kahlo

Saúde debilitada

Desde criança, Frida nunca teve boa saúde. Aos 6 anos foi diagnosticada com Poliomielite, como resultado dessa doença infecciosa, suas pernas ficaram desproporcionais e ela andou mancando durante toda sua vida.
Frida tentou esconder essa condição com os seus saiões icônicos. E inclusive, por algum tempo ela passou a utilizar calças, o que para a época era uma afronta a sociedade.

Alguns historiadores especulam que seus problemas de saúde tenham influenciado Frida a escolher cursar medicina. Ela entrou em uma das melhores faculdades no país. No seu primeiro ano havia apenas 35 meninas para 1965 homens.

O Acidente

Aos 18 anos, enquanto ia de ônibus para a escola, Frida sofreu um terrível acidente. O ônibus que ela estava chocou-se com um bonde.
Estima-se que ela tenha quebrado a clavícula, duas costelas, a perna, assim como também o pé e deslocado o ombro.
Mas sem dúvidas os mais dolorosos devem ter sido os ferimentos da sua coluna e a sua pélvis que se quebraram em 3 lugares. E um ferro atravessou o seu tronco, entrando pela sua coluna e saindo pela sua vagina. O que mais tarde a impossibilitaria de ter filhos. Os seus ferimentos eram tão extensos que os médicos não acreditaram que ela fosse sobreviver.
Mas um espirito forte como o de Frida não desistira tão fácil. Ela ficou várias semanas desacordada no hospital e quando acordou, pediu que o seu pai trouxesse os seus materiais de arte até ela. O seu pai, que também era artista e um renomado fotografo, projetou um cavalete que possibilitasse ela a pintar deitada e também colocou um espelho sobre a sua cama.

Frida disse muitas vezes que pintar foi o que lhe deu energia de vida, e junto com os seus pais, foi o que ajudou a se recuperar.

O segundo acidente na história de Frida

Infelizmente não foi apenas dor física que a Frida sofreu. Certa vez ela disse que em sua vida sofreu dois acidentes: o primeiro foi quando o ônibus bateu no bonde e o segundo foi Diego.

Antes de falarmos sobre Diego, vale lembrar que Frida cresceu durante a revolução mexicana, ela considerava-se uma filha da revolução, também se identificava com os ideais do socialismo e do comunismo, o que é muito perceptível em suas obras.

O Marxismo dará saúde aos doentes — Frida Kahlo — 1954

Em várias obras é possível notar a presença de Karl Marx, Stalin, Lenin, entre outros.

E foi quando ela entrou para o partido comunista que conheceu seu marido Diego, pois ele também fazia parte.

Longos meses após o seu acidente, Frida pode voltar a andar e decidiu então que iria largar medicina e viver apenas de sua arte. Na mesma época no México houve um grande movimento chamado: movimento muralista. Esse movimento era formado por artistas que faziam pinturas não em quadros ou galerias, mas sim em grandes murais, para que assim, toda a população tivesse acesso à arte.
E Diego Rivera era um dos maiores artistas do México nesse movimento, além de ser muito importante politicamente.

Então Frida decidiu que iria levar seus quadros até Diego para avaliar seu trabalho. E após isso, eles ficaram cada vez mais próximos, até que quando Frida tinha 22 anos e Diego 42, eles se casaram. Dando início a um casamento tumultuado, rodeados de polêmicas e traições.

O casal extravagante, tinha um apelido: o elefante e a pomba. Devido a diferença de tamanho entre os dois.

Diego já havia sido casado anteriormente e tinha um longo histórico de infidelidade. No seu casamento com Frida, houveram inúmeras traições mutuas. Historiadores relatam que não houve um momento sequer no casamento em que eles foram monogâmicos.
E mesmo com essa estrutura incomum de matrimônio, era notável o quando Frida o amava. Ela fez inumes pinturas a ele, como também foram encontradas diversas declarações de amor em seus diários.

Os encantos de Trotsky

Trotsky foi um grande intelectual marxista, que ficou hospedado um tempo na casa de Frida, quando foi para o México foragido de Stalin que estava tentando mata-lo. Frida e Trotsky ficaram perdidamente apaixonados um pelo outro e até mesmo ficaram alguns anos juntos.

Frida Kahlo e Trotsky

Toda essa história deixou Diego muito mal e acabou criando uma grande crise em seu casamento. Porém, eles só se divorciaram algum tempo depois após Frida descobrir mais uma traição de Diego, dessa vez com sua própria irmã. E descobriu também que esse caso era antigo e que seus 6 sobrinhos, na verdade, eram filhos de seu marido.

Logo após o seu divórcio Frida teve uma grande crise de depressão e em um dos surtos, raspou totalmente sua cabeça, pois era a parte de seu corpo que Diego mais gostava. Nesse período ela fez diversas pinturas com significados fortíssimos retratando seu momento de dor.

Porém, o divorcio não durou muito, pois no mesmo ano os dois reataram o casamento.

O retrato de sua dor

Frida engravidou várias vezes, mas todas terminaram em aborto, devido a sequelas de seu acidente. O seu trabalho mais brilhante refletindo esse assunto incrivelmente doloroso é a obra Hospital Henry Ford que foi criado em 1932 depois de seu aborto espontâneo.

Hospital Henry Ford — Frida Kahlo

Frida pintou-se em uma posição de corpo torcido, para mostrar a dor que estava passando, as fitas vermelhas representavam os cordões umbilicais, havia um feto masculino sobre ela e um caracol para mostrar o quão lenta a operação foi. Um desenho ortopédico da zona pélvica e um osso pélvico são lembranças do acidente de ônibus que a levou a pintar toda a sua vida. A orquídea embaixo da sua cama, tem forma de útero que foi um presente de Diego.

As duas Fridas — Frida Kahlo

Em 1939 após o seu divórcio Frida criou o seu icônico autorretrato: as duas Fridas. Ele mostra os dois lados diferentes de sua personagem. Conectados por uma veia e de mãos dadas. A frida a esquerda está com o coração partido e uma tesoura na mão, pronta para cortar a veia. A outra tem o coração cheio, e em sua mão ela segura uma fotografia de seu amado Diego.

Colar de espinhos e beija flor — Frida Kahlo

Um ano depois ela pintou um outro icônico autorretrato que deu o nome: colar de espinhos e beija-flor apesar de o colar fazer com que sangre, Frida o está usando com dignidade.

A coluna partida, Sem Esperança— Frida Kahlo

Em sua carreira, Frida Kahlo criou 143 pinturas, das quais 55 são autorretratos.

A artista disse: “Eu pinto porque estou sempre sozinha e, porque sou o sujeito que conheço melhor”.

Eles são considerados os melhores já criados por boa parte da crítica e frequentemente incluem interpretações de feridas tanto físicas quanto psicológicas.

Frida e o feminismo

Durante toda sua vida Frida pintou quadros mostrando sua fragilidade, ela retratou muitas realidades vividas pelas mulheres, ela retratou o feminicídio, ela retratou o aborto, retratou seu casamento, e também os problemas conjugais.

Mesmo nunca se declarando claramente como feminista, isso não impediu com que ela virasse um ícone de força mesmo assim, e se tornasse um símbolo de empoderamento para várias mulheres ao redor do mundo.

Que a partida seja feliz

Em 1940 Frida teve sérios problemas de saúde e foi internada em um hospital. Quando Diego ficou sabendo, ele foi imediatamente até lá e pediu para voltarem e assim ela aceitou.

Frida e Diego em 1940

No decorrer dos anos Frida teve que realizar diversas cirurgias, muitas delas sérias. E seu estado de saúde ficava cada vez mais debilitado devido às sequelas do acidente sofrido 20 anos antes. Até que em 1953, Frida tem que amputar uma de suas pernas devido a uma gangrena.

E um fato interessante é que foi apenas pouco tempo antes de Frida morrer que ela conseguiu uma exposição somente de suas obras no México.
Ela já havia feito exposições em Paris nos EUA, o próprio museu do Louvre já havia comprado uma de suas pinturas, mas, nunca no México.

Porém, quando essa exposição ocorreu, seu estado de saúde era muito debilitado e ela já não podia mais se levantar. Então ela contratou uma equipe para transportar a sua cama de sua casa até a exposição. E sendo assim conseguiu estar presente. Foi uma de suas últimas aparições em público.

Frida sentia que iria partir em breve, então escreveu no seu diário: “Espero que a partida seja alegre. E espero nunca mais voltar”.

Frida Kahlo terminou o seu último trabalho 8 dias antes de morrer. A artista morreu de pneumonia em 1954 na mesma casa em que nasceu.
Em 1955 sua casa foi transformada em um museu que é até hoje.

Durante toda sua vida ela completou mais de 150 obras. Filmes foram feitos sobre ela, o mais recente foi Frida estrelado por Salma Hayek.

O legado dessa mulher incrivelmente forte vive até hoje.

Links úteis

Abaixo alguns links caso você queira saber sobre a história de Frida Kahlo:

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Thais Nunes
Aquieta a Mente

A doida das energias, com um monte de planta em casa, duas gatas e dois dogs. 30 anos, desenvolvedora Front-end. Um verdadeiro amorzinho em forma de canceriana.