A produção de raças em laboratórios: uma evolução ou um retrocesso?

Caroline Andreoli
Arquivo 11
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6 min readNov 23, 2018

Muitas raças surgiram naturalmente a partir da miscigenação de vários animais e da seleção artificial, como é o caso dos cachorros. Porém, o homem também contribuiu com esse processo realizando cruzamentos planejados e selecionando gerações de filhotes até chegar a novos cachorros. A interferência humana nas linhagens caninas não surgiu nos últimos séculos. “Há milhares de anos, os homens perceberam que os cães poderiam ser úteis no dia-a-dia, ajudando na caça e no pastoreio. Com o passar do tempo, passaram a selecionar os melhores animais para essas respectivas funções”, afirma Sheila Teixeira, bióloga, zoóloga e mestranda em veterinária.

Animais de raça pura foram criados pelos homens conforme a necessidade de tais para determinada raça, criando manipulações especiais elaboradas. Essas alterações nos cachorros são desenvolvidas principalmente com o intuito de agradar e conquistar novos compradores, tudo em busca de “exemplares perfeitos”. A dúvida que surge é sobre se as modificações são saudáveis para os animais e se essa prática leva em consideração a saúde dos animais.

“Para criar uma raça, o interessado pesquisa as principais características de certos cães, escolhe os que melhor podem passar tais características para os filhotes e tenta o cruzamento. Isso não é fácil e requer muitos anos de estudo, pesquisa e experimentos”, afirma Sheila. Para desenvolver o boxer no século 19, por exemplo, foi usado um cão forte e com a mandíbula saliente, que tinha grande facilidade para abocanhar o focinho de outros animais. Por volta de 1830, criadores cruzaram essa raça com um buldogue inglês e os melhores filhotes, ou seja, os mais parecidos com o atual boxer, foram usados para dar continuidade ao desenvolvimento da nova raça.

De acordo com o site Dog Behavior Science, algumas raças passaram por transformações absurdas ao longo dos anos. Na pesquisa realizada em 2015, o site traçou um comparativo entre as características de animais de mesma raça em épocas diferentes. A seguir você acompanha imagens comparativas: os cães da esquerda são do livro Raças de Todas as Nações de 1915, já os da direita são as versões modernas desses mesmos animais. Além de notar a diferença, você ainda pode ler sobre como essas mudanças afetaram a saúde dos pets.

1. Bull Terrier

Fotos: Reprodução/ Dog Behavior Science

Os animais dessa raça foram adaptados, ao longo dos anos, para apresentarem um crânio grande e abdômen avantajado. Antes possuíam um corpo atlético e saudável, atualmente são conhecidos por outras características consequentes destas transformações. O bull terrier contemporâneo possui problemas dentários, principalmente no que se refere a quantidade superior ao considerado normal de dentes e perseguição compulsiva da cauda.

2. Basset

Visivelmente mais baixos, com mais pele e orelhas bem maiores, os cães Basset atuais pagam com a saúde o preço decorrente de modificações feitas em seus organismos. Por essas transformações, esses cães apresentam problemas de vértebras, olhos muito caídos e, por isso, são predispostos a desenvolverem uma doença em que a pálpebra vira-se contra si mesma, chamada de entrópio. Além disto, a raça perdeu estatura, sofreu alterações em sua estrutura das pernas de trás e orelhas muito grandes.

3. Boxer

Atualmente, o maior problema que essa raça enfrenta é a dificuldade de controlar a temperatura corporal através da respiração. Esta complexidade é decorrente das transformações que o Boxer passou até possuir as características físicas que hoje possuem, principalmente com relação ao seu focinho que ficou mais achatado e arrebitado. Para ganhar uma cabeça “mais agradável” o Boxer desenvolveu uma série de problemas. O Boxer moderno não tem apenas um rosto mais curto, mas o focinho é ligeiramente arrebitado, além de possuir as maiores taxas de câncer.

4. Buldogue Inglês

Devido mudanças no organismo, esta raça não é nada saudável, pois apresenta diversas doenças e até o acasalamento e o parto são momentos difíceis para estes animais. O Bull Dog atual representa todos os problemas que um cão fantasia pode ter. Eles sofrem de quase todas as doenças possíveis. Uma pesquisa indica que os cães desta raça vivem no máximo até os 6,25 anos. Não é uma raça saudável, suas proporções exageradas torna o acasalamento muito dificultado e requer sempre uma intervenção médica para o parto.

5. Dachshund

Antigamente, o Dachshund tinha pernas mais funcionais e o pescoço era proporcional ao seu tamanho. Atualmente as costas e o pescoço são muito mais longos, o peito se projeta para frente e as pernas encolheram a tais proporções que não há quase nenhum espaço livre entre o corpo e no chão. Todas essas mudanças físicas atribuem à saúde do famoso cão “salsichinha”, a possibilidade de desenvolver problemas nas vértebras e outras patologias que afetam a locomoção além de serem mais propensos a patologias relacionadas Acondroplasia (má formação das cartilagens) e problemas nas pernas.

6. Pastor Alemão

O pastor alemão é considerado um dos cães que mais perdeu sua identidade física durante os anos. Em 1915 era considerado um cão de médio porte, pesando, no máximo, 25 kg. Atualmente esses animais estão mais pesados, chegando aos 38 kg. O peito agora é projetado para trás e esses animais acabam apresentando diversos problemas ósseos.

7. Pug

Dificuldade em manter a temperatura corporal equilibrada, dermatite, distúrbios respiratórios, problemas na dentição e cardíacos. Estes são algumas das consequências que os cães da raça pug enfrentam devido as transformações nos seus organismos. Fisicamente, os pets perderam estatura e o rabinho enrolado — considerado o charme desses peludos — que é na verdade um problema genético, que em situações mais graves pode causar paralisia no animal.

8. São Bernardo

Muito mais peludo, pesado e com excesso de pele. O são bernardo mudou muito de 1915 para os dias atuais. É um cão que também possui dificuldade de manter a temperatura corporal, tendo em vista que seu focinho foi com o tempo sendo achatado. Além disso, tem tendência a apresentar doenças como o entrópio, paralisia, câncer nos ossos, hemofilia, ectrópio e deficiência de fibrinogênio.

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