Herdeiras do Mar, Mary Lynn Bracht

Alex Mendes
Reticências
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3 min readApr 23, 2021

O 1º livro da autora traz ao mundo as histórias trágicas de mulheres que sofreram com o abuso sexual durante as guerras no oriente

Luciano Candisani

A sinopse de Herdeiras do Mar foi suficiente para aguçar minha curiosidade e me alertar de que a leitura seria maravilhosa, porém, trágica. Usando como pano de fundo a II Guerra Mundial e a Guerra da Coréia, a narrativa exige muita empatia e maturidade do leitor para as diversas cenas explícitas de abusos, as quais as mulheres coreanas foram submetidas durante este período.

Contado em duas linhas temporais, a narrativa intercala os capítulos sobre as irmãs Hana e Emi. Nascidas na ilha de Jeju, ao sul da Coréia do Sul, elas foram criadas para serem haenyeos, mulheres do mar que podem ficar até 5 horas seguidas na água. As haenyeos mergulham até 10 metros de profundidade com o ar dos próprios pulmões em busca de alimentos que possam ser vendidos localmente. Isto garante a subsistência de seus lares e perpetua esta tradição milenar.

Dentro de um cenário de guerra, a autora de ascendência coreana traz à tona a vida de milhares de mulheres que foram sequestradas de suas comunidades, transformadas em mulheres de consolo e disponibilizadas ao serviço dos soldados japoneses. O leitor acompanhará descrições objetivas dos constantes estupros e espancamentos de Hana e de outras moças, muitas delas ainda crianças.

Não existe a mínima possibilidade de ler este livro e não criar laços com as personagens. Quando mergulhamos na narrativa, somos completamente tomados pelo peso de tais histórias, como se o leitor se sentisse culpado por sua passividade. Entre o presente e o passado, além de refletirmos sobre a sororidade, descobrimos a força das promessas e o quão dolorido pode ser honrá-las. O amor fraternal e a tradição familiar alimentam o instinto de Hana contra a violência, a fome e até contra sua própria desistência, natural e compreensível no enredo.

Sendo seu livro de estreia, Mary Lynn Bracht se apoia nos momentos históricos e constrói, a partir daí, um enredo poético, mas realista, que tange milhares de vidas escravizadas em nome da guerra. Parafraseando a narrativa, Herdeiras do Mar é um livro-monumento em nome da paz e da libertação das memórias das mulheres de consolo. É um legado vivo e constante do “estupro não apenas de mulheres e meninas coreanas, mas de todas as mulheres e meninas ao redor do planeta”.

Saiba mais sobre as haenyeos:

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.