Cemitério de Consoles | Atari 5200 (1982): um substituto desnecessário ao Atari 2600
O console assolado por títulos reaproveitados em hardware superior e imperfeições tão irritantes quanto simples.
Chegamos ao primeiro texto da série Cemitério de Consoles, na qual o Aventurine aborda ao longo de outubro consoles descontinuados antes do planejado e/ou que deixaram cicatrizes e lições em suas desenvolvedoras. Lançado em 1982, o Atari 5200 SuperSystem (comumente conhecido por Atari 5200) é o protagonista do Cemitério de Consoles de hoje.
Com um planejamento que ainda pode ser visto em algumas situações nos dias de hoje (como em versões alternativas desnecessárias de consoles), o Atari 5200 foi fruto de uma fome de vendas que acabou marcada como o início da queda da grande corporação francesa de videogames. A série começa à beira do crash de 1983, quando o dizer “If your dealer is sold out, keep trying! We’re making them as fast as we can.” (Se sua loja mais próxima estiver esgotada, continue tentando! Estamos produzindo o mais rápido que podemos.) em um dos comerciais do console era só um dos sinais de um mercado descuidado.
Um videogame de adaptações
O Atari 5200 SuperSystem foi introduzido ao mercado pela Atari em 1982 como uma versão mais potente do Atari 2600, assim como ocorre atualmente com consoles como o New Nintendo 3DS, o PlayStation 4 Pro e o Xbox One X. O hardware do console (que assim como o seu design era praticamente idêntico ao dos computadores 8-bits da Atari apesar da incompatibilidade de software) era um avanço em relação ao Atari 2600 e tinha em mente que hardwares como o do 2600 se tornariam obsoletos em torno de 1980.
Outra novidade oferecida pelo Atari 5200 era a disponibilidade de quatro entradas para controles em vezde duas (padrão comum da época) e um novo design de controle. O controle era composto por dois botões em cada lado do controle, um teclado numérico, três botões de função (Start, Pause e Reset) e um joystick analógico em vez de direcional. O console também foi o primeiro a utilizar a tecnologia automatic TV switchbox, que trocava automaticamente da TV para a entrada do console quando o sistema era ligado.
Durante a sua fase de protótipo, o Atari 5200 era denominado Atari Video System X — Advanced Video Computer System e carregava o codinome “Pam” (supostamente Personal Arcade Machine, em Português Máquina Pessoal de Fliperama). Apesar de ter sido criado para competir com o Intellivision, o 5200 acabou competindo com o ColecoVision, introduzido ao mercado também em 1982.
O Atari 5200 contava com adaptações de jogos de fliperama e versões aprimoradas de jogos do Atari 2600. Os cartuchos do Atari 2600 funcionariam no 5200 através do uso de um adaptador, que não havia sido disponibilizado juntamente ao lançamento do console. Em certo ponto após o lançamento do 5200, a Atari planejava o lançamento de uma versão de custos reduzidos do console, denominada de Atari 5200 Jr. (codinome Atari 5100/Little Pam), mas o projeto foi cancelado e somente alguns protótipos funcionais foram criados.
Em 1983, a Atari finalmente lançou o adaptador e também uma versão nova do Atari 5200, cometendo várias alterações. O console passou a ter só duas entradas para controle em vez de quatro, além da troca por uma fonte de alimentação mais convencional e a remoção do automatic TV switchbox.
Porém, o lançamento do adaptador veio com uma surpresa desagradável: apesar de ter sido anunciado desde o primeiro modelo do Atari 5200, somente a nova versão era compatível ao adaptador. Houveram algumas unidades (identificadas por um asterisco no número serial) que tinham tanto quatro entradas para controles quanto o suporte ao adaptador, mas elas são relativamente raras e no geral a comercialização do console acabou mais bagunçada do que deveria ser.
(Des)controle
A estrutura do controle do Atari 5200 era baseada em um mecanismo provindo de kits de controle de avião de controle remoto. Apesar de apresentar inovações como a alavanca analógica (que permitia movimentações horizontais), a maioria delas não funcionavam direito e o material do controle era de baixa qualidade.
A combinação de um controle complexo com um material barato ocasionava inúmeras imprecisões, e a única novidade que realmente chamava a atenção era o botão Pause. Algumas alternativas ao controle foram desenvolvidas por terceiras, como pela Wico. Uma versão aprimorada do controle original chegou a ser oficialmente, mas nunca foi comercializada.
Houveram também controles alternativos oficiais como o Pro-Line Trak-Ball, usado principalmente para jogos no estilo Centipede e Missile Command. Voltando ao controle padrão, os jogos vinham com uma placa de plástico que podia ser inserida no teclado numérico, funcionando de manual e indicando os controles do título. O controle padrão já foi considerado um dos piores até a atualidade diversas vezes.
Muito motor para pouca gasolina
Apesar de ter gráficos melhores do que o do Atari 2600 e do Intellivision, o fato dos jogos do 2600 não funcionarem no 5200 desde o seu lançamento machucaram significativamente as suas vendas. Para piorar a situação, um adaptador dos jogos do Atari 2600 foi lançado para o Intellivision 2, enquanto a Atari continuava a desenvolver jogos para o mercado saturado do 2600 em vez de desenvolver jogos novos e/ou exclusivos ao Atari 5200. Mesmo as versões aprimoradas dos jogos do 2600 não faziam bom uso do hardware e não mostravam do que o 5200 era capaz, além de que muitas das adaptações de fliperama também não entregavam uma experiência muito fiel.
Um fator muito agravante ao Atari 5200 foi o quão desinteressante ele era para quem já tinha tinha o Atari 2600; A insistência da Atari no 2600 fazia com que o Atari 5200 se tornasse cada vez menos interessante. O controle, por sua vez, acabou sendo um retrocesso em vez de uma evolução, e a confusão com o suporte ao adaptador para jogos de Atari 2600 foi mais um motivo para não adquirir o console. Tratava-se especialmente de uma versão do Atari 2600 com hardware mais potente, mas que o desperdiçava explorando jogos antigos e que já estavam disponíveis em consoles anteriores.
Em maio de 1984, a introdução do Atari 7800 em uma conferência foi acompanhada da descontinuação do Atari 5200. O console vendeu cerca de somente um milhão de unidades, e seu antecessor, o Atari 2600, continuou no mercado até 1992. Podemos dizer que a recepção do Atari 5200 foi deteriorada principalmente pelos seguintes pontos:
→ Super saturação do Atari 2600;
→ Preço que não contribuía para que o consumidor relevasse os pontos negativos do console (Atari 2600 custava cerca de 200 dólares, enquanto o 5200 era vendido por 270 dólares);
→ Falta de títulos novos e adaptações insatisfatórias de jogos de fliperama;
→ Comercialização confusa (muitos modelos e adaptador de cartuchos que demorou para chegar ao mercado);
→ Controle inovador demais para materiais com pouco investimento;
→ Baixo aproveitamento do hardware disponibilizado.
Hoje, encontrar um Atari 5200 no Brasil não é uma tarefa muito fácil e mesmo no mercado estrangeiro (como pelo eBay) não existem muitas unidades apesar do preço não ser tão alto. Apesar de ter sido um dos primeiros sinais das consequências da saturação do mercado que levaria ao crash de 1983 e um tropeço sério da Atari, o Atari 5200 não seria o último videogame da corporação a entrar no Cemitério de Consoles.
O console do próximo texto da série é o Atari Lynx, o primeiro portátil a apresentar tela colorida. Não deixe de acompanhar a série e conferir o que levou o segundo portátil da Atari ao Cemitério de Consoles. Curtindo a página do Aventurine Brasil no Facebook, você assegura o acompanhamento e recebe nossos novos textos em seu feed de notícias.
