34. campeonato de panforte

Carolina Bataier
Piranhas
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3 min readSep 8, 2021

passei o primeiro mês do ano entre chás, bares e meditações. leo vê equilíbrio nisso, eu acho que concordo com ele. faz uns dias, nos despedimos no aeroporto. ele, agora, está na índia. mandou fotos da chegada: duas vacas passeando na areia da praia.

vacas numa praia de céu nublado numa tarde indiana. senti vontade de estar lá, sabe, acho que é esta a energia que me move: o desejo de ver bem de pertinho as coisas mais incríveis do mundo.

por isso, tenho acordado cedo todas as manhãs. abro a janela do quarto e observo as pontas das montanhas, branquinhas de neve. pelos próximos dias, serei cuidadora de dois labradores numa casa ao pé de um vilarejo, a alguns quilômetros de lucca. tô na itália, amore mio!

tem sido muito bonito.

levo os bichos para passear, cuido das plantas e tenho o resto do dia livre. meus anfitriões, johanna e lloyd, são um casal de professores aposentados que bebem vinho todas as noites e nos contam histórias de viagens, dos filhos, da vila e de como vieram parar nesta casa imensa no alto das montanhas. se, cinco anos atrás, me perguntassem onde eu estaria agora, poderia fazer uma lista de situações e nenhuma delas seria esta. e acho que esta é a melhor delas.

além de mim, um casal passando uma temporada por aqui. antony e diego são venezuelanos, vivem na europa faz três anos. eles cortam lenha pelas manhãs para o aquecimento da casa. à tarde, se juntam a mim nos passeios até a vila. a gente senta perto da igreja e fica esperando baterem os sinos. johanna me contou que existem muitos desses lugares na toscana. alguns, são vilarejos abandonadas e estão à venda. aqui, ainda há moradores.

ontem, ficamos lá até anoitecer.

num bar, o único dali e que é também mercearia, uma taça de vinho custa dois euros. estava cheio de moradores e nós tivemos o privilégio de assistir a uma disputa de arremesso de panforte, óbvio que você nunca ouviu falar. é nada menos do que o jogo mais maluco que já vi na vida.

imagina um bolo compacto, com nozes e frutinhas: eis o panforte. o desafio é arremessá-lo dum canto ao outro de uma mesa comprida. ganha o arremessador que fez o bolo deslizar mais longe. tem que chegar perto da borda, não pode deixar cair. depois da segunda taça de vinho, eu já tinha escolhido meu jogador favorito.

na quarta taça, me juntei à torcida. descobri que eles estão treinando para o campeonato de fim de ano. um campeonato de arremesso de bolo! o mundo é cheio de coisas fantásticas, você não acha?

os dias com leo e as surpresas desta vidinha pacata vieram na melhor hora. ontem, kiara escreveu cancelando nosso encontro. eu estava com tudo planejado para uma semana de romance em roma, haha. ela deu poucas explicações, eu coloquei em prática minha resiliência. dizem que a noite de roma é linda e isso eu não perco por nada.

desculpa o atraso, espero que seus dias de verão estejam deliciosos. aguardo notícias boas.

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CAPÍTULO 35

Este texto faz parte da história “O mundo é pequeno para quem é piranha”. Clique aqui para ler o primeiro capítulo.

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