Análise | Xenoblade Chronicles 2: Torna ~ The Golden Country (Switch)

O resultado de quando desenvolvedores escutam o feedback de jogadores e criam uma experiência ainda mais completa.

Guilherme Dias
Aventurine Brasil
10 min readJan 18, 2019

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Art © by Nintendo

Servindo de complemento para a história de Xenoblade Chronicles 2, Torna ~ The Golden Country foi desenvolvido pela Monolith Soft e publicado pela Nintendo em 14 de setembro de 2018. Torna inicialmente seria apresentada como parte da campanha de Xenoblade Chronicles 2, porém a ideia foi arquivada pela empresa que sabia que o processo causaria um aumento no custo de produção e no tempo de desenvolvimento do jogo.

Após o sucesso do título principal, a Monolith Soft resolveu que seria uma boa ideia lançar este conteúdo como uma expansão que serviria de prequel para Xenoblade Chronicles 2, se passando 500 anos antes do enredo da campanha comum. O conteúdo é exclusivo de Nintendo Switch (via Nintendo eShop) e pode ser adquirido tanto como uma expansão para o título principal (através do Season Pass) quanto um jogo standalone.

O título não conta com localização para o Português Brasileiro.
Não há suporte para multiplayer local e/ou online.
Esta análise contém spoilers leves.

Enredo

Alrest: um local de guerras e conflitos, onde titãs desapareciam a todo momento e afundavam no mar de nuvens. No centro desta destruição estava Malos, o Aegis, que inicialmente era controlado por Idol, um Titã em que a religião era a principal razão da força daqueles que o governavam. Malos era visto como juiz e representante do Architect, o criador do mundo de Alrest.

Alguns anos se passam e Malos não se encontra mais sob o controle de Idol; agora ele destrói o que bem entende puramente pelo desejo de ver o fim daqueles que vivem neste mundo.

É diante destes componentes de worldbuilding que nossos protagonistas são apresentados: Lora é uma mercenária e uma Driver de olhos dourados. Jin é o Blade da protagonista e a acompanha desde a sua infância. Em meio a uma vila completamente devastada por bandidos, a dupla encontra Mikhail, um jovem garoto sobrevivente.

Jin (deuteragonista) e Lora, a protagonista do título.

Diante da morte de todos seus conhecidos, Mikhail se junta a Lora e o grupo parte à procura de Haze, o outro Blade de Lora. Ao chegarem ao seu destino, Feltley Village, são surpreendidos com a descoberta de que o local foi aniquilado. Dessa vez, a destruição foi causada por Malos, o responsável por destruir vários Titãs e exterminar várias vidas.

Durante a sua investigação para tentar compreender melhor o acontecimento, Lora e Jin são atacados por uma Artifice Gargoyle, máquina participante de uma facção controlada por Malos com um único objetivo: destruir. Ao longo do fatídico combate, os protagonistas são salvos por rostos familiares para aqueles que jogaram Xenoblade Chronicles 2: a Blade lendária Mythra e seu driver Addam.

Em Torna ~ The Golden Country, Addam assume o papel de tritagonista.

Após serem salvos, Addam revela pertencer ao reino de Torna, o que causa problemas para Lora e Jin, pois inicialmente Jin era um dos mais poderosos Blades de Torna. Assim se inicia um conflito entre Jin, Lora, Mythra e Addam. Mythra e Addam então são surpreendidos pela maneira que Lora e Jin lutam. Em virtude do tempo em que eles estão juntos e as circunstâncias pelas quais eles passaram, Jin e Lora possuem uma interação única durante o combate que permite a eles criar novas táticas, confundindo e criando aberturas em seus adversários”

Impressionado com a habilidade de ambos, Addam termina o combate com gargalhadas e revela sua verdadeira identidade: Addam Origo, príncipe do reino de Torna. Logo após a batalha, eles reencontram Haze (o Blade qual Lora estava procurando) junto de um rapaz de nome Milton, que acompanhava Addam.

É neste cenário de acontecimentos que a batalha contra Malos, pelo grupo de guerreiros lendários e sua jornada trágica tem início. Uma história sobre o sacrifício e as dificuldades encontradas por eles e quais suas consequências para o mundo 500 anos no futuro, onde Rex, o protagonista de Xenoblade Chronicles 2, pudesse terminar este fatídico encontro de destinos entre Drivers, Blades e Aegis.

Gameplay

Torna ~ The Golden Country apresenta vários elementos em comum à exploração de Xenoblade Chronicles 2. Em ambos os jogos, o jogador tem a liberdade para explorar os mapas praticamente por inteiro ao alcançá-los, exceto é claro por áreas que só podem ser acessadas quando certa tarefa ou objetivo é concluído, ou locais em que é necessário utilizar-se das habilidades dos Blades pertencentes ao grupo para progredir.

O número de titãs a serem explorados foi reduzido para dois, Gormott e Torna, mas não se deixe enganar: ambos são extensos e cheio de segredos, criaturas e chefes para o jogador descobrir, explorar e batalhar. Em conjunto dos extensos mapas, o jogador possui a opção de viajar para locais e pontos de interesse já descobertos de maneira mais rápida, facilitando a jornada pelos vastos titãs.

Outro ponto muito importante e uma diferença entre ambos os jogos é que, em Torna, o jogador pode encontrar acampamentos pelo mundo, utilizados para uma infinidade de tarefas. Entre elas: descansar e evoluir personagens, participar de interações entre os membros do grupo para aprender mais sobre eles (contribuindo para a aproximação do jogador de cada um deles), além de poder utilizar as habilidades únicas de cada integrante do grupo para criar diferentes itens, como comidas, talismãs, Pouch Itens (consumíveis) e outros auxílios à exploração do jogador.

As comunidades, familiares aos habituados com a franquia Xenoblade, estão de volta, o que acabou causando resposta mista dos jogadores. Agora, toda vez que o jogador completa uma sidequest, ele recebe alguém em sua comunidade, que pode ser o NPC ou o grupo de NPCs pertencentes à quest.

O que gerou controvérsia foi que, em alguns momentos da história, torna-se obrigatório completar sidequests para melhorar o nível de sua comunidade e, apenas assim, progredir a história principal. Essa mudança tornou algumas quests que seriam opcionais em obrigatórias. Aqueles que não se importam em ter a história principal interrompida por estas obrigatoriedades provavelmente não irão se sentir incomodados com a mudança, mas o mesmo nem sempre pode ser dito para quem deseja experienciar apenas a história principal.

“Truque barato? Isto é chamado tática…”

O combate é onde se encontra a maior gama de diferenças entre o título principal e Torna. Blades agora não podem ser encontrados pelo mundo e nem mesmo chamados por Core Crystal. Agora os integrantes pertencentes ao grupo são pré-definidos, contendo no total três Drivers sendo que cada um possui dois Blades que são fixos em seu grupo como, por exemplo, Lora que possui Jin e Haze.

Pensando desta forma, é fácil acreditar que o combate tenha se tornado mais fácil, menos tático e menos criativo, contudo, isto não foi o que aconteceu. O combate se tornou mais rápido e dinâmico em comparação ao título principal, e algumas mecânicas foram simplificadas de forma a facilitar a compreensão do jogador sobre o que está acontecendo.

Mesmo que os elementos dos Blades tenham se tornado fixos, o jogador possui agora a opção de trocar a arma dos Drivers, melhorando seu ataque e modificando seu elemento. Outras mecânicas que eram apenas acessadas a partir do momento em que o jogador utilizava uma Art, como Break, Topple, Launch e Smash, agora foram modificadas, criando um novo universo de estratégias, o que produziu uma grande diferença entre os combates de ambos os jogos.

Quando paramos para analisar o combate de Xenoblade Chronicles 2 em comparação ao de Torna, conseguimos identificar certo desperdício de potencial: haviam Drivers utilizando Arts, a troca entre 3 diferentes Blades conforme elemento e arma utilizada e os Blades estacionados atrás deles e sendo utilizados apenas em ataques elementais.

Agora, Drivers possuem suas próprias armas que podem ter o seu elemento modificado como dito anteriormente e os Blades também seguem esta mesma regra. Com isso, o combate se tornou mais dinâmico devido a troca rápida entre atacantes, sejam eles Drivers ou Blades, o que não acontecia anteriormente. Agora, por exemplo, se o jogador desejar é possível controlar Mythra durante o combate e ela irá possuir suas próprias Arts e ataques elementais. E não somente isso: agora o personagem que está na retaguarda possui Arts de retaguarda, que não pode ser controlada pelo jogador, mas auxiliam e muito no combate.

Estas trocas auxiliam não somente na troca de elementos, mas também para fazerem mecânicas anteriormente citadas como Break se ativarem e para a recuperação da vida perdida por certo personagem quando esta troca acontece, favorecendo o combate e a longevidade do seu grupo.

Por fim, cada personagem também possui uma Talent Art que pode ser ativada durante a batalha ajudando no combate. Mas não se engane: elas podem ajudar no combate, porém algumas delas necessitam de sacrifícios por parte do jogador para serem ativadas. Um exemplo: para certa Talent Art ser ativada o jogador precisa desistir de sua vida recuperável, fazendo com que, durante uma troca os jogadores, não mais recuperem a vida perdida.

Combos elementais, que eram antes utilizados para causar uma maior quantidade de dano ao inimigo ainda estão presentes, porém de forma simplificada. O jogador não necessita mais conectar exatamente apenas os elementos corretos para que o combo continue; em Torna, o jogador pode conectar quaisquer elementos, criando ao final uma orb elemental que é utilizada durante o ataque em equipe. No entanto, se o jogador utilizar da correta ordem elemental, seu ataque causará mais dano ao adversário.

Complexidade

As mecânicas, o combate e a exploração do mundo de Torna ~ The Golden Country são mais amigáveis aos novos jogadores. Porém, o tutorial ainda clama por melhoramento. Ainda que o jogo ensine as mecânicas básicas de batalha, existem algumas mais complexas e os grandes textos que aparecem na tela cada vez que algo novo é liberado ou demonstrado ao jogador ainda fazem parte do jogo. Felizmente, dessa vez existe a possibilidade de acessar cada explicação pelo menu, o que não acontecia em Xenoblade Chronicles 2.

As customizações ainda são complexas, ou melhor dizendo, existem uma infinidade de atitudes que o jogador pode tomar para aprimorar os personagens. Para os Blades, os Aux Cores, que tem como objetivo uma melhora em algo específico, ainda estão presentes, tal como os Chips que causam um aumento no poder das armas dos Blades e, em alguns casos, garantem a eles algum tipo de bônus.

Os Affinity Charts servem como uma melhoria global de suas habilidades e poder de ataque, porém, diferente dos Drivers que apenas necessitam distribuir pontos que são recebidos durante batalhas, Blades necessitam de um certo trabalho extra por parte do jogador para que esta melhoria ocorra. Isto é, cada parte de seu chart necessita que alguma tarefa específica seja cumprida, tarefas estas que podem variar entre comer a comida favorita do Blade, derrotar algum monstro ou presenciar certo evento.

Audiovisual

Devido a nova engine utilizada, o jogo é visualmente mais limpo e possui texturas melhor trabalhadas que não causam grandes impactos no desempenho do jogo. O mesmo pode ser dito para as animações, sejam elas composições de cutscenes ou parte da batalha. Os movimentos se encontram limpos, fluidos e bem executados coreograficamente.

Em relação às vozes dos personagens, mais uma vez, a dublagem em Inglês passa uma falsa sensação de maturidade de certos personagens, mesmo que este não seja o caso. Isto é, as vozes não combinam tanto com a personalidade e maneira de agir de cada personagem. Felizmente a oportunidade de selecionar as vozes originais em Japonês (que transmitem melhor representatividade de cada personagem) permanece disponível para os interessados. Dito isto, o voice acting de ambos os títulos possui seus altos e baixos e, como dito anteriormente, trata-se de uma escolha que deve ser feita com base da preferência do jogador.

Para completar o fator audiovisual e tornar a ambientação do título ainda mais bela e marcante, a trilha sonora mais uma vez veio para mostrar a todos do que ela é capaz. Os compositores Yasunori Mitsuda, ACE, Kenji Hiramatsu e Manami Kiyota não pouparam esforços, produzindo mais uma vez umas das melhores trilhas sonoras de RPGs que podem ser encontradas.

Desempenho

O desempenho certamente foi melhorado, a resolução do jogo ainda não é a melhor, mas graças à troca de engine, o jogo possui uma renderização e visual aprimorado sem comprometer resolução. As quedas de frames ainda ocorrem em algumas cutscenes mas, no geral, são é bem menos frequentes, melhoria que torna a experiência mais tecnicamente mais agradável.

Quando jogado no modo portátil, o desempenho se mantém praticamente o mesmo, porém a resolução é inferior à disponível no modo dock.

Análise | Xenoblade Chronicles 2: Torna ~ The Golden Country (Nintendo Switch)

O lançamento de Xenoblade Chronicles 2 serviu aos jogadores de experiência única. Felizmente, o mesmo pode ser dito de Torna ~ The Golden Country. Para aqueles que já estão familiarizados com a história de Rex e seu companheiros, Torna será uma aventura que expandirá ainda mais este universo.

E para aqueles que pretendem iniciar sua aventura por este conteúdo adicional, não irão sentir como se estivessem sendo deixados de lado, pois o jogo possui sua própria narrativa. O jogo não pressupõe que o jogador possua conhecimento prévio sobre os aspectos do jogo, possibilitando ao jogador explorar este mundo e suas possibilidades na ordem que quiser.

Torna ~ The Golden Country é uma aventura trágica, porém não deixa de possuir momentos únicos, engraçados e capazes de emocionar o jogador.

Avaliação do jogo segundo o autor da análise: 9/10 — Ótimo
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio autor.

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