Cemitério de Consoles | 3DO (1993): o concorrente indigno ao PlayStation
Dependente, não competitivo e prejudicado por políticas empresariais, o 3DO teve tudo para fracassar.
Esta é a sétima edição da nossa série Cemitério de Consoles, onde abordamos videogames que não deram certo e que foram considerados um fracasso do ponto de vista comercial e, às vezes, até da comunidade em si. O escolhido do dia é o 3DO Interactive Multiplayer, comumente chamado apenas de 3DO. Foi lançado pela The 3DO Company em outubro de 1993 nas Américas e em 1994 no Japão e na Europa.
O sistema é considerado por muitos como o primeiro console 32-bits, tendo sido lançado um pouco antes de seu principal concorrente, o PlayStation (1994). Por conta do lançamento ter sido anterior à grande potência que viria a ser o console da Sony, o 3DO teve vendas significativas no primeiros meses, porém, com a chegada do já mencionado PlayStation e de outros consoles 32-bits, como o Sega Saturn, as vendas caíram exponencialmente.
Totalmente dependente
O 3DO era equipado com um processador RISC de modelo ARM60, tinha 2 Megabytes de DRAM e utilizava um drive de CD-ROM. Possuía quase total compatibilidade de produtos e jogos, independente do modelo utilizado, sendo possível utilizar um console japonês para jogar um game americano e vice-versa.
A fabricação do console ficava por conta de empresas associadas à 3DO Company, que compravam os direitos para produzir o equipamento, seguindo as especificações estabelecidas. Entre essas companhias estavam a Samsung, a LG, a Toshiba e a Panasonic, sendo a última a mais famosa entre todas na produção do console.
Embora tenha sido um dos primeiros console 32-bits e tenha sido anunciado como “um grande salto tecnológico” para os videogames da época, o 3DO dependia muito de outras empresas para ir para frente. A 3DO Company não tinha recursos para produção dos próprios consoles e jogos, recorrendo para que outras fizessem esse trabalho. Até o planejamento de hardware do console não foi decidido pela empresa em si, mas sim pelo planejadores do Commodore Amiga e do Atari Lynx.
Com essa dependência, o 3DO ficava limitado à vontade de firmas como a Panasonic, por exemplo, que optou por fazer uma primeira remessa pequena em 1993, mandando cerca de 5 consoles para cada loja. Caso tivesse sido enviada uma maior remessa ao mercado, talvez o 3DO mantivesse seu “boom” de vendas por mais tempo.
Em contrapartida, as empresas desenvolvedoras de jogos viam uma ampla vantagem em produzir para o 3DO, visto que a porcentagem retirada pela companhia era muito mais modesta do que a retirada pela Nintendo. Ainda assim, o constante desejo da 3DO Company em mudar o hardware do console e suas exigências frequentes feitas às produtoras parceiras fizeram com que desenvolvedores desistissem do console quando seus competidores foram lançados, em 1995.
Ascensão e queda
Sendo vendido como um dos aparelhos mais modernos do momento, o 3DO atraiu muitos consumidores nos primeiros meses de lançamento, mesmo tendo sido lançado por absurdos $699. Esse preço totalmente descomunal teve como principal razão a política de dependência da 3DO e a necessidade de todos os investimentos feitos serem recompensados.
A queda de preço não demorou muito para acontecer e em pouco tempo os jogadores perceberam que o console não era uma ideia tão boa assim. Com o preço inicial abusivo, o mercado já não acreditava mais em promessas falhas da companhia, que chegou a anunciar 20 novos títulos em 12 meses, mas que não segurava as vendas mínimas calculadas por mês e não controlava os gastos e recebimentos de seus parceiros.
Sem forças para competir
Logo em 1994/1995 o mundo conheceu o PlayStation, primeiro grande sucesso de consoles da Sony. Lançado a um preço muito mais justo ($299), o PS1 bateu de frente com o 3DO, que já enfrentava uma baixa nas vendas. O console perdeu ainda mais força quando o Sega Saturn entrou na briga, não podendo dar conta de 2 competidores que também utilizavam da tecnologia CD-ROM e 32-bits. A quantidade de licenças e as burocracias para o hardware eram tantas que culminariam no fim do console logo em 1996.
Digamos que antes de ter seu cruel desfecho, o 3DO adquiriu uma fama peculiar. Ficou conhecido, principalmente no Japão, como “o console pornográfico”, pois ao poder receber produtos de qualquer empresa, ramos da pornografia reproduziram muitas produções em CD-ROM no console. Essas eram aceitas em tentativas desesperadas da 3DO Company de sair daquela situação, ou por descuido com o produto mesmo.
Ainda em 1995, foi anunciado um sucessor para o 3DO, chamado de M2. Inicialmente anunciado como um acessório adicional para o 3DO, transformou-se em um projeto de console que nunca foi concretizado, tendo sido cancelado juntamente com o próprio protagonista, também em 1996.
Podemos então afirmar que, ser um dos primeiros consoles 32-bits não ajuda muito para o sucesso quando o sistema se encaixa nas seguintes situações:
→ Comercializado a um preço abusivo de $699, tendo queda inútil pouco tempo depois;
→ Alta dependência de outras empresas, tanto para sua manufatura, quanto para a produção de produtos para o mesmo (especialmente games);
→ Competiu com consoles melhores arquitetados e mais competitivos no mercado, sendo derrotado pelo Sega Saturn e pelo PlayStation;
→ Vulgarizou seu filtro de conteúdo, reproduzindo filmes pornográficos e prejudicando suas vendas ainda mais por causa disso.
A próxima edição do Cemitério de Consoles abordará o sistema comercializado como o primeiro videogame 64-bits do mercado e também lançado em 1993: o Atari Jaguar. Curta a página do Aventurine Brasil no Facebook e não perca a história do console, que envolveu até um acordo milionário com a IBM.